* 27 de Janeiro *
Toda a conversa com Maria ainda estava
demasiado fresca, continuava a dar voltas à cabeça sobre o que Bernardo poderia
estar a preparar… “Isto não fica por aqui. Ainda me hás-de procurar”, dissera
depois de me tentar beijar. Bem, mas isto teria de ficar para depois, pois hoje
era um dia especial. Ruben completava o seu 27º aniversário. Apesar de estar
garantido no plantel encarnado na próxima época, Ruben ainda não treinava com
os companheiros, dentro de dias poderia voltar a fazê-lo, como tal, hoje,
depois do seu habitual treino e do almoço com a sua família, Ruben dedicara a
tarde toda para mim.
Levantar cedo já era hábito e os primeiros
raios de sol do dia passavam através das precianas mal fechadas impedindo-me de
fechar os olhos e voltar a adormecer, isto e as costas já doridas por estar
deitada há demasiado tempo. Embora a diferença de temperaturas entre o interior
da minha cama e o ambiente de casa fosse notável levantei-me. Como ainda era
cedo, dediquei-me às tarefas domésticas, isto sim era um dos contras de viver
sozinha, a casa normalmente tornava-se demasiado grande. No entanto, fui razoavelmente
rápida e ainda tive tempo para dedicar o resto da manhã a adiantar trabalho
para o semestre que estava aí à porta. Era impressionante o quão curtas eram as
nossas férias entre os semestres, e ainda nos queixávamos do tempo de férias no
ensino básico e secundário…
- Meu Deus, cromossomopatias, estão a dar-me
cabo da cabeça… - Reclamei ao perceber o que me esperava dentro de dias. O sol
brilhava no ponto máximo, o dia estava soalheiro e eu sem saber o que haveria
de fazer com tantas doenças…
Aquela linda declaração de amor fez-se ouvir,
a luz do ecrã tátil do meu telemóvel apagava-se e acendia-se consecutivamente.
Demorei um pouco a perceber que alguém do outro lado esperava para falar
comigo, pois fui invadida por pensamentos e memórias recentes: o dia em que
soube que Ruben ficara, o dia em que pensei que tudo era uma ilusão, mas para
além de tudo, o dia em que passamos das palavras e promessas para os atos.
Estiquei-me o suficiente para alcançar o telemóvel.
- Ruben. – Chamei assim que atendi e depressa
um sorriso parvo iluminou o meu rosto.
- Bom dia pequenina. Estás bem?
- Hum, hum e tu grandalhão?
- Cansado. Vou agora ter com a minha mãe e com
o Mauro. Ah, Madalena, não faças planos para logo à noite…
- Temos planos, nós os dois?
- É mais ou menos isso. Não te preocupes
porque não vais conhecer a minha mãe. – Gracejou.
- Não tem piada.
- Tem sim. – Insistiu.
- Não…
- Adoro-te. – Declarou interrompendo-me. O
silêncio imperou por instantes, as borboletas no meu estomago estavam atiçadas.
Adorava ouvir estas palavras da boca de Ruben. Esbocei um sorriso audível ao
qual, do outro lado, ele correspondeu. – Daqui a poucas horas estarei ai
contigo.
- Despacha-te. – Pedi egoistamente, mas na
verdade as saudades que tinha acumulado durante um mês estavam longe de se
extinguirem.
***
Dei por mim totalmente envolvida no trabalho
que me tinha imposto. Os minutos passavam numa corrida desconcertante e, atrás
de si, as horas arrastavam-se também elas numa velocidade despercebida. Por
esta altura já deveria estar decentemente vestida, visto que ainda me
encontrava de pijama. E, obviamente, ainda não tinha almoçado, o meu estômago,
ruidosamente, queixava-se por estar, há demasiadas horas, vazio. Suspirei ao
ver o trabalho que ainda me faltava, no entanto, tinha mais um semestre para o
completar. Arrumei os livros e folhas soltas nas devidas prateleiras da moderna
estante do escritório e, próxima paragem: cozinha.
Esperava que Ruben já não demorasse muito
tempo, decidi então preparar algo rápido, pois quanto mais rápido saciasse a
minha fome, mais depressa me vestiria, poupando assim Ruben a visões
aterradoras que o fariam ficar com medo de mim logo no segundo dia de namoro
oficial/ secreto (oficial apenas para nós e para as minhas três amigas, pois
por esta altura Maria já deveria ter contado as novidades a Joana e a Sofia…
ah, e claro, para Mauro).
Depois da tentativa de domar o cabelo rebelde,
deixei-o solto, moldado em largos caracóis. Do guarda-roupa tirei peças que, na
minha opinião, eram apropriadas para uma tarde de passeio ‘invernal’ e que,
acima de tudo, passavam despercebidas aos olhos curiosos, ao contrário da
companhia.
Minutos depois, já a minha correria entre o
quarto e a casa de banho tinha terminado, a campainha fez-se ouvir. Ruben, do
outro lado da porta, fazia transparecer um sorriso magnifico, tal como todos os
outros com que eu já tinha sido premiada, embora que, com o passar do tempo,
cada um se tornava mais especial do que o anterior e menos do que aquele que
lhe precederia. Eram simples e naturais, no entanto, aos meus olhos
assemelhavam-se aos sorrisos dos deuses, perfeitos.
Um passo na minha direção e os nossos lábios
uniram-se em completa harmonia. A certo momento, as suas mãos ocupariam a minha
cintura e um dos lados do meu rosto e, então, a distância entre nós diminuía mais
um pouco. Assegurei-me da total privacidade para prolongar o beijo que tempo
depois foi selado com outros mais ligeiros, suaves e rápidos.
- Parabéns! – Desejei-lhe sorrindo-lhe. Tinha
a sensação de que os meus olhos brilhavam denunciando, assim, a felicidade que
sentia dentro de mim.
- Obrigado. – Agradeceu-me, apoiando a cabeça
no meu ombro e assim escondendo, por momentos, a cara nos meus cabelos,
envergonhado. – Hoje vens jantar comigo, não vens?
- Hum, jantar romântico… Agrada-me a ideia.
- Por que é que eu não pensei nisso antes? –
Interrogou-se retoricamente.
- Pensar em quê?
- Num jantar… só nós os dois… romântico. –
Esclarecia-me pronunciando lentamente as palavras como se tivesse a sonhar com
o momento.
- Então, não somos só nos dois…
- Não, é o meu jantar de aniversário.
- Vão muitas pessoas? – Ou melhor: A tua mãe
vai?
- Algumas, apenas os amigos. – Menos mal. –
Não te preocupes, só vou contar para os meus amigos tal como tu contaste para
as tuas. Não há risco de sair cá para fora, até porque eu não tive de pensar só
em mim.
- Os teus amigos também são… conhecidos?
- Mais ou menos. – Gracejou. Quem seriam estes
amigos? Na verdade, o início da relação com Ruben trouxera deveres que nunca me
tinham passado pela cabeça, não que não soubesse da existência deles, só que
assustavam-me um pouco.
Enquanto Ruben esperava em frente à televisão,
procurei os meus pertences e joguei-os para dentro da mala escolhida. Já no
carro de Ruben, envergávamo-nos por caminhos que nos levariam àquele momento de
“não quero que acabe!”
Pensava que já era hoje que ia ficar a saber sobre o Bernardo afinal...
ResponderEliminarAgora fico à espero do resto, quero a festa (:
Adorei!
Beijinhos Pipa*
Se quiseres passa pelo meu http://thelovewithfriendship.blogspot.com/
Adorei! Porque é que eu acho que o Bernardo ainda vai trazer problemas?
ResponderEliminarContinua :)