A voz que eu
tanto ansiava ouvir teimava em permanecer substituída pelo irritante ‘pi’ que o
telefone emitia ao meu ouvido durante a chamada. Como tantas outras vezes, e
nenhuma como esta, precisava do seu ombro amigo, precisava de falar tudo o que
guardava para mim. Joana poderia ter razão em relação a Ruben e eu não lhe
tinha dado ouvidos, porque tinha sido parva, porque estava deslumbrada e, num
curto espaço de tempo acabara magoada. Por um lado, estava triste porque
entrara na minha vida no momento em que esta estava emocionalmente estável, por
outro, agradecia a sua entrada pois fizera despertar em mim emoções e
sentimentos que eu tinha esquecido.
Finalmente, a
voz que tanto desejava ouvir interrompeu a sequência de ‘pis’.
- Correu mal,
não foi?
- Maria, eu…
- Eu vim deixar
a Joana em casa e vou já ter contigo, pode ser?
- Sim. –
Desliguei.
«Uma ruptura
radical será sempre mais fácil de curar…», li algo parecido há tempos.
Sentei-me no
sofá com uma almofada sobre as pernas, os meus olhos apreciavam a beleza do
anoitecer que era visível através das portas de vidro que davam acesso à
varanda. Pela minha cabeça passavam todo o tipo de pensamentos, memorias.
Maria
apressava-se a tocar à campainha repetidamente e eu, lentamente, abri-lhe a
porta.
- Foi assim tão
mau? – Maria estava preparada para o caso de eu me desfazer em lágrimas, o que
não iria acontecer. Era forte o suficiente para durante 21 anos nunca ter
deitado uma única lágrima por um rapaz, neste caso, por um homem.
- Não fui eu
que estraguei tudo.
- Eu sei… -
Olhei para Maria como a pedir uma resposta. Como é que ela sabia? – Quando cheguei
o Ruben ainda estava lá em baixo.
- Estava?
- Sim.
- Que coragem…
- Então, está
tudo ‘bem’? – Os seus olhos analisavam-me.
- Não, não está
tudo bem. Mas não vou chorar por isso. Não vou ser daquelas raparigas patéticas,
cujo mundo acaba por causa de alguém.
- Tudo bem,
então.
- Ficarei bem. –
Declarei, e não estava a mentir.
- Eu não te vou
dar concelhos, Madalena. Não há nada pior do que ajudar quem não pede ajuda. E
muito menos te vou dar lições, eu não dou lições.
- Maria, o
Ruben possivelmente irá para Itália ou para outro país qualquer, e eu não quero
colocar a hipótese de ele ficar, estaria a alimentar esperanças que não quero
que existam. Todos os dias leio notícias que afirmam que será mesmo esse o seu
caminho.
- Meu amor, mas
há tantos casais que mantém uma relação à distância…
- E que mais
tarde ou mais cedo acabam por se separar por não haver mais condições para
manter essa relação. Eu e o Ruben não somos nenhum casal, muito menos nutrimos
sentimentos suficientemente fortes para suportar 2200 quilómetros.
- Gostas dele?
- Se o negasse
estaria a mentir… Os sentimentos são maravilhosos, mas não chegam.
Levantei-me sem
nada dizer, atravessei as portas de vidro agora abertas. A varanda ficava na
parte frontal do prédio, assim tinha visão total da entrada deste. O
reconhecível Audi ainda estava parado no estacionamento mais próximo da
entrada. Maria ainda se encontrava sentada no sofá, passei por ela sem a olhar.
O elevador estava parado no meu andar, assim chegaria mais rápido ao
rés-do-chão. Ruben encontrava-se já fora do seu carro, encostado à porta do
condutor, de costas para mim.
- O que é que
ainda estás aqui a fazer? – Perguntei ao pisar o pequeno passeio que nos
separava. Sentia a presença de Maria mesmo atrás de mim.
- Madalena, eu…
Nada disto era para ser assim…
- Ruben vai-te
embora.
Em largas
passadas, contornou o seu carro parando a poucos centímetros de mim. Com a sua
mão, preparava-se para me tocar no rosto. Voltei a aumentar a distância entre
nós.
- Sai daqui! Eu
não devia ter acreditado em ti, nunca, acreditei que querias ficar, acreditei
num ‘nós’, e tu? Como conseguias mentir-me?
- Eu nunca te
menti!
- Ocultaste a
verdade. Qual é a diferença? Tu sabias tudo o que estava a acontecer e também
sabias as consequências que viriam, não me contaste nada. Deslumbrei-me
demasiado contigo, e agora? Agora sais da minha vida quando te tornaste tão
especial.
- Eu não quero
sair da tua vida.
- Não importa.
- Importa, sim!
Por que é que estás a agir como se tivesses a certeza que eu me vou embora?
- Porque é uma
oportunidade para jogares mais, para te destacares. Porque é o melhor para ti.
- Tu não sabes
o que é melhor para mim, nem sabes o que eu quero! Sabes porquê? Porque tu
nunca me ouviste!
- Tens razão, peço
desculpa. Posso-te ao menos fazer mais um pedido?
- Claro. – O
seu semblante era de tristeza, queria dizer-lhe precisamente o contrário,
queria pedir-lhe para ficar, mas não podia. Não podia interferir mais na vida
de Ruben.
- Vai-te embora
e segue como se nunca nos tivéssemos conhecido.
- Madalena, tu
estás tão enganada.
- Acredito que
não estou. Boa sorte, Ruben.
- E se eu
ficar…?
- Conheci um
homem, nós conversámos, foi épico… Mas então, caímos na realidade. É esta a
nossa história, Ruben. Não quero alimentar mais esperanças.
Aquelas palavras,
por muito bonitas que soassem, tinham um significado contrário. De cabeça baixa,
entrei novamente no prédio acompanhada por Maria. O curto caminho até casa foi
feito em silêncio, o meu coração bombeava o sangue com toda a força, as
barreiras que o protegiam começaram a desmoronar, uma a uma.
- O que é que
eu fui fazer? – Perguntei retoricamente.
- Excluíste-o
da tua vida…
- Foi o melhor
para os dois.
- Acreditas
mesmo no que estás a dizer?
Tua Fic é linda!!! continua
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