segunda-feira, 18 de agosto de 2014

51º Capítulo: "Haja o que houver"




“Os ventos que às vezes tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar. Por isso, não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim, aprender a amar o que nos foi dado, pois tudo aquilo que é realmente nosso nunca se vai para sempre” (autor desconhecido)




Sentia o sol primaveril entrar pelas persianas que tinham ficado ligeiramente abertas durante a noite. Aquela maravilhosa noite, a noite em que me entreguei de todas as formas possíveis ao homem que amava, não apenas porque o amava, mas por ele, por nós, porque agora, mais do que nunca, tinha a certeza que Ruben era o homem da minha vida. No ar, o cheiro de frutas da época e das torradas, o som da torradeira, e o mais brilhante de tudo, a voz doce de Ruben que na cozinha cantarolava alguma música. Preguiçosa e com um enorme sorriso estúpido na cara, aqueles que fazemos quando estamos realmente apaixonados, arrastei um braço para o lado da cama onde Ruben dormira, estava frio. Sem abrir os olhos, arrastei-me para o seu lado, e voltei a adormecer enroscada na sua almofada, embalada pelo seu perfume.

Segundos, ou minutos, depois, ouvi a porta do quarto a abrir lentamente, o pousar de algo em cima da mesa-de-cabeceira. Sabia que tinha pequeno-almoço na cama e cheirava divinamente bem. Ruben entrou novamente dentro dos lençóis, senti-o a unir o seu peito despido às minhas costas. Enchia-me de leves beijos na cara, na orelha, na nuca, que me provocavam deliciosos arrepios enquanto soltava tímidos suspiros, os seus dedos suaves percorriam as minhas costas nuas. Se tudo estivesse a ser apenas um sonho eu não queria acordar.

- Amor. Acorda princesa. – Sussurrava enquanto continuava a desenhar trilhos de beijos em mim.

- Humm, não.– Senti o seu sorriso na minha nuca e a sua respiração fazia-me cocegas. – Eu não quero acordar.

- Por quê?

- Se tu fores um sonho, quero ficar nele para sempre! – Senti a sua língua e logo depois uma pequena mordida no meu ombro.

- E agora? Ainda achas que estás a sonhar? – As suas provocações estavam a deixar-me louca, os beijos cada vez mais intensos, as suas mãos viajavam entre a minha barriga e pernas puxando-me mais contra si, diminuindo assim mais a distância entre os nossos corpos nus.

- Ruben, assim não vale.

- Trouxe-te o pequeno-almoço, bebé. – Mordeu-me o lóbulo da orelha.

- Agh. – Gemi e finalmente abri os olhos. Nada tinha sido um sonho, Ruben tinha acordado ao meu lado, tinha aquele brilho nos olhos e aquele gigante sorriso estampado no rosto pelos quais eu era capaz de percorrer todo o mundo só para os ver e ter por um segundo. – Bom dia amor. – Virei-me de barriga para cima para poder ficar cara a cara com ele, passei os meus dedos pela sua barba de dois ou três dias e, por fim, beijei-o.

- Bom dia. – O sorriso ampliou-se ainda mais. – Estás linda hoje, princesa.

- Estou feliz. Tenho o meu bebé de volta e a noite de ontem foi a melhor da minha vida. – Disse espontaneamente para depois ficar envergonhada com a sinceridade das minhas palavras.

- E estás bem? – O seu olhar analisava o meu.

- Estou. Estou ótima, maravilhosa e completamente apaixonada por ti.

- Amo-te. – Beijou-me. – Nestas últimas horas fizeste de mim o homem mais feliz do mundo.

- Eu amo-te mais. Ontem percebi o quanto me amavas. Que mesmo depois de tudo o que te fiz, ainda me amavas. Isso foi uma revelação para mim. – Olhei-o nos olhos. – Rúben, eu vou lutar por nós, contra tudo e contra todos, para sempre!

- Sabes que nunca mais te vou deixar ir, não sabes? Seja por que razão for. Estes meses foram uma tortura para mim, não vou passar por isto novamente.

- Eu não vou, nunca mais. Serei sempre só tua, e agora, de corpo e alma. É a ti que eu quero ao meu lado hoje, amanhã e para sempre!

- Oh bebé. – Beijámo-nos novamente. O clima entre nós começava a aquecer, as minhas palavras eram mais do que uma verdadeira declaração de amor, eram uma promessa para a vida, uma promessa que eu pretendia cumprir. Aquele homem tinha despertado em mim sentimentos que estavam há muito tempo guardados e outros que nem sequer conhecia. As nossas línguas bailavam coordenadas, as nossas mãos acariciavam, agarravam e sentiam os nossos corpos perdidos no amor. Deixei soltar um pequeno gemido aos ouvidos de Rúben e senti o seu sorriso. – Amor, o café e as torradas estão a arrefecer. – Disse e separou-se um pouco mais de mim deixando-me a querer mais. Suspirei, o que provocou uma gargalhada a Rúben.

Rúben sentou-se na cama e eu segui-o. Alcançou o tabuleiro com o nosso pequeno-almoço e colocou-o apoiado em nós dois. Torradas, café exatamente como eu gostava, sumo de laranja natural, croissants e um pratinho com fiambre e queijo. Contentei-me apenas com um café, sumo e torradas, enquanto via Rúben a devorar tudo o resto. Eu não sei o que lhe faziam nos treinos, mas credo, aquele rapaz comia como um cavalo, mas era adorável de assistir.

Quando terminou, voltou a pousar o tabuleiro em cima da mesa-de-cabeceira e eu, acariciando-o carinhosamente na face, voltei-me a enroscar nele.

- Tens alguma coisa para fazer hoje? – Perguntei-lhe enquanto ele brincava com o meu cabelo.

- Não, quer dizer, para além de querer passar o dia todo contigo. – Senti o seu beijo na minha cabeça e eu sorri.

- O dia todo? – Perguntei esperançosa.

- Sim, isto é, se não tiveres nada importante para fazer, coisas da faculdade ou assim.

- Não, não tenho nada.

- Então podíamos ir dar um banho os dois, ou vais tu primeiro, como preferires. Depois podíamos ir passear, namorar ao pé do Tejo, e podíamos ficar a almoçar por lá. Depois não sei, só quero estar contigo, princesa.

- Isso parece-me um programa.

- Sim, e à noite gostava que viesses comigo. O meu irmão insistiu que fosse jantar com ele, diz que eu preciso de me divertir. – Acho que nunca tinha sequer pensado como tinham sido os seus dias enquanto tivemos separados, sempre coloquei a hipótese que seriam semelhantes àqueles que nós tínhamos vivido, mas aparentemente não. O meu coração apertou um pouquinho. Alguma vez eu iria conseguir recuperar todo o tempo perdido e apagar a dor que lhe causei?

- Tudo bem, eu vou. – Sorri-lhe, tinha esperança de conseguir esconder a tristeza que sentia ao pensar nisso.

- O que é isso? Que carinha triste é essa? – Os seus dedos, no meu queixo, obrigavam-me a olhar para ele, para os seus olhos preocupados.

- Nada… é só que… eu não te queria causar dor, nem queria que deixasses de te divertir por minha causa.

- Amor. – Beijou-me suavemente. – Amor, já passou, não vamos pensar nisso, por favor. – Voltou a beijar-me, um beijo apaixonado, urgente, exigente. As suas mãos em ambos os lados da minha face não permitiam o meu movimento. O seu corpo quente pressionava o meu e o desejo aumentava. Ruben carregou-me para o seu colo, de frente para si, as suas mãos devoravam a minha pele, enquanto lhe puxava os pequenos cabelos acima da nuca a cada onda de desejo. Estava perdida, de um momento para o outro estava deitada e senti o peso de Rúben sobre mim. Os seus lábios agora viajavam pelo meu pescoço, para baixo, não ignorando, desta vez, o meu peito. Sabia que Rúben brevemente uniria os nossos corpos e eu não tinha proteção em casa.

Rúben. – Chamei embora não o tivesse detido. – Rúben, amor, pára. – Mal reconheci a minha voz, morta de desejo.

- O que foi, bebé? Queres que pare?

- Uh, não… - Suspirei. – Eu não tenho preservativos. – Rúben sorriu-me, alcançou as suas calças caídas no chão, retirou um de dentro do bolso e entregou-me o. «Oh escoteiro». Embora por breves instantes, o pensamento ocupou a minha mente, Rúben estava à minha espera, à espera que deixasse os meus medos de parte para me poder entregar a ele da única forma que faltava até ontem à noite. Entreguei-me novamente a Rúben, os meus pensamentos evaporaram-se, os terminais nervosos do meu corpo recebiam tudo o que Rúben me transmitia com as suas caricias, com os seus beijos. Estava a ficar fora de mim e Rúben acabou por unir os nossos corpos. A sensação de o ter dentro de mim ainda era estranha, por um lado, ao início, ainda era invadida pelas dores de o ter dentro de mim, embora fossem menos intensas que na noite anterior, mas depois era como se crescesse a sensação de vazio, como se ele tivesse sempre lá estado. Acima de tudo, reinava o amor sentido de ambas as partes, era quase palpável.



***




Após um banho relaxante, encarámos a linda manhã primaveril de mãos dadas, não queria saber se alguém o iria reconhecer, se alguém iria olhar ou comentar. Sabia que, quando me entreguei a Rúben, tinha aceitado a pessoa que ele é, o amigo, o namorado, o companheiro, o futebolista, e talvez tenha sido um dos contras da nossa primeira tentativa, anteriormente queria o Rúben apenas fora das quatro linhas, mas se não aceitasse a pessoa que ele é na totalidade não o teria no seu todo, e era mesmo isso que eu queria. A nossa história não tinha começado da melhor forma, mas como sempre ouvi dizer “Amar não chega quando não se ama o suficiente”, e entre nós os dois havia amor para suportar tudo e todos, agora tinha essa certeza. O meu lugar é ao lado de Rúben, e vou lutar por isso, haja o que houver!