domingo, 14 de outubro de 2012

46º Capítulo: Uma história diferente


 “O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.” (Carlos Drummond de Andrade)



 A melhor parte da distância? O reencontro. E tal como eu, Ruben também o sabia. Os nossos olhares diziam tudo o que ficara por dizer ao longo de vários dias, eram o espelho da alma e também do coração que, naquele momento, cada batimento assemelhava-se a uma bofetada, não doía, era uma das melhores sensações do mundo. O meu estômago libertava borboletas, em grande quantidade, nunca sentira nada assim, tão forte, em qualquer outro momento da minha vida. O que se pode chamar a toda esta telepatia, a todo o sentimento que se havia apoderado de nós? Amor. Tudo aquilo que fortemente nos unia chamava-se amor.
 
 Todo o meu corpo, o meu ser, estava em fogo por voltar a sentir as suas formas, sentir o seu cheiro, a sua voz e o seu riso que ecoava dentro da minha cabeça. O meu corpo desejava o seu, a minha alma desejava a sua, podia admitir isso, mas, por agora, tê-lo nos meus braços, embora não fosse suficiente, era tudo o que podia permitir. Pousei as mãos no seu peito, conseguir sentir os batimentos do seu coração, enquanto os seus braços rodeavam a minha cintura.
 Talvez tenham passado segundos, talvez minutos. Nenhuma palavra fora pronunciada até então, facto que Ruben invalidou.
 - Por quê? – A voz de Ruben mostrava a desilusão, a mágoa que sentia em relação a mim. Era tudo o que eu não queria, e saber que Ruben, como era de esperar, estava magoado comigo magoava-me. Naquele momento, sentia que não passava de um animal muito pequenino, que se visse um buraco escondia-se muito depressa. Mas não vi nenhum, limitei-me a baixar a cabeça para não ter de o encarar, porque neste momento sentia vergonha. – Por que é que tinhas de estragar tudo, Madalena? – Afastámo-nos, as minhas mãos já não permaneciam no seu peito, nem os seus braços me rodeavam. Pensei que fosse mais doloroso quando estava sozinha, mas agora, frente a Ruben, era impossível não me sentir a pior pessoa do mundo. E, com este sentimento, pequenas lágrimas teimavam em formar-se. Graças à diferença de alturas, Ruben não as conseguiria ver.
 - Desculpa. Eu… eu não devia ter vindo até aqui. – Tímidos soluços acompanhavam as lágrimas que, agora, corriam com mais intensidade. Talvez se fosse embora agora ele não percebesse. Dei meia volta sem o olhar e, decidida a dar o primeiro passo, Ruben impediu qualquer movimento meu. Talvez percebera que eu chorava, pois abraçou-me novamente, reconfortando-me como só ele sabia fazer. – Desculpa Ruben, eu não te queria fazer sofrer. Eu nunca me devia ter aproximado de ti, nunca te devia ter conhecido.
 - Estás arrependida? Estás arrependida de tudo o que passámos juntos?
 - Não, não estou.
 - Não estás? Tudo o que dizes faz-me acreditar precisamente no contrário.
 - Eu não estou arrependida. De nada! Mas não quero achar isto certo, eu não devia achar isto certo.
 - Então, por que me deixaste? Por quê, Madalena? Com um telefonema! Sabes como me senti quando ouvi que já não querias estar comigo? Quando poucas horas antes dizias que me amavas. Nem foste capaz de falar comigo. Tu não tinhas o direito de acabar comigo desta forma! – O sofrimento de Ruben estava-me a deixar louca, estava-me a matar por dentro.
 - Ruben, eu…
 - Como pudeste ser tão cobarde, Madalena?
 Senti que o meu limite estava prestes a ser atingido. Quantas acusações somos capazes de suportar, mesmo sabendo que os caminhos a seguir não são por nós destinados? Quantos pedidos de desculpas seriam ignorados até que as mesmas dolorosas acusações terminassem? E as feridas, quantas feridas seriam abertas? Seria eu assim tão má pessoa?
 - Desculpa Ruben, já te pedi mil desculpas. Por favor, para!
 - És fraca, Madalena, és uma cobar…
 - Ruben, chega! – Gritei, interrompendo-o. – Estás a tentar magoar-me e está a resultar! Mas eu não vou admitir que me insultes, não vou admitir que me julgues! Nós não podíamos continuar juntos. E sabes por quê? Já paraste um bocado para pensar nos meus motivos? Porque sou um cobarde, sim, tens razão, porque não fui capaz de fazer frente ao meu pai, porque ele é meu pai e eu amo-o! E acima de tudo, porque amo o meu irmão. Sim, Ruben, eu sou uma cobarde! – Sentia a minha cara a arder, os olhos doíam-me com a fúria.
 Ruben nada dissera, abriu a porta do lado do condutor mas não chegou a entrar, fechando-a com demasiada força. Os seus lábios húmidos e doces entraram em contacto com os meus. Senti um arrepio que percorreu todo o meu corpo, por momentos, fiquei sem reação, já tinha perdido todas as esperanças de o voltar a sentir desta forma. A minha cabeça ficara barulhenta com a sua voz, com o seu sorriso, com ele por completo, senti uma leveza, talvez se não sentisse os lábios de Ruben contra os meus diria que já não estaria no meu próprio corpo. Sabia que tinha de o afastar, só faltava a coragem para o fazer. Não queria fugir novamente, naquele momento, era a pior palavra que podia ouvir ou pensar. Mas não me podia render àquela vontade de o ter.
 Fui eu que me afastei vários centímetros, fui eu que nos separei novamente. Estremecia só de pensar que tinha de ir embora, não porque queria, mas porque era uma ordem à qual tinha de obedecer. Talvez eu conseguisse cair num sono profundo, onde, com o tempo, a sua imagem se desvanecesse da minha mente, talvez um dia fosse possível passar por ele e não sentir nada. Talvez, mas eu sabia que estava errada, um amor tão forte não se esquece, talvez Ruben o conseguisse fazer, mas eu não, era forte, embora não o suficiente. Tinha de gravar a sua imagem na minha memória, o seu cabelo castanho que dançava ao sabor do vento, os seus olhos, o seu corpo esbelta, a sua voz, o seu sorriso, a sua gargalhada. Em tempos, tudo isto me pertencera, agora já não.
 - Não me deixes. – Ruben sussurrava ao meu ouvido. O meu coração estava pequeno, bem pequenino, a situação de “animal pequenino” voltara a crescer, incontrolavelmente, e por breves momentos, ouvi um grito dentro de mim, um grito de desespero. – Amor, não me deixes. – Tudo o que consegui foi abanar a cabeça, da esquerda para a direita, várias vezes. – Nós podemos ficar juntos, o teu pai está longe, ele não iria saber.
 - Isso não está certo. Por quanto tempo teria eu de te esconder? Eu não quero isso, não te posso pedir isso.
 - Era só até…
 - Até quando? Até o meu pai esquecer que tu existes? Até ele mudar de ideias? Isso não vai acontecer. – Ruben estava cabisbaixo e eu odiava vê-lo assim. – Ruben, amo-te, está bem? Eu amo-te.
 - Então luta por esse amor. Prova-me que ele existe e que não são só palavras!
 - Não posso! Mas nunca duvides do que eu sinto por ti, porque é verdadeiro!
 - E agora? Vais-te embora, outra vez? – A mágoa na voz de Ruben era quase palpável. Talvez fosse melhor assim.
 - Eu vou sempre estar aqui, só não podemos estar juntos.
 O momento tinha chegado. Antes de entrar num choro compulsivo, que os batimentos do meu coração começavam a denunciar, tinha de lhe virar as costas, enquanto as lágrimas ainda caiam compassadamente. Estremecia só de pensar que não haveria um último beijo, um último toque, que deixava para trás o homem da minha vida, mais uma vez. Caminhei o mais depressa possível na direção contrária à sua presença, voltei-me várias vezes para trás com o objetivo de o ver abalar, mas Ruben continuava para do no mesmo sítio, insistia em ver-me fugir. 

 Apenas o rio permanecia comigo neste momento, o que achava certo agora não fazia sentido, sentia-me vazia, com um enorme buraco no peito. Fisicamente, Ruben poderia não estar longe nem perto, simplesmente não estava, mas no meu coração, a história era bem diferente.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Leitoras :)

 Olá queridas leitoras, quero pedir-vos desculpa pelo tempo que estou a demorar a publicar o próximo capítulo, mas tinha toda a história guardada numa pen, e surpresa, surpresa, perdi-a. Nestes últimos dias tenho tentado escrever algo parecido com o capítulo que estava escrito, por isso peço-vos mais uns dias. Prometo que vai a caminho.
 Obrigada por não desistirem, são as melhores leitoras do mundo!

Jéssica