sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

30º Capítulo: Happy Birthday Lover (Parte I)



   * 27 de Janeiro *

 Toda a conversa com Maria ainda estava demasiado fresca, continuava a dar voltas à cabeça sobre o que Bernardo poderia estar a preparar… “Isto não fica por aqui. Ainda me hás-de procurar”, dissera depois de me tentar beijar. Bem, mas isto teria de ficar para depois, pois hoje era um dia especial. Ruben completava o seu 27º aniversário. Apesar de estar garantido no plantel encarnado na próxima época, Ruben ainda não treinava com os companheiros, dentro de dias poderia voltar a fazê-lo, como tal, hoje, depois do seu habitual treino e do almoço com a sua família, Ruben dedicara a tarde toda para mim.

 Levantar cedo já era hábito e os primeiros raios de sol do dia passavam através das precianas mal fechadas impedindo-me de fechar os olhos e voltar a adormecer, isto e as costas já doridas por estar deitada há demasiado tempo. Embora a diferença de temperaturas entre o interior da minha cama e o ambiente de casa fosse notável levantei-me. Como ainda era cedo, dediquei-me às tarefas domésticas, isto sim era um dos contras de viver sozinha, a casa normalmente tornava-se demasiado grande. No entanto, fui razoavelmente rápida e ainda tive tempo para dedicar o resto da manhã a adiantar trabalho para o semestre que estava aí à porta. Era impressionante o quão curtas eram as nossas férias entre os semestres, e ainda nos queixávamos do tempo de férias no ensino básico e secundário…

 - Meu Deus, cromossomopatias, estão a dar-me cabo da cabeça… - Reclamei ao perceber o que me esperava dentro de dias. O sol brilhava no ponto máximo, o dia estava soalheiro e eu sem saber o que haveria de fazer com tantas doenças…

 Aquela linda declaração de amor fez-se ouvir, a luz do ecrã tátil do meu telemóvel apagava-se e acendia-se consecutivamente. Demorei um pouco a perceber que alguém do outro lado esperava para falar comigo, pois fui invadida por pensamentos e memórias recentes: o dia em que soube que Ruben ficara, o dia em que pensei que tudo era uma ilusão, mas para além de tudo, o dia em que passamos das palavras e promessas para os atos. Estiquei-me o suficiente para alcançar o telemóvel.

 - Ruben. – Chamei assim que atendi e depressa um sorriso parvo iluminou o meu rosto.

 - Bom dia pequenina. Estás bem?

 - Hum, hum e tu grandalhão?

 - Cansado. Vou agora ter com a minha mãe e com o Mauro. Ah, Madalena, não faças planos para logo à noite…

 - Temos planos, nós os dois?

 - É mais ou menos isso. Não te preocupes porque não vais conhecer a minha mãe. – Gracejou.

 - Não tem piada.

 - Tem sim. – Insistiu.

 - Não…

 - Adoro-te. – Declarou interrompendo-me. O silêncio imperou por instantes, as borboletas no meu estomago estavam atiçadas. Adorava ouvir estas palavras da boca de Ruben. Esbocei um sorriso audível ao qual, do outro lado, ele correspondeu. – Daqui a poucas horas estarei ai contigo.

 - Despacha-te. – Pedi egoistamente, mas na verdade as saudades que tinha acumulado durante um mês estavam longe de se extinguirem.



***



 Dei por mim totalmente envolvida no trabalho que me tinha imposto. Os minutos passavam numa corrida desconcertante e, atrás de si, as horas arrastavam-se também elas numa velocidade despercebida. Por esta altura já deveria estar decentemente vestida, visto que ainda me encontrava de pijama. E, obviamente, ainda não tinha almoçado, o meu estômago, ruidosamente, queixava-se por estar, há demasiadas horas, vazio. Suspirei ao ver o trabalho que ainda me faltava, no entanto, tinha mais um semestre para o completar. Arrumei os livros e folhas soltas nas devidas prateleiras da moderna estante do escritório e, próxima paragem: cozinha.

 Esperava que Ruben já não demorasse muito tempo, decidi então preparar algo rápido, pois quanto mais rápido saciasse a minha fome, mais depressa me vestiria, poupando assim Ruben a visões aterradoras que o fariam ficar com medo de mim logo no segundo dia de namoro oficial/ secreto (oficial apenas para nós e para as minhas três amigas, pois por esta altura Maria já deveria ter contado as novidades a Joana e a Sofia… ah, e claro, para Mauro).

 Depois da tentativa de domar o cabelo rebelde, deixei-o solto, moldado em largos caracóis. Do guarda-roupa tirei peças que, na minha opinião, eram apropriadas para uma tarde de passeio ‘invernal’ e que, acima de tudo, passavam despercebidas aos olhos curiosos, ao contrário da companhia.




 Minutos depois, já a minha correria entre o quarto e a casa de banho tinha terminado, a campainha fez-se ouvir. Ruben, do outro lado da porta, fazia transparecer um sorriso magnifico, tal como todos os outros com que eu já tinha sido premiada, embora que, com o passar do tempo, cada um se tornava mais especial do que o anterior e menos do que aquele que lhe precederia. Eram simples e naturais, no entanto, aos meus olhos assemelhavam-se aos sorrisos dos deuses, perfeitos.

 Um passo na minha direção e os nossos lábios uniram-se em completa harmonia. A certo momento, as suas mãos ocupariam a minha cintura e um dos lados do meu rosto e, então, a distância entre nós diminuía mais um pouco. Assegurei-me da total privacidade para prolongar o beijo que tempo depois foi selado com outros mais ligeiros, suaves e rápidos.

 - Parabéns! – Desejei-lhe sorrindo-lhe. Tinha a sensação de que os meus olhos brilhavam denunciando, assim, a felicidade que sentia dentro de mim.

 - Obrigado. – Agradeceu-me, apoiando a cabeça no meu ombro e assim escondendo, por momentos, a cara nos meus cabelos, envergonhado. – Hoje vens jantar comigo, não vens?

 - Hum, jantar romântico… Agrada-me a ideia.

 - Por que é que eu não pensei nisso antes? – Interrogou-se retoricamente.

 - Pensar em quê?

 - Num jantar… só nós os dois… romântico. – Esclarecia-me pronunciando lentamente as palavras como se tivesse a sonhar com o momento.

 - Então, não somos só nos dois…

 - Não, é o meu jantar de aniversário.

 - Vão muitas pessoas? – Ou melhor: A tua mãe vai?

 - Algumas, apenas os amigos. – Menos mal. – Não te preocupes, só vou contar para os meus amigos tal como tu contaste para as tuas. Não há risco de sair cá para fora, até porque eu não tive de pensar só em mim.

 - Os teus amigos também são… conhecidos?

 - Mais ou menos. – Gracejou. Quem seriam estes amigos? Na verdade, o início da relação com Ruben trouxera deveres que nunca me tinham passado pela cabeça, não que não soubesse da existência deles, só que assustavam-me um pouco.

 Enquanto Ruben esperava em frente à televisão, procurei os meus pertences e joguei-os para dentro da mala escolhida. Já no carro de Ruben, envergávamo-nos por caminhos que nos levariam àquele momento de “não quero que acabe!”


2 comentários:

  1. Pensava que já era hoje que ia ficar a saber sobre o Bernardo afinal...
    Agora fico à espero do resto, quero a festa (:
    Adorei!
    Beijinhos Pipa*

    Se quiseres passa pelo meu http://thelovewithfriendship.blogspot.com/

    ResponderEliminar
  2. Adorei! Porque é que eu acho que o Bernardo ainda vai trazer problemas?

    Continua :)

    ResponderEliminar