terça-feira, 31 de janeiro de 2012

30º Capítulo: Happy Birthday Lover (Parte III)

 Estava a adorar a companhia. Elas pareciam pessoas excelentes, todas se davam bem, nunca houve um momento em que faltasse tema de conversa. As crianças corriam e brincavam, incansáveis e também ansiosas pela hora da sobremesa. Mas ainda tinha de esperar, elas e nós, pois eles jantavam calmamente, também entre conversas e brincadeiras maioritariamente provocadas por Ruben e David.

 - Dime, nosotras no sabíamos que Ruben tenia novia. – Foi Elena que se fez ouvir depois de mais umas piadas da dupla.

 - Sim, aquele moleque não contou p’ra ninguém. – Brenda, a mulher de Luisão, fingiu-se de chateada, o que despertou uma ligeira risota em nós.

 - Não teve oportunidade. – Desculpei-o. Olhei-as rapidamente, elas esperavam que lhes dissesse mais qualquer coisa e assim fiz. – Começámos, oficialmente, ontem.

 - Estão fresquinhos… -Gracejou Tânia, namorada de Miguel Vítor. – Deves estar felicíssima por ele não ter sido emprestado. – Acenei-lhe, com a cabeça, positivamente.

 - Nem sabes o quanto te compreendo. – Foi a vez de Sara se pronunciar. – Por muitas vezes que o David venha cá ou eu vá a Londres ter com ele, tenho a sensação que o tempo é sempre pouco.

 - Se ele não tivesse ficado nunca teríamos chegado até aqui… Por isso, sim, estou feliz, aliás, muito feliz!

 - Fazem um casal tão querido. – Elogiou Andreia, a mulher de Fábio Coentrão que, mesmo a jogar no Real Madrid, veio ao jantar de aniversário do seu ex-companheiro de camisola.

 - ¿No es así? ¡También creo que hacen una pareja maravillosa!

 Podia dizer que o programa ainda ia a meio e já gostava imenso delas, especialmente de Elena e de Andreia, que segurava, ao lado do seu marido Fábio, e também sob o olhar atento e paternal deste, a pequena Vitória, que dormia profundamente. Fiquei com a sensação de que Brenda era, também ela, uma boa pessoa, embora não tivesse muito tempo para falar com ela pois esta mãe galinha andava sempre de olho na sua pestinha Sophia, dentro de meses seriam duas pestinhas, visto que esperava o seu segundo filho.

 Dei por mim a olhar para Vitória, nome dado pelo pai, vá-se lá saber o motivo, sendo também o nome da águia do clube encarnado. Dormia profundamente. Sempre gostara de crianças, esse sentimento por elas aumentou desde que o meu pequeno irmão, Artur, nasceu, no entanto, nunca tive oportunidade de acompanhar o seu crescimento de perto, todos os dias. Sorri. Como poderiam crianças assim não serem amadas?

 - Madalena. – Chamou-me Andreia. Subi o olhar e encontrei os dois pares de olhos do casal a olharem para mim. – Queres-lhe pegar?

 - É melhor não, ela está a dormir tão bem… - Queria, queria muito pegar-lhe. As pequeninas mãos agitavam-se repetidamente.

 - Não tem problema, ela não acorda. – Levantei-me para que Andreia me conseguisse passar Vitória para os braços.

 - Tão pequenina… - A bebé não acordou, apenas parou por instantes os movimentos das mãos para o retomar logo de seguida quando me voltei a sentar com ela nos meus braços. Passava-lhe cuidadosamente os dedos pelas rosadas bochechas e pelos poucos e loiros cabelos.

 - Gostas mesmo de crianças, não gostas? – Perguntou Andreia ao ver o meu rosto babado. Assenti-lhe. – Tens irmãos?

 - Tenho. Tem dois anos e estou a morrer de saudades dele. – Confessei-lhe.

 - Posso perguntar o motivo?

 - Eu não sou de cá, sou do Alentejo e os meus pais moram lá. Vejo-o poucas vezes. – Senti as saudades do meu pequenino apertarem. Andreia sorriu-me, talvez fosse um sorriso de consolo. Voltei a admirar aquele pequeno ser.

 A hora das sobremesas estava a chegar, isso notava-se pela agitação das crianças que se tinham acabado de sentar à mesa, novamente. Senti uma mão pousar-me lentamente no ombro, embora soubesse quem seria, confirmei. Assim que o olhei, Ruben agachou-se na minha frente, sem nada dizer.

 - Sim? – Incentivei-o.

 - Sim o quê?

 - Queres dizer-me alguma coisa?

 - Não… Já não posso olhar para a minha maravilhosa namorada? – Sorri-lhe mais uma vez. Ruben levantou-se ligeiramente para me poder beijar. Um beijo simples, suave, estavam rodeados de pessoas.

 - Meus meninos, desculpem lá mas a minha filha é nova de mais para ver essas coisas! – Fábio afastou Ruben de mim e pegou na sua filha que até então dormia nos meus braços. – Desculpa lá, mas eu não confio neste para… Que poucas vergonhas! – Brincava Fábio, o que provocou nova risota geral.

 - Pensas que a tua filha não vai saber como se fazem os bebés? – Brincou Ruben.

 - Só quando casar e com a minha autorização! – Andreia, ao meu lado, desmanchou-se a rir. – Vais ver quando tiveres filhas se não pensas o mesmo…

 - Eu prefiro rapazes, pode ser que herdem o talento do futebol do pai.

 - Só se for mesmo no futebol porque de resto é bom que herdem da mãe…

 - Estás a chamar-me feio? David, tu já viste isto?

 - Manz, não me meta. Pergunta aí p’ra sua garota.

 - Ruben, deixa-te de coisas, a mãe é muito mais bonita do que tu…

 - Mãe? – Desta vez fui eu a fazer-me ouvir. Ruben olhou-me. – Esperem lá, não me metam ao barulho. Isso de ser mãe é só para daqui a alguns anos.

 - Ahah, vais ser pai quando tiveres idade para ser avô. – Gozou mais uma vez Fábio.

 - Galera, acho que cês tão assustando Madalena com os nenéns. – Agradeci a Brenda pela intervenção. Estava comprovado que quando eles se juntavam, qualquer espaço, fora das quatro linhas, transformava-se num infantário.

 Depois de termos passado o jantar inteiro separados, na hora da sobremesa Ruben juntou-se a mim, sentou-se na cadeira onde eu estava e fez-me sentar no seu colo, rodeando a minha cintura com os seus braços. Por vezes, sentia os seus lábios na pele descoberta dos meus braços e, de todas as vezes que o senti, olhei-o apaixonada.

 As horas voltaram a adquirir uma velocidade estonteante e só tivemos noção disso quando as brincadeiras das crianças acalmaram um pouco devido ao sono. A noite já ia longa, aliás, até posso dizer que adorei a noite, adorei conhecer a sua segunda família, conviver com os seus fantásticos amigos e, acima de tudo, sentir que estava a começar a fazer parte da vida de Ruben, sim, adorei, ou melhor, amei essa sensação.

 Embora a temperatura atmosférica tivesse baixado consideravelmente, esperamos, junto do meu carro, que os convidados seguissem rumo às respetivas casas para que nós pudéssemos fazer o mesmo. Ruben, teimoso como sempre, insistiu em seguir-me até casa, mesmo que isso implicasse fazer mais uns bons minutos de viagem, já que não podia ser ele a levar-me pois tínhamos vindo separados. Os meus argumentos rapidamente se esgotavam com ele e, consequentemente, ele ganhava sempre.

 O caminho de regresso parecia-me mais comprido, talvez devido ao cansaço. A rua já bem conhecida estendeu-se à minha frente e o lugar onde habitualmente estacionava o meu carro estava vago. Ruben estacionou o seu perto do meu.

 - Ruben, devias ir para casa, está a ficar tardíssimo.

 - Vou-te levar até lá a cima e depois vou logo para casa, pode ser? – Presenteou-me com um sorriso maroto magnífico, rodeou-me a cintura com um braço e puxou-me para si.

 Com dificuldade, devido ao escuro do corredor, abri a porta de casa.

 - Já estou entregue. Agora já podes ir?

 - Queres assim tanto ver-me pelas costas? – Ruben fez uma carinha de menino triste que me deixou derretida.

 -Não. Tu é que disseste que assim que me deixasses em casa ias embora… - Lentamente voltei-me a aproximar dele, as suas mãos voltaram a possuir a minha cintura e as minhas pousaram no seu peito. – Ficas cá esta noite?

 - Queres que fique? – Beijei-o com desejo. As suas mãos rapidamente me começaram a apertar e a puxar mais para si, os nossos corações batiam descompassados e a respiração tornava-se irregular.

 Não sabia se era demasiado cedo, com Ruben perdia a noção de tempo, sabia apenas que nenhum de nós tinha maturidade para agir como dois adolescentes. Afinal, se durante um mês sofremos por estarmos longe por quê permanecer longe agora? Haveria melhor forma do que um beijo de dar uma resposta?





Para que me perguntou o nome da música do blog, então é o seguinte, "What Are Words" de Chris Medina.
Aproveito para agradecer, mais uma vez, a todos os leitores que acompanham o que eu escrevo.

Beijinho, Jéssica ♥

domingo, 29 de janeiro de 2012

30º Capítulo: Happy Birthday Lover (Parte II)

 O sol começava a esconder-se e dentro de duas horas teríamos de estar no restaurante, Ruben teria de estar pois era o anfitrião e eu, como estava na sua companhia iria com ele, se fosse simplesmente lá ter certamente que não chegaria a entrar, algo me dizia que não iria ser capaz.

 Despedimo-nos dos campos relvados na margem do Tejo, do próprio rio que adquiria diversas tonalidades sempre em nos tons de laranja e azul. Dos últimos barcos que iam de margem a margem, até das pomposas nuvens brancas que se iam, lentamente, arrastando no largo céu.

 Deixou-me em casa para que me pudesse preparar e estar pronta a horas e dirigiu-se à sua com a mesma intenção. Embora que o restaurante indicado por Ruben ficasse relativamente longe de minha casa, sem pensar no trânsito, tinha tempo suficiente para me poder deliciar com um banho de água quente e música ambiente. Adorava sentir-me relaxada, tal como uma princesa dos filmes que via na infância, junto da lareira com a cabeça nas pernas da minha mãe enquanto esta brincava com os meus largos e perfeitos caracóis.

 Depois da maquilhagem, de tons naturais, aplicada, estava na altura de fazer algo no cabelo. Depois de seco, os pequenos e discretos ganchos prendiam os cabelos laterais na parte de trás da cabeça, deixando apenas a franja a pender para o lado esquerdo. Não queria ir demasiado ‘arranjada’ ou formal, não queria que os amigos de Ruben tivessem como primeira imagem de mim algo que eu não era, não queria que eles pensassem que só por estar com Ruben guardasse o rei na barriga… nada disso, queria que me aceitassem tal como sou. Não ia para chamar à atenção, queria apenas poder estar com Ruben durante o resto do dia do seu aniversário.






 Olhei-me ao espelho imensas vezes, algo que não era habitual em mim. A verdade é que estava a ficar nervosa, a temperatura das minhas mãos baixara significativamente e, consequentemente, empalideceram. Não aguentava estar mais um minuto que fosse em casa, andava de lado para lado na sala de estar, numa tentativa desesperada e totalmente falhada de me acalmar.

 Não aceitei que Ruben me viesse buscar a casa, pois teria de fazer mais duas viagens, reduzindo, assim, o pouco tempo que teria para se arranjar. Durante toda a tarde não apresentou qualquer nervosismo enquanto eu me esforçava para não mostrar aquele que crescia em mim. O que era normal, pois este seria um jantar de amigos, tal como todos os outros, apenas o motivo para a sua realização mudava, pois a maioria seria para comemorar as vitórias benfiquistas.

 Certamente que Ruben me continuaria a surpreender. Depois de quase uma hora nas intermináveis filas de carros, encontrei o restaurante. Já me tinha falado deste espaço. Aparentemente pareciam um simples restaurantes, era simples, mas também fora palco diversas vezes das numerosas comemorações encarnadas e também de festas e jantares privados dos jogadores desse mesmo clube.

 Avistei Ruben junto do seu carro estacionado entre outros tantos. Este esboçou um sorriso ao avistar-me, em largos passos veio ter comigo.

 - Estou muito atrasada? – Perguntei tentando perceber de que seriam todos aqueles carros, embora que um deles eu o reconhecesse graças a Maria, Joana e Sofia, um lindo Audi Q7 branco que pertencia a David Luíz.

 - Não. – Respondeu-me rapidamente para logo de seguida me beijar com avidez. – Mas acho melhor irmos, porque já estão todos lá dentro.

 De mãos dadas percorremos o curto passeio que separava o estacionamento da entrada do estabelecimento. Do local onde nos encontrávamos era possível ver todos os convidados, através das portas de vidro, que, calorosamente, interagiam uns com os outros, na sala de espera. Conheci a maioria deles e, por parvoíce minha, nunca teria previsto que seriam estes os amigos de quem Ruben me falara. Era tão óbvio que seriam estes, os jogadores e respetivas mulheres e namoradas para mim, mas para ele, uma segunda família.

 Parei ali mesmo e Ruben, um passo à minha frente, parou também, ficando de frente para mim. O meu olhar atravessava os vidros e, sem olhar para confirmar, Ruben sabia exatamente para onde eu estava a olhar.

 - Ruben. – Apesar de tudo no que eu acreditava e defendia, sentia que me iria sentir a mais, que iria fazer figura de parva e, consequentemente iria ser posta de parte. – Eu…

 - Eles são os meus amigos… Não precisas de ter medo. – Tentou acamar-me.

 - E jogadores de futebol… famosos. Achas pouco? – Ruben riu-se. Imaginava a figura de parva que estava a fazer…

 - E eu sou o quê?

 - É diferente… - Desculpei-me prontamente.

 - É?

 - Mas são…

 - Pessoas simples, simpáticas… - Apressou-se a elogiá-los.

 - E se eles não gostarem de mim?

 - Estás com medo de eles não te aceitarem? – Soltou uma nova gargalhada e eu olhei-o de soslaio por estar a gozar comigo. – Pequenina, sou eu quem tem de gostar de ti. – As nossas mãos entrelaçaram-se e Ruben voltou a olhar, rapidamente, para o interior. – Mas se não nos despacharmos a entrar para começarmos a jantar eles matam-me... ou matam-nos. – Foi a minha vez de sorrir. Estava ali por Ruben e, se queria fazer parte da vida dele tinha de me integrar e meter as parvoíces da minha cabeça de lado.

 - Não… Tens razão. Vamos lá enfrentar os adversários. – Nesta noite eu deveria estar com imensa piada, pois por tudo o que dizia, Ruben ria-se.

 - Uma casa cheia de benfiquistas… - Gozou-me.

 - Pode ser que lhes meta algum juízo na cabeça e alguns mudem…

 - Hum, hum… Sonha.

 - Vamos mas é entrar.

 - Obrigado. – Agradeceu-me, sincero.

 Com um enorme sorriso no rosto e a fazer-me pequenos círculos na parte de cima das mãos para que os nervos não se apoderassem de mim, Ruben conduziu-me, atrás de si, para o restaurante. Assim que atravessámos a porta da entrada, senti vários olhos postos em nós. Certamente que os convidados já sabiam que eu iria, mesmo que não me conhecessem pessoalmente.

 - Pessoal, quero-vos apresentar a Madalena, ela é a minha… namorada. – O seu sorriso, tal como o meu, amplificou-se, os nossos olhares encontraram-se, sentiamo-nos felizes.

 David foi o primeiro a cumprimentar-me, fazendo-se acompanhar pela sua namorada Sara, naquela sala ele deveria ser o único que sabia da minha história e do Ruben na totalidade ou, pelo menos, grande parte dela.

 - ‘To muito feliz por cê estar aqui.

 - Obrigada, eu também estou feliz por estar aqui. – Admiti.

 - Estás mesmo? – Perguntou-me Ruben.

 - Sim, porquê? – Tal como eu, David e Sara não entenderam a pergunta de Ruben.

 - Ela é lagarta. – Segredou a David e Sara. Estes riram-se e eu revirei os olhos.

 De seguida, Javi aproximou-se, acompanhado por Elena.

 - ¡Mira, la chica del Bowling! - Cumprimentou-me com um enorme e lindo sorriso, cheio de boa disposição. Há alguns meses atrás, o Javi Garcia era a minha grande ‘perdição’ do plantel benfiquista, embora agora tivesse encontrado a minha verdadeira perdição continuava a achá-lo um homem extremamente bonito e atraente.

 - Olá, boa noite. – Sorri-lhe.

 - ¡Hola Madalena, encantada de conocerte. Eres muy guapa! – Elogiou-me Elena, a companheira de Javi, depois de me dar dois beijos na cara.

 Graças à minha enorme fluência na língua espanhola não tive problemas em comunicar com os restantes. Eram, todos eles, muito simpáticos e receberam-me extremamente bem. Durante o tempo em que conheci todos os convidados, Ruben manteve-se sempre do meu lado, de mãos dadas comigo. Agora, achava todos os medos, que sentira anteriormente, sem lógica. Sabia que Ruben estaria lá comigo, isso bastava.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

30º Capítulo: Happy Birthday Lover (Parte I)



   * 27 de Janeiro *

 Toda a conversa com Maria ainda estava demasiado fresca, continuava a dar voltas à cabeça sobre o que Bernardo poderia estar a preparar… “Isto não fica por aqui. Ainda me hás-de procurar”, dissera depois de me tentar beijar. Bem, mas isto teria de ficar para depois, pois hoje era um dia especial. Ruben completava o seu 27º aniversário. Apesar de estar garantido no plantel encarnado na próxima época, Ruben ainda não treinava com os companheiros, dentro de dias poderia voltar a fazê-lo, como tal, hoje, depois do seu habitual treino e do almoço com a sua família, Ruben dedicara a tarde toda para mim.

 Levantar cedo já era hábito e os primeiros raios de sol do dia passavam através das precianas mal fechadas impedindo-me de fechar os olhos e voltar a adormecer, isto e as costas já doridas por estar deitada há demasiado tempo. Embora a diferença de temperaturas entre o interior da minha cama e o ambiente de casa fosse notável levantei-me. Como ainda era cedo, dediquei-me às tarefas domésticas, isto sim era um dos contras de viver sozinha, a casa normalmente tornava-se demasiado grande. No entanto, fui razoavelmente rápida e ainda tive tempo para dedicar o resto da manhã a adiantar trabalho para o semestre que estava aí à porta. Era impressionante o quão curtas eram as nossas férias entre os semestres, e ainda nos queixávamos do tempo de férias no ensino básico e secundário…

 - Meu Deus, cromossomopatias, estão a dar-me cabo da cabeça… - Reclamei ao perceber o que me esperava dentro de dias. O sol brilhava no ponto máximo, o dia estava soalheiro e eu sem saber o que haveria de fazer com tantas doenças…

 Aquela linda declaração de amor fez-se ouvir, a luz do ecrã tátil do meu telemóvel apagava-se e acendia-se consecutivamente. Demorei um pouco a perceber que alguém do outro lado esperava para falar comigo, pois fui invadida por pensamentos e memórias recentes: o dia em que soube que Ruben ficara, o dia em que pensei que tudo era uma ilusão, mas para além de tudo, o dia em que passamos das palavras e promessas para os atos. Estiquei-me o suficiente para alcançar o telemóvel.

 - Ruben. – Chamei assim que atendi e depressa um sorriso parvo iluminou o meu rosto.

 - Bom dia pequenina. Estás bem?

 - Hum, hum e tu grandalhão?

 - Cansado. Vou agora ter com a minha mãe e com o Mauro. Ah, Madalena, não faças planos para logo à noite…

 - Temos planos, nós os dois?

 - É mais ou menos isso. Não te preocupes porque não vais conhecer a minha mãe. – Gracejou.

 - Não tem piada.

 - Tem sim. – Insistiu.

 - Não…

 - Adoro-te. – Declarou interrompendo-me. O silêncio imperou por instantes, as borboletas no meu estomago estavam atiçadas. Adorava ouvir estas palavras da boca de Ruben. Esbocei um sorriso audível ao qual, do outro lado, ele correspondeu. – Daqui a poucas horas estarei ai contigo.

 - Despacha-te. – Pedi egoistamente, mas na verdade as saudades que tinha acumulado durante um mês estavam longe de se extinguirem.



***



 Dei por mim totalmente envolvida no trabalho que me tinha imposto. Os minutos passavam numa corrida desconcertante e, atrás de si, as horas arrastavam-se também elas numa velocidade despercebida. Por esta altura já deveria estar decentemente vestida, visto que ainda me encontrava de pijama. E, obviamente, ainda não tinha almoçado, o meu estômago, ruidosamente, queixava-se por estar, há demasiadas horas, vazio. Suspirei ao ver o trabalho que ainda me faltava, no entanto, tinha mais um semestre para o completar. Arrumei os livros e folhas soltas nas devidas prateleiras da moderna estante do escritório e, próxima paragem: cozinha.

 Esperava que Ruben já não demorasse muito tempo, decidi então preparar algo rápido, pois quanto mais rápido saciasse a minha fome, mais depressa me vestiria, poupando assim Ruben a visões aterradoras que o fariam ficar com medo de mim logo no segundo dia de namoro oficial/ secreto (oficial apenas para nós e para as minhas três amigas, pois por esta altura Maria já deveria ter contado as novidades a Joana e a Sofia… ah, e claro, para Mauro).

 Depois da tentativa de domar o cabelo rebelde, deixei-o solto, moldado em largos caracóis. Do guarda-roupa tirei peças que, na minha opinião, eram apropriadas para uma tarde de passeio ‘invernal’ e que, acima de tudo, passavam despercebidas aos olhos curiosos, ao contrário da companhia.




 Minutos depois, já a minha correria entre o quarto e a casa de banho tinha terminado, a campainha fez-se ouvir. Ruben, do outro lado da porta, fazia transparecer um sorriso magnifico, tal como todos os outros com que eu já tinha sido premiada, embora que, com o passar do tempo, cada um se tornava mais especial do que o anterior e menos do que aquele que lhe precederia. Eram simples e naturais, no entanto, aos meus olhos assemelhavam-se aos sorrisos dos deuses, perfeitos.

 Um passo na minha direção e os nossos lábios uniram-se em completa harmonia. A certo momento, as suas mãos ocupariam a minha cintura e um dos lados do meu rosto e, então, a distância entre nós diminuía mais um pouco. Assegurei-me da total privacidade para prolongar o beijo que tempo depois foi selado com outros mais ligeiros, suaves e rápidos.

 - Parabéns! – Desejei-lhe sorrindo-lhe. Tinha a sensação de que os meus olhos brilhavam denunciando, assim, a felicidade que sentia dentro de mim.

 - Obrigado. – Agradeceu-me, apoiando a cabeça no meu ombro e assim escondendo, por momentos, a cara nos meus cabelos, envergonhado. – Hoje vens jantar comigo, não vens?

 - Hum, jantar romântico… Agrada-me a ideia.

 - Por que é que eu não pensei nisso antes? – Interrogou-se retoricamente.

 - Pensar em quê?

 - Num jantar… só nós os dois… romântico. – Esclarecia-me pronunciando lentamente as palavras como se tivesse a sonhar com o momento.

 - Então, não somos só nos dois…

 - Não, é o meu jantar de aniversário.

 - Vão muitas pessoas? – Ou melhor: A tua mãe vai?

 - Algumas, apenas os amigos. – Menos mal. – Não te preocupes, só vou contar para os meus amigos tal como tu contaste para as tuas. Não há risco de sair cá para fora, até porque eu não tive de pensar só em mim.

 - Os teus amigos também são… conhecidos?

 - Mais ou menos. – Gracejou. Quem seriam estes amigos? Na verdade, o início da relação com Ruben trouxera deveres que nunca me tinham passado pela cabeça, não que não soubesse da existência deles, só que assustavam-me um pouco.

 Enquanto Ruben esperava em frente à televisão, procurei os meus pertences e joguei-os para dentro da mala escolhida. Já no carro de Ruben, envergávamo-nos por caminhos que nos levariam àquele momento de “não quero que acabe!”




 No dia 27 de Janeiro de 1985, nasceu e mais ninguém pregou olho em casa. Sossegado de dia, chorava a noite inteira. Até que cresceu e transformou-se num bom miúdo, apesar de um pouco... comodista. Hoje é uma pessoa lutadora, persistente e, acima de tudo, uma pessoa que acredita em si, no seu valor e no que tem para dar. Um ídolo para uns e, até herói para outros. Este é o Ruben Amorim!

Parabéns Campeão ♥

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

29º Capítulo: Conversa a meio

 Maria estava sentada no sofá, com a televisão ligada, embora não lhe prestasse a mínima atenção. De pernas cruzadas, os cotovelos estavam apoiados no joelho, e as mãos, erguidas, seguravam-lhe a cara. O seu olhar, opaco, atravessava os vidros da porta de acesso à varanda, olhava para o nada. Era uma posição pouco característica de Maria. Provavelmente ouviu-me entrar em casa, mas não fez questão de me olhar. Sentei-me ao seu lado, ligeiramente virada para si.

 - Estive com o Ruben… Nós… Eu queria agradecer-te por tudo. – Tinha a certeza de que naquele momento os meus olhos brilhavam como dois faróis na noite escura e, em parte, graças a Maria.

 - Ai sim? Que bom. – Mostrou-me um sorriso forçado. Não, alguma coisa não estava bem. Esta não era a Maria que no último mês me tinha apoiado e também aberto os olhos em relação a Ruben.

 - Não estás feliz?

 - Devia estar?

 - Maria… - Mas o que se passava com ela? A sua atitude estava a magoar-me. – Pensei que ias ficar contente…

 - Estaria, se fosse há minutos atrás.

 - O que é que aconteceu? Hum? Diz-me!

 - Madalena, tu gostas do Ruben ou só estás com ele por… - Pressão? Dinheiro? Fama? Seria nisso que Maria estava a pensar? Que eu estava com ele para receber algo em troca?

 - Por…? – Incentivei-a a concluir a pergunta. Quem me dera que, da boca dela, as palavras que saíssem não seriam aquelas que eu estava a pensar.

 - Tu sabes, por ele ser um jogador de futebol… e tudo o que isso implica. – Abanei a cabeça para a esquerda e para a direita, repetidamente, na esperança de sacudir os pensamentos. Como era possível? Até à data, Maria confiara em mim incondicionalmente. Como é que lhe poderia passar pela cabeça o facto de eu estar com Ruben por interesse. Sim, porque se fosse mesmo por interesse de certeza que não o teria feito esperar, a ele e a mim. Precisamente 26 dias ansiosa por uma resposta definitiva acerca do futuro de Ruben, e ela tinha presenciado tudo…

 - Pensava que me conhecias! Achas mesmo que…?

 - Não, não acho. – Interrompeu-me. –  Mas, e se eu forcei duas pessoas a ficarem juntas para nada?

 - Forçaste? Para nada? – A minha voz elevara-se alguns tons. Como é que Maria podia pensar estas coisas a meu respeito? Ela conhecia-me, não era suposto ser assim. Olhou-me, esta conversa estava a ser difícil para ambas. – Maria, por favor, meias palavras agora não… Onde é que foste buscar essas ideias?

 - E se tu e o Ruben não devessem ficar juntos? A culpa seria minha, certo? Pois fui eu que te andei a dar na cabeça semanas seguidas para que isto acontecesse… Provavelmente se eu te tivesse incentivado a desistir, ele também acabaria de desistir de ti, não é?

 - O que é que te fez mudar de ideias? – Maria não me respondeu, limitou-se, apenas, a fazer-me outra pergunta.

 - O que é que se passou na noite anterior entre o Bernardo e tu?

 - Nada, não se passou nada, já te tinha dito.

 - Nada? – Procurou uma confirmação, desconfiada.

 - Ele tentou beijar-me, só isso. Mas o que é que o Bernardo tem a ver com o Ruben?

 - Só isso? É bom que não me estejas a mentir, Madalena, porque ele acabou de sair daqui.

 - O quê? O Bernardo esteve aqui? Mas como? Ele nem sabe onde eu moro… - Não sabe… Pensava eu que não sabia, mas ao que parece sabia perfeitamente.

 - Saiu há poucos minutos, por sorte não se cruzaram.

 - O que veio aqui fazer?

 - Veio à tua procura. Parece que deixaram uma conversa a meio… - Agora estava irritada! Mas quem é que ele pensa que é para vir à minha própria casa com insinuações? – Ah, e deixou-te isto. – Agarrou numa rosa vermelha estava em cima do sofá, que por sinal me tinha passado despercebida, e deu-me a.

 - Isto não é o que parece… - Apressei-me a esclarecer, apesar de tudo, a opinião da Maria, para mim, era importante.

 - Isso já não sei. Só te peço uma coisa, não magoes o Ruben. Eu não o conheço mas parece-me uma excelente pessoa.

 - Maria, eu gosto do Ruben. – Declarei, olhos nos olhos, o mais sincera possível.

 - Vou acreditar em ti, mas não cometas nenhum erro… - Assenti. Despediu-se de mim com um beijo na testa e foi embora.

 Possivelmente, o Bernardo tinha-lhe dito mais do que aquilo que ela me tinha transmitido. Ninguém melhor do que Maria para testemunhar o que sentia por Ruben, ela mesma podia provar que os sentimentos que nutria por ele cresciam de dia para dia, e como este último mês tinha sido bastante difícil para mim. O que quer que o Bernardo lhe tenha dito pôs em causa tudo o que ela tinha acreditado e lutado até hoje. Só gostava de saber o que era…

 Há dois anos atrás, nos primeiros dias de estudante universitária, olhar para os alunos da faculdade que iria frequentar era um ato tipicamente humano. De entre todos, caloiros e veteranos, Bernardo, certamente, foi o que mais me chamou à atenção. Nessa altura, posso dizer que o meu coração estava ferido, pois o meu último relacionamento, que durara um ano, vira o seu fim. Mas, com o passar do tempo, as feridas foram sarando e Bernardo foi-se revelando. Mesmo integrando a mesma turma desde o início nunca tivemos uma relação para além de colegas. Na verdade, já tinha doutoramento na espécie humana que Bernardo representava e a experiência dizia-me que quanto mais longe dele melhor. E assim foi… até há pouco tempo.

 Os professores defendiam que o bom relacionamento entre os colegas de turma faria de nós melhores pessoas, pois aprenderíamos a respeitar o outro, a compreendê-lo e, acima de tudo, a conviver com ele. Até aqui tudo bem. No entanto, no meio das boas intenções dos professores, existia uma má ideia: Um dos pontos de avaliação de uma das cadeiras do semestre que acabara no dia anterior, baseava-se numa investigação de grupo, grupos escolhidos pelo professor que lecionava, tal como me lembro de fazer no ensino básico. A princípio a ideia não era má, mas tornou-se horrível quando eu e Bernardo fomos obrigados a passar duas semanas juntos para elaborar o trabalho. Sempre o ignorara, a ele e às suas boquinhas foleiras e, desde que conheci pessoalmente Ruben, tudo tinha melhorado. Ruben tinha aparecido como um escape, onde poderia ser simplesmente eu sem me preocupar com escola, o trabalho e, acima de tudo, com Bernardo, que cada vez mais expressava o seu desejo por mim, não emocional, mas fisicamente. Depois do trabalho de investigação ser entregue ao professor tudo voltou à normalidade, pelo menos para mim, pois voltei a ignorar diariamente Bernardo, para mim não passava de mais um colega. Sinceramente, pensava que o mesmo se sucedia com Bernardo… pensava, até ontem.


sábado, 21 de janeiro de 2012

28º Capítulo: "Para mentires tens de fechar os olhos"


(Ruben)

 Depois de ver Madalena a entrar no seu carro e seguir o caminho oposto ao meu, em direção a sua casa, também eu me fiz à estrada. O local de trabalho da minha mãe, o SPA que tinha sido aberto com a minha ajuda, ficava relativamente perto de minha casa. Por sorte, e em dias normais não diria isto, apanhei a maioria dos semáforos vermelhos, embora o trânsito estivesse mais calmo do que em horas de ponta, assim a viagem seria um pouco mais longa.

 Por vezes, o nosso cérebro começa a divagar e só tomamos consciência quando diversos pensamentos nos alertam para isso. A minha vontade, há minutos atrás, teria sido contar ao meu irmão o quanto Madalena era importante para mim, a diferença não seria muita, visto que Mauro era uma das pessoas mais importantes da minha vida. A ele, tal como a David e à minha mãe, contava tudo, tudo o que podia, como é óbvio. Mas naquele momento queria partilhar a minha felicidade com Mauro, queria dizer-lhe que estava com Madalena, mesmo que isto fosse verdade apenas há horas, ele sabia como nós estávamos, na verdade, sempre foi observador e conhece-me bastante bem, mas quando as palavras saem da nossa boca é também uma expressão de confiança. Confiava em Mauro, sabia que ele não diria nada à nossa mãe, mas também confiava nela, no entanto, devia respeitar Madalena. Não contar-lhe-ia nada, por agora, mas teria de contar a David, pois este era o único que sabia, tal como as amigas de Madalena - Maria, Joana e Sofia -, o quanto aquela jovem mulher era importante para mim.

 Provavelmente, se contasse a Madalena, esta nunca me iria perdoar, mas nem tudo o que os jornais transmitiam era verdade. Neste caso era. Um dos fatores que me impediu de ir para outro clube estrangeiro envolvia a quantia de dinheiro que o Benfica exigia pelo meu empréstimo e que o clube, com quem estava a negociar, se recusava a pagar na totalidade, mas não foi só. Ficara em Lisboa não só por amor ao clube que tanto defendia, independentemente das decisões do atual treinador, desde pequeno, mas também pela minha família, pelos meus amigos e até pelas saudades que viria a ter da ‘minha’ pista de Bowling. E claro, por Madalena. Esta parte, ela não gostaria de ouvir. Conhecia-a há cerca de dois meses e meio, não podia dizer que a amava porque não iria ser verdade, gostava dela, apenas. Em outras alturas, tinha-me afastado dela ou teríamos ficado apenas como amigos, no entanto, algo me dizia, ou melhor, sentia que não podia deixá-la para trás, embora a conhecesse há pouco tempo, tudo o que sentia por ela aumentava de dia para dia. Sentia que valia a pena lutar por ela, esperar por ela, sabia que se arriscasse não me iria arrepender. No futuro, irei ver se isto será verdade. Enfim, Mauro sabia a verdade, contra ou a favor da vontade de Madalena, quanto a isso não havia nada a fazer, o importante agora era preparar-me para enfrentar a mulher que mais amava no mundo, a minha mãe.

 Depois de percorrer vários quilómetros envolvido em pensamentos, tentei arranjar um lugar no estacionamento ao longo da rua onde pudesse deixar o carro. Tarefa algo difícil nas ruas de Lisboa mas não impossível. Caminhei até ao local de trabalho da minha mãe e lá estava ela. Parecia um pouco inquieta, estava de costas e não parava de andar de um lado para o outro com uma pequena pasta nas mãos.

 - Mãe? – Chamei antes de a cumprimentar, não queria correr o risco de a assustar, não neste momento.

 - Diz meu filho, precisas de alguma coisa? – Deu meia volta, olhando-me. A Dona Bela estava chateada, era visível.

 - Eu… já não vou para fora.

 - Já soube. – Afirmou voltando-me novamente as costas e começou a ‘passear’ novamente a pasta. Segui-a mantendo-me atrás de si.

 - O Mauro disse-me tinha ficado chateada por eu não lhe contar…

 - Não estou chateada. – O seu tom de voz despertava uma certa piada em mim, com esforço controlei-me para não soltar uma gargalhada.

 - Mãe não me minta.

 - Ruben Filipe que modos são esses de falares comigo?

 - A mãe é que está toda chateada, e não diga que não porque hoje ainda nem me falou. – Reclamei.

 - Já não confias na tua própria mãe? – Perguntou-me, preocupada, cumprimentando-me com dois beijos como sempre fazia.

 - Claro que confio, só não pude dizer nada.

 - E por que é que não vieste mais cedo?

 - Tinha coisas para fazer…

 - O que é mais importante que a tua própria mãe, que teve de ficar a saber as novidades do próprio filho através de um jornal?

 - Oh mãe, a sério? Se não vim mais cedo foi porque não pude.

 - Era uma coisa assim tão urgente? Sim, porque eu sei que estiveste com o teu irmão.

 - Mãe, eu já pedi desculpa, agora quer ir almoçar com o seu filho ou não?

 - Estiveste com ela, não foi?

 - Com quem?

 - Com a rapariga de quem já me tinhas falado. Qual era o nome dela, mesmo?

 - Não sei do que a mãe está a falar… - Coloquei uma expressão confusa no rosto, como se não soubesse do que ela estava a falar.

 - Meu amor, não te faças de desentendido. – Sorriu-me. - Madalena, era esse o nome dela. Estou enganada?

 - O que tem a Madalena?

 - Estiveste com ela, não foi?

 - Não mãe, não estive com ela.

 - Para me mentires tens de fechar os olhos, eles dizem-me tudo.

 - Pois, mas vamos ao nosso almoço ou não? Estou a ficar com fome. – Disse passando a mão pela barriga que soltava gemidos de fome e, claro, desviando o assunto que a minha mãe teimava em trazer à tona. Esta assentiu, percebendo todo o esforço que eu fazia para não falar demais. Seria tudo na devida altura.




(Madalena)

 Sentia um enorme desejo e pressa de chegar perto de Maria para lhe puder contar tudo. A felicidade que sentia ia para além do insuportável, era indomável. Interiormente sentia-me grande, o meu sorriso alargava-se o mais que podia até os cantos da boca e as bochechas me doerem. Estava numa felicidade tão grande que tinha a sensação que por onde passava as pessoas que, de passo acelerado, enchiam os passeios e aquelas que permaneciam nos respetivos carros sem paciência para esperar no trânsito um pouco intenso, olhavam para mim, embora não o fizessem, e que descobriam o motivo da minha felicidade. Queria chegar o mais rápido possível a casa, hoje, era eu que estava impaciente no meio das enormes filas que se formavam atrás de mim.

 A estrada continuava à minha frente e, em plena hora de almoço, eu percorria-a. Os meus pensamentos voaram para um local que ficava a cerca de 180 km de distância – a casa dos meus pais. Gostaria de voltar lá, tinha saudades do meu pequerrucho, além disso, sentia uma enorme curiosidade acerca da reação que o meu pai teria quando soubesse da mais recente novidade, pois desde pequena me tentava impingir o gosto pelo Benfica, tarefa que nunca alcançou os objetivos. Lembro a última troca de palavras nossa sobre este assunto, ele dissera-me: “A minha filha está a acordar, finalmente!”, quando viu que estava, atentamente, a ver o almoço de Natal da equipa encarnada, respondera-lhe: “Pai, não comece!”. Ele começava sempre, ainda tinha a esperança que um dia viesse a construir o amor benfiquista, mas tal não iria acontecer, porque eu não era como a maioria das pessoas que têm um clube porque defende cores bonitas, ou porque a família é toda ela desse clube, muito pelo contrário, eu defendia o meu clube porque era por este que tinha um grande e forte amor. Mas, o que é certo é que não me tinha apaixonado por um adepto, mas sim por um jogador desse clube, provavelmente haveria diferença. Quanto à minha mãe, tenho a certeza que compreenderia, pois ela confiava em mim e nas minhas escolhas, para ela não importava a posição social que ocupava, o emprego que tinha, importava apenas a pessoa que era. Estava tão feliz que desejava poder telefonar já para casa e contar tudo o que se havia passado no último mês, mas não o fiz, esta excitação haveria de passar.




Antes demais, quero agradecer todos os comentários de apoio que me têm feito.
É muito gratificante saber que gostam do que escrevo.

Obrigado por lerem a minha FIC'  ♥

Jéssica