sábado, 25 de fevereiro de 2012

35º Capítulo: A palavra (Parte II)

 
 
 Numa correria infantil, Ruben e Mauro foram os primeiros a chegar à mesa, sob as ordens de Anabela para que fossem com calma. Enquanto a mãe de ambos servia os pratos vazios, e os irmãos previam que seriam os últimos, Anabela soltava pequenas gargalhadas. Imaginava que, por vezes, a senhora não sentisse a nostalgia da infância dos filhos, porque vinte e muitos anos depois, as brincadeiras e discussões entre ambos certamente seriam semelhantes.

 - Meninos, vamos lá ver a brincadeira… - Avisava a progenitora.

 - A culpa é dele. – Reclamava Ruben colocando o seu dedo indicador num frente-a-frente com a cara de Mauro.

 - Cala-te pá! – E caía um açoite na nuca de Ruben.

 - Então? Queres apanhar? – Ameaçava o Amorim mais novo.

 - Parem já imediatamente! – Ordenava, finalmente, Anabela.

 E era assim que se acabavam as brincadeiras entre eles. Por pouco tempo… Quando estas cessavam, a mãe de Ruben estabelecia uma nova conversa entre todos, mas especialmente para me tentar conhecer melhor, e eu àquela família, claro. Falávamos desde o meu percurso escolar, os meus sonhos, gostos, a minha família, e eu respondera a tudo com a máxima sinceridade possível, na verdade, não me importava minimamente que os presentes me perguntassem seja o que for. Preferia assim em vez de procurarem saber coisas a meu respeito nas minhas costas. Até mesmo a própria família me contara as histórias da mesma, desde a infância dos irmãos, dando mais relevo à infância de Ruben, aos seus sonhos, a luta constante para ser melhor… Ruben exibia um ar majestoso e Mauro contra argumentava sempre com a intenção de se equivaler ao irmão.

 Depois do delicioso almoço, seguiram-se as sobremesas que todos fizemos questão de repetir. Acho que nunca tive a noção do quanto Ruben comia… e quando se falava da comida da mãe… Enquanto Ruben e Mauro seguiam para a sala de estar, novamente, eu e Raquel insistimos em ajudar a Dona Bela a arrumar a sala de jantar e também a cozinha. Embora recusasse várias vezes a nossa ajuda, acabou por ceder.

 Entregues ao trabalho doméstico, a progenitora aproveitava para estabelecer conversas sobre como eu e Ruben nos tínhamos conhecido, o que me levou a desejá-lo… Na verdade, Anabela sentia um pouco de receio da hipótese de eu estar com Ruben apenas por tudo o que a sua condição social e profissional lhe oferecia. Tentei ser o mais simples, tentei ser eu, pois se ela viesse a gostar de mim que fosse pelo que eu era. Por fim, o aviso e conselho para não magoar o seu filho.

 De bandeja nas mãos voltei para junto de Ruben, com as bonitas chávenas de café, a namorada de Mauro seguia, à minha frente, com o recipiente do café e do açúcar, já Anabela, sentou-se no meio dos dois filhos. Raquel serviu as várias chávenas enquanto a mãe de Ruben, como mãe galinha que era, embora a desculpa de Mauro fosse a velha desculpa do filho preferido que achava ele ser Ruben, nos mostrava as fotos dos irmãos em tenra idade, ou melhor, mostrava-me pois Raquel parecia já as ter visto várias vezes.

 É sempre constrangedor quando nos começam a apontar os nossos defeitos, foi assim mesmo que Ruben ficou quando a sua mãe descreveu ligeiramente Ruben na infância, e claro, Mauro exagerara um pouco e a discussão de crianças retomara. Nada que a Dona Bela não conseguisse resolver com umas palavras de ordem.

 Ruben teria sido uma criança com os horários trocados, pois de dia era um calmo e simpático rapazito, mas há noite sabia mostrar que tinha bons pulmões. As fotos desapareciam com o virar da página, várias na praia ao lado do seu irmão, com o pai, com a mãe, curiosamente, a maioria delas sempre separados, mas não insisti nesse pormenor, com mais outros familiares e junto da enorme colecção de carros. Comodista, Anabela assim o descrevera, mas neste momento não o conseguia ver assim, possivelmente teria mudado, o egoísmo não encaixava na pessoa que eu sabia que adorava ajudar crianças, que tinha amigos maravilhosos, na pessoa que eu estava a adorar conhecer.

 Durante algum tempo deixámos de ter direito à televisão, pois o vício da PlayStation falara mais alto, mas não nos importámos, a conversa, à volta da lareira, permanecia. Estava há poucas horas na casa da família, no entanto, o meu à vontade era visível e, Ruben mostrava-se contente por isso, nas alturas em que o jogo o permitia desviar o olhar da televisão e fixá-lo, por segundos, em mim.

 Quando tomou a noção das horas, Ruben largou o comando veio juntar-se a nós, seguido por Mauro. A tarde ia a meio e o sol de Fevereiro começava a navegar para ocidente. Os presentes acompanharam-nos até à porta de entrada principal, despedimo-nos de todos e eu agradeci a Anabela que, por sua vez, deixou um convite em aberto para regressar mais vezes àquela casa. Certamente que iria, pelo menos, assim esperava eu, porque se voltasse isso significava que continuava com Ruben e, neste momento, era algo que eu desejava.

 - Madalena. – Chamou-me, parando um passo atrás de mim, enquanto caminhávamos para o seu carro, até então estacionado ao lado do carro de Mauro, na garagem. Olhei-o, os seus olhos estavam brilhantes, mas a sua expressão facial nada mostrava. Talvez este fosse um dos casos onde se pode dizer que um olhar fala mais do que mil palavras. Acabei por virar-me para ele, na totalidade. As suas mãos seguravam a minha desocupada, pois a outra segurava a mala, numa concha imperfeita envolveu-a, sempre com o olhar posto nestes movimentos. Finalmente, voltou a olhar-me, olhos nos olhos e sorriu, um sorriso nervoso é certo. É certo, também, que eu não precisava de ter presenciado aquele magnifico sorriso para saber que um nervoso miudinho tomava conta de si, a pressão que exercia na minha mão denunciava-o.

 - Sim? – Encorajei-o. Permiti-me prender o seu olhar no meu, os seus cantos da boca elevavam-se tal como os meus.

 - Eu… Uh… - Gaguejou.

 - Ruben, fala.

 - Calma. – Pediu-me, em seguida, encheu os pulmões de ar e libertou-o fortemente. – Isto vai parecer… uh, estranho, mas… - Desta vez nada disse, dei todos os segundos necessários para que Ruben ganhasse coragem para finalmente dizer o que queria e não tinha coragem. O seu olhar baixou novamente para as mãos, desta vez entrelaçou os dedos e voltou a olhar-me nos olhos. – Isto quando era puto era bem mais fácil… Madalena, não quero que penses que estou a brincar contigo ou que estou a ir depressa demais, mas a verdade é que… - Voltou a inspirar e a expirar uma enorme quantidade de ar. – Madalena, eu amo-te.

 «Eu amo-te», duas simples palavras que tanto significavam. Naquele momento, nada fui capaz de dizer, o nosso olhar, preso um no outro, podia transmitir sentimentos que as palavras não conseguiam descrever nem os gestos expressar. Hoje em dia, estas palavras estavam demasiado verbalizadas, a maioria das vezes são ditas quando não deveriam ser, pois, por vezes, os sentimentos que existem em nós são menos intensos que a própria palavra que, por sua vez, é menos intensa que o verdadeiro sentimento que representa. Apesar disso, Ruben não falava aquilo da boca para fora, o seu olhar não o deixava mentir e cada brilho que passava naqueles olhos castanhos, confirmavam cada palavra saída da sua boca.

 Queria poder admitir que o que sentia por ele era mais do que um simples ‘adoro-te’, mas não tinha a certeza se o sentimento era grande o suficiente para preencher toda a grandeza da palavra. Poderia ter respondido “Eu também”, como tantas pessoas o fazem, mas esse “Eu também” não significa “Eu também te amo”, embora a maioria o tome como tal, talvez pela ânsia de se sentirem amadas de verdade, e não adoradas como provavelmente o são.

 Ruben ansiava para que as minhas palavras também se fizessem ouvir, mas tudo o que saiu dos meus lábios foi um enorme sorriso. As nossas mãos desenlaçaram-se, os seus braços fortes rodearam a minha cintura e, os meus, pousados nos seus ombros, permitiam-me puxar-lhe os pequenos cabelos da nuca. O meu corpo, devido à força dos seus braços, bateu no seu, sentia o seu tronco perfeitamente delineado por debaixo da fina camisola de inverno, pois hoje o sol brilhava, quente e acolhedor. Os nossos lábios, entreabertos, colaram-se lentamente um ao outro e, numa sintonia perfeita, explorámos a boca um do outro com desejo contido, suavidade exagerada, mas sobretudo, com sentimento. Rapidamente as fracas barreiras foram quebradas, o ambiente entre nós começava a aquecer demasiado, além disso estávamos no jardim frontal da casa. Fui eu a quebrar todo aquele momento e arrastei-o para o interior do carro. Sentados nos respetivos lugares, prontos para rumar consoante as ideias não definidas de Ruben, pois para programar algo para nós era sempre no momento. Iriamos ter a lago algum.

 - Achas que algum dia vais sentir por mim o que sinto por ti? – Perguntou, provavelmente inseguro e com medo de nunca ser amado por mim.

 - Sim, eu sei que sim. – Pousei a minha mão na sua perna, Ruben mostrou o maravilhoso sorriso que, embora os dias passassem, nunca me chegara a habituar, nem sabia se algum dia chegaria. Ligou o carro e a estrada acabara de se estender à nossa frente.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

35º Capítulo: A palavra (Parte I)


 Não sabia como haveria de ir vestida e Ruben já não tardaria a chegar. Se fosse demasiado arranjada corria o risco de a mãe de Ruben pensar que eu era uma espécie de mulher da vida, e claro, a ocasião não era para tanto. Tinha medo de não ser ‘aprovada’, sabia que a mãe era uma das pessoas mais importantes na vida de Ruben, só por isso nunca o iria colocar numa situação de escolher entre nós as duas, porque também eu queria ser acolhida por aquela senhora.




 Já vestida, e com algumas peças de roupa espalhadas pela cama, coloquei-me em frente ao espelho várias vezes para ter a certeza de que a maquilhagem não estava demasiado carregada, ou para me certificar de que todas as cores combinavam para não parecer uma espécie de árvore de natal.

 Ainda faltava alguns minutos para a hora marcada, mesmo assim reclamava sozinha pelo facto de Ruben ainda não ter chegado a minha casa. Ele não podia chegar atrasado, não hoje. O que iria pensar a sua mãe se chegássemos atrasados? Que a culpa era minha, claro, que eu não sabia cumprir horários.

 Dois minutos. Estava preparada para enviar uma mensagem de texto com o intuito de apressá-lo, quando Ruben tocou à campainha. Recebi-o com um enorme sorriso e um suave beijo que Ruben tentou prolongar. A sua mão, atrás das costas, segurava uma linda rosa vermelha, um vermelho escuro que dava a sensação de que era feita de veludo, sem espinhos, apenas a rosa vermelha com três pequenas folhas e o seu simbolismo.

 Depois dos seus elogios e de me assegurar vezes sem conta que estava decente, embora as palavras que saíram da boca dele fossem ‘perfeita’ e ‘maravilhosa’, teríamos ainda algum tempo de caminho até à casa da mãe e do irmão de Ruben.

 Acho que esperava que a casa da família de Ruben fosse um apartamento, ou algo do género, e nunca aquela enorme vivenda que se estendia à minha frente. Sabia que Ruben, graças a todas as partes económica e financeiramente boas que o futebol proporcionava, tinha ajudado a mãe a concretizar o sonho de abrir um SPA e também lhe comprara uma casa, neste caso, uma vistosa vivenda limitada por altos arbustos. Só quando Ruben abriu o portão para colocar o carro dentro da propriedade é que tive a noção do quão grande deveria ser. Um grande jardim relvado na frente da casa, que se estendia de um lado ao outro, tomando a exceção de acesso à garagem. Esta, por sua vez, também tinha acesso ao jardim das traseiras, um grande espaço verde, com uma mediana piscina a um canto e, no lado oposto, algo que as mulheres, no geral, gostam de cuidar: as suas plantas. Ali existiam uma enorme variedade de plantas de várias cores, desde rosas, a orquídeas, passando também pelas hortências. No pequeno alpendre, duas cadeiras de baloiço estavam separadas por uma pequena mesa de apoio. A partir do interior da casa, a porta do alpendre dava acesso a um pequeno corredor que ia diretamente à cozinha. Provavelmente seria nesta divisão que Anabela se encontrava. Um pequeno arrepio percorreu o meu corpo, Ruben sentiu, pois estávamos de mãos dadas. O seu polegar desenhava pequenos círculos na minha mão para que descontraísse. A porta abriu-se, o pequeno corredor tornou-se ainda mais pequeno e, à direita, ali estava a senhora, de costas voltadas para nós. Parecia um tanto atarefada, cantarolava algo e os seus braços não paravam perto do fogão. Não tinha dado pela nossa presença. Ruben caminhou silenciosamente até se colocar lado a lado com a sua figura materna e, consigo me levou. Depressa envolveu a senhora nos seus fortes braços e beijou-lhe a face, ao qual ela correspondeu com satisfação.

 - Meu filho, hoje chegaste cedo, nem parece teu. – A mãe de Ruben passava as costas da mão pela cara do seu filho mais novo, acariciando-o.

 - Mãe, deixe-me apresentar-lhe a Madalena, a minha namorada e a culpada por ter chegado tão cedo. – Com um sorriso contagiante, a mãe de Ruben beijou-me as faces. – É a minha mãe. – Dirigiu-se, desta vez, para mim.

 - É um prazer conhecê-la Dona Anabela. – Anunciei educadamente.

 - Minha querida, não me trates por Anabela, Bela é o suficiente. – Passou a sua mão pelo meu braço enquanto Ruben me puxava um pouco mais para si. – És muito bonita, Madalena. – Elogiou-me.

 - Obrigada.

 - É, não é? Eu também acho. – Disse Ruben com o seu ar de graça.

 - Sim, sim. Vão para a sala de estar ter com o teu irmão. Quando o almoço estiver pronto eu chamo-vos.

 - Não precisa de ajuda, Dona Bela? – Ofereci-me para ajudar pois a senhora estava visivelmente ocupada.

 - Não, deixa estar. Obrigada. Vai lá com ele se não a Raquel não consegue aguentar estes dois juntos. – Gracejou e eu sorri.

 Saímos da cozinha e entrámos no hall de entrada, onde, deste, partiam umas graciosas escadas até ao primeiro andar onde supostamente seriam os quartos. Duas divisões surgiam para lá das paredes laterais do hall, uma oposta à outra. Assim, do lado das escadas, a sala de estar e oposta a esta, a sala de jantar.

 Raquel, a namorada de Mauro, aninhava-se nos braços do namorado que, por sua vez, fazia zapping com o comando da televisão. Quando nos viram entrar, depois do esgar emitido por Ruben para avisar que o casal não estava sozinho, ambos se levantaram para nos cumprimentar.

 - Temos aqui uma guerreira. – Brincou Mauro. – Conhecer a Dona Bela não é coisa fácil. – Gargalhou.

 - Não a assustes, ela não queria vir. – Avisou Ruben.

 - Bem, então deve gostar mesmo muito de ti… A Raquel demorou quase um ano para a conhecer…

 Os meus olhos arregalaram-se, seria assim tão mau? A senhora parecera-me tão simpática…

 - Estou a brincar, aposto que ela, mesmo conhecendo-te mal, já gosta de ti.

 - Achas mesmo? – Perguntei a Mauro.

 - Tenho a certeza! Para ela, quem faz sorrir esse aí, já tem lugar garantido no céu.

 Depois de poucos minutos juntos, já percebia o que a mãe de Ruben dissera sobre a Raquel não os aguentar juntos, pelo menos sozinha. Quando os irmãos se juntavam pareciam duas crianças, mais ainda se pelo meio estava uma partida na PlayStation. Raquel e eu, sentadas no sofá atrás dos nossos homens, soltávamos gargalhadas pelas figuras que ambos faziam. Era fácil mantê-los entretidos, mesmo que isso implicasse que cada um levasse uns carolos do outro ou que discutissem as qualidades de cada um, apenas para provarem quem era o melhor. No entanto, era divertido ver todas aquelas brincadeiras.

 Um suave odor ia preenchendo o ar à nossa volta, do lado oposto à sala de estar, algo em cima da grande mesa de jantar fumegava, fruto de várias horas de trabalho. Depressa vimos a figura materna dos irmãos entrar na sala de estar, exibia agora um outro conjunto de vestuário. Aquela senhora, apesar das dificuldades que tinha ultrapassado, com êxito, na vida, era uma senhora bonita, educada, simpática, pelo menos, assim parecia. Provavelmente, seria uma das melhores mães do mundo, tinha a certeza disto ao sentir o ambiente que se formava quando ela e os filhos estavam juntos. Senti saudades de casa.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

34º Capítulo: Por vezes, é preciso arriscar

 Devido ao jogo ocorrido durante a semana, Ruben ficara com o domingo livre. Bem, talvez não tão livre. A Dona Bela, mãe de Ruben, convidara os seus filhos e a namorada de Mauro para o almoço, em sua casa. Esta senhora adorava reunir a família e desejava, claramente, o aumento desta, não que quisesse ter netos neste preciso momento, havia outras formas de aumentar o número de novas caras à mesa. Isto significava convidar-me. A mãe de Ruben conhecia demasiado bem o seu filho mais novo para saber que alguém ocupava um cantinho do seu coração, embora eu nunca tenha sido apresentada à senhora, nem como uma simples amiga, esperava que Mauro, nada tenha dito.

 Sábado à noite estava na companhia de Maria, Joana e Sofia, de pijamas vestidos, acompanhadas por enormes tigelas de pipocas de microondas. O que a princípio era uma noitada com a cabeça enfiada nos livros, depressa se tornou numa maratona de filmes de comédia romântica. Visto que era a única que vivia sozinha, a minha casa tornava-se palco destes pequenos programas.

 O filme decorria, Joana começava a deitar as primeiras lágrimas de emoção, quando o meu telemóvel vibrou, assustando-nos.

 - Ruben. – Atendi.

 - Minha pequenina, interrompi o estudo?

 - Não, desistimos. Estamos a ver um filme.

 - Podíamos ver os dois…

 - Deixa-te de ideias, Ruben Filipe!

 - Hum, hum. Olha, amanhã almoças connosco?

 - Ah… Ruben. Não sei… - Respondi indecisa.

 - Então?

 - Ainda é tão cedo. Não sei… Começámos há tão pouco tempo.

 - E isso importa?

 - Ruben, tu queres apresentar-me à tua mãe como tua namorada! Tens noção do que me estás a pedir? E se isto entre nós não der certo?

 - Madalena, estás com dúvidas?

 - Não. – Esclareci prontamente.

 - Então qual é o problema?

 - Ruben… - Chamei num suspiro. – Tenho medo.

 - Tens medo da minha mãe? – Procurou uma confirmação com um certo divertimento.

 - Não é da tua mãe. Mas e se ela não gostar de mim? E se eu não for o tipo de pessoa que ela quer para ti?

 - A minha mãe não tem nenhum tipo de pessoa ideal, ela só quer que eu seja feliz.

 - Tem. Todas as mães têm!

 - Isso até pode ser verdade, mas não há motivos para ela não gostar de ti. Aliás, eu é que tenho de gostar de ti. – Sabia que eu tinha razão, no entanto, discutir qualquer assunto com Ruben era como nadar contra a corrente, acabava sempre por ficar sem argumentos.

 - Está bem, ganhaste. – Cedi.

 - Isso quer dizer que vens?

 - Eu não disse que ia…

 - Oh pequenina, anda lá. – Insistiu.

 - Deixa-me pensar só mais um bocadinho, está bem?

 - Sim. – Assentiu contrariado e o silêncio acabou por imperar por instantes.

 - Ruben? – Voltei a chamar para confirmar se a ligação ainda se encontrava estabelecida.

 - Diz.

 - Estás chateado?

 - Não.

 - Então, vou desligar está bem?

 - Sim. Adoro-te.

 - Eu também. – Disse e desliguei tatilmente a chamada.

 Quando atendi a chamada de Ruben afastara-me um pouco para não incomodar Joana, Sofia e Maria. Agora, retomava ao meu lugar.

 - O bonitão já não consegue viver sem ti? – Brincou Sofia desviando, rapidamente, o olhar da televisão.

 - Vamos ver… - Suspirei.

 - Então, problemas? – A minha resposta, seguida do suspiro, despertou a curiosidade das três, mas foi Joana que formulou a pergunta.

 - O Ruben quer que eu vá almoçar com ele amanhã.

 - Onde é que está o problema? – Questionou, mais uma vez, Joana.

 - Com o irmão dele… e a mãe. – Completei.

 - Vais conhecer a sogrinha? – Perguntou Maria, com um ligeiro tom de gozo.

 - Não comeces. – Avisei. – O mais certo é nem ir.

 - Não vais? – Encolhi os ombros par expressar a minha indecisão. – Por que é que não vais?

 - Porque acho demasiado cedo, não namoramos assim há tanto tempo.

 - Espera lá, mas não foste tu que disseste que querias fazer parte da vida de Ruben? – Maria assemelhava-se ao meu tribunal pessoal, isto é, tudo o que eu dissesse poderia ser usado contra mim.

 - E quero, mas… conhecer a mãe dele? Já?

 - Por que não?

 - Ela pode não gostar de mim e eu faço ideia do quanto Ruben gosta e admira a mãe.

 - E eu faço ideia do quanto ele iria gostar que fosses com ele…

 - Madalena, conhecer a sogra não é assim tão mau… - Brincou Sofia.

 Voltei a agarrar no telemóvel que estava caído ao meu lado. Passei, rapidamente, os dedos pelo ecrã tátil nos respetivos lugares de cada letra.


       Espero por ti amanhã.
       Não te atrases, porque eu gosto de chegar a horas.


 Tal como elas, voltei a dedicar a minha atenção ao filme, mas poucos minutos depois o vibrar do meu telemóvel voltou a aprisionar a minha atenção.


       Obrigado por vires!
       Adoro-te Madalena ;)


 Sorri, o que não passou despercebido a nenhuma das três e, assim, provavelmente, deduziram a minha resposta a Ruben.

 Um ‘adoro-te’ vindo de Ruben era algo que formidável, maravilhoso, fascinante, no entanto, sabia que, no meu coração, algo maior eu guardava.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

33º Capítulo: Importância da amizade

 Os dias passaram a correr, Maria continuava chateada comigo até ao ponto de recusar um programa feminino no Shopping, logo ela que adorava compras. No entanto, e talvez por não estarem tão envolvidas como Maria esteve na minha história com Ruben, Joana e Sofia continuavam as mesmas pessoas de sempre. Joana dividia-se entre o seu emprego para a ajudar a pagar os gastos da universidade e ainda cuidava do irmão mais novo nos tempos livres para que os seus pais pudessem trabalhar descansados, sabia que era desgastante mas nem o cansaço da vida de trabalhadora-estudante derrotava Joana. Sofia continuava felicíssima por estar à espera de um filho de Rodrigo e, por falar nele, pode-se dizer que estão bastante próximos, embora atuassem com bastante calma.

 Até que… “But I set fire to the rain / Watched it pour as I touched your face / Well, it burned while I cried / ‘Cause I heard it screaming out your name, your name!”. O despertador voltara a arrancar-me do sono e, consequentemente, da cama. As aulas recomeçaram, isto implicaria passar mais tempo com Maria, o que considerava uma coisa boa, mas também significava mais tempo com Bernardo, o que era, definitivamente, uma péssima consequência.

 Quando cheguei à faculdade já os parques de estacionamento se encontravam praticamente lotados e os grandes corredores quase vazios, isso queria dizer que estava atrasada. Com todos os meus colegas de turma já sentados nos respetivos lugares, entrei, pedindo desculpa ao professor pelo atraso, ao qual ele me respondeu com cara de poucos amigos e sentei-me ao pé de Maria.

 Tentei, num sussurro, estabelecer um diálogo com Maria, mas esta, a poucos centímetros de mim, fingia que não ouvia.

“Precisamos de falar”. Escrevi rapidamente num pedaço de papel e coloquei-o na sua mesa, discretamente. Sem a mínima vontade olhou para o papel rasgado, escreveu qualquer coisa e colocou-o à ponta da mesa, para que eu o conseguisse alcançar.
“Sobre?”

     “Sobre tudo. Esperas por mim no final da aula?”

     “Tenho coisas para fazer antes da próxima aula.”

     “Eu não te roubo muito tempo. Por favor.”

     “Tens 5 minutos.”

 Olhei para ela, mas Maria voltou a fixar o olhar no professor. Cinco minutos, seria pouco para resolvermos as coisas entre nós, mas vindo dela era um começo.

 Quando o professor deu a aula por terminada, todos nos levantados, doridos, depois de tanto tempo sentados. Enquanto reunia os meus pertences, Maria sentou-se na sua mesa. Nenhuma das duas sabíamos por onde começar e os cinco minutos passavam.

 - Uh… Está tudo bem contigo? – Decidi interromper do doloroso silêncio.

 - Sim. – Respondeu-me com precisão. – E contigo?

 - Também… - A conversa esgotara-se. Ficámos, ambas, de cabeça baixa a fixar o chão.

 - Então o que querias falar comigo? – Maria olhava constantemente para o relógio de pulso, ansiosa para que os cincos minutos passassem rápido.

 - Uh… Não sei por onde começar. – Confessei.

 - Pelo princípio às vezes ajuda.

 - Desculpa. – Pedi, sinceramente. – Desculpa, aliás, nem sei porque te estou a pedir desculpa, mas o que quer que eu tenha feito, desculpa-me. – As palavras saiam-me a uma velocidade imensa, atabalhoadas e, só me calei porque precisava de respirar, pois estava a ficar sem fôlego. – Maria, por favor, diz-me por que estás assim comigo! – Supliquei-lhe.

 - Porque pensei que mesmo ao estares com o Ruben continuarias a querer estar connosco.

 - E quero!

 - Mas agora tens os amigos do Ruben, deve ser bem mais interessante conviver com eles do que connosco.

 - Isso não é verdade. O Ruben tem os amigos dele, eu tenho os meus, tenho-vos a vocês. Eu quero fazer parte da vida dele, mas não vou deixar a minha para trás.

 - Isso é tudo muito bonito…

 - E é a verdade. – Sorri-lhe.

 - E nos dias dos derbys, com quem é que irei ver o jogo e com quem é que irei festejar a derrota dos lagartos?

 - Comigo, claro. Se bem que, se festejas conta mim, já sabes o que te acontece. – Ambas soltámos uma timida gargalhada.

 - E se fores com as namoradas dos jogadores?

 - Vocês vêm connosco. Maria, se, um dia, precisar de escolher entre vocês e os amigos do Ruben eu escolho-vos, tu sabes o quanto a amizade é importante para mim.

 - Prometes?

 - Prometo. – Abri ligeiramente os braços, Maria colocou os pés no chão e abraçámo-nos como há muito não o fazíamos.

 - Desculpa. – Pediu Maria.

 - Estás desculpada. – Garanti-lhe.

 - Tu também estás.

 Tínhamos a noção de que não estávamos sozinhas, alguns dos nossos colegas rodeavam a secretária do professor a fim de tirar as dúvidas que surgiam e, à medida que isso acontecia, os alunos abandonavam a sala.

 Maria afastou-nos, fazendo sinal, com a cabeça, para avisar da aproximação de quem não era bem-vindo.

 - Olha, olha, quem estava com problemas no paraíso… - A voz, já irritante, de Bernardo fez-se ouvir mesmo junto a nós.

 - O que é que estás aqui a fazer? – Quis saber Maria.

 - Vim falar com a tua amiga, posso?

 - Não, eu não quero falar contigo. – Respondi na vez de Maria.

 - Vá lá, não te faças de difícil… - Bernardo agarrou-me no braço com força para me levar com ele.

 - Oh seu… Larga-a! – Ordenou Maria ao empurrar Bernardo para que me largasse.

 - Bernardo vai-te embora! – Ordenei-lhe, pois em breve os nossos colegas tomariam consciência do que estaria a acontecer.

 - Como eu gosto de te ver assim, irritada. – Bernardo sorria-me estupidamente. Preparava-se para pousar a sua mão no meu rosto para me acariciar, mas parei-lhe o movimento.

 Maria colocara-se entre nós. Apesar de ser ligeiramente mais baixa do que eu e, também, mais baixa do que Bernardo, colocou-se no papel de minha defensora.

 - Eu não sei o que queres da Madalena, mas caso não saibas ela tem namorado!

 - Eu quero ver quem é o gajo. Aposto que é um ricaço qualquer, ela tem olho para isso… - Insinuou.

 - O que é que me estás a chamar? – Intervir.

 - Eu? Nada. Tu lá sabes o que és! – Disse com um sorriso no rosto perante as nossas caras de irritadas.

 - Fica sabendo que a Madalena está com uma pessoa muito melhor do que tu, que gosta dela e ela dele! Sabes o que é gostar? Não sabes pois não? Deixa-a em paz!

 - Tu não sabes do que falas!

 - Sei Bernardo! O que me disseste no outro dia, quando foste à casa da Madalena, fez-me pensar que ela talvez não gostasse da pessoa com quem está, mas sabes, isso é impossível!

 - Ela é uma boa atriz. – Argumentou contra mim.

 - Não se consegue ser boa atriz quando se está rodeado de pessoas que a conhecem melhor do que ninguém. – Era a mais pura das verdades, além disso, Maria ainda confiava em mim.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

32º Capítulo: Ciúmes


 O tempo de férias, se é que se pode chamar de férias, era tão curto que, sempre que olhava para o relógio, ficava com a sensação de estarem prestes a terminar. E estavam mesmo. Os últimos dias estavam aí e, quanto mais pensava nisto, mais certeza de que queria mais tempo tinha, pois o cansaço da vida de estudante continuava.

 - Madalena, por favor, não me digas que não arranjas uma hora! – Joana esforçava-se por me convencer, certamente em nome de Maria.

 - Não posso querida, tenho umas coisas para fazer.

 - O que é que tens de tão importante para fazer que nem podes almoçar connosco? – Do outro lado da linha uma outra voz soou um pouco abafada.

 - A sério Joana, não posso. Se quiserem combinamos para amanhã, mas hoje não dá.

 - Sabes que vou ficar chateada contigo, não sabes?

 - Não Joana, tu não vais ficar chateada comigo. A Maria é que está e não tem motivos para isso. – Sabia que Maria estava a ouvir. A sua voz abafada soltava vários sons de impaciência. – Faz-me um favor e passa-lhe o telemóvel. – Não atardou até que eu conseguisse ouvir o telemóvel encostar aos brincos de Maria, que teimava em nada dizer.

 - Maria?

 - Diz. – A forma brusca como me respondeu afirmava, seriamente, que Maria não estava apenas a fingir estar chateada comigo.

 - Por que é que estás chateada comigo?

 - Eu não estou chateada com ninguém. – Teimou.

 - Maria, não me mintas…

 - Estás a chamar-me mentirosa? – Nesse momento senti que Maria tinha explodido. Tudo o que pensava, tudo o que sentia, ou quase tudo, ela iria dizer-me, talvez as palavras não saíssem da melhor forma… - Estás? Hum? Eu não ia por aí minha menina! Quem é que tu pensas que és? Tu não sabes o que queres e ainda tens a lata de…

 - Eu não te chamei… - Tentei interrompê-la, mas ela voltou a disparatar furiosamente.

 - Sabes? Nós não precisamos que venhas almoçar connosco, na verdade, não fazes falta! – Ouvi ao longe a voz de Sofia. Tentava acalmar Maria. Tarde demais, pois esta já tinha dito tudo o que pensava. De repente tudo ficou silencioso. Tinha-me desligado o telemóvel na cara.

 Sentia que estava a meter as três pessoas que mais me apoiaram de parte, não era por mal, eu sabia que podia conciliar os dois lados: os amigos de Ruben e os meus. E neste momento, a primeira era a minha prioridade. Ruben convencera-me a assistir a um treino aberto ao público, no Seixal, com algumas das namoradas e mulheres do plantel. Como já tinha uma pequena noção do que iria ser a nossa vida, ambos ocupados de dia e demasiado cansados à noite, decidi aceitar a proposta e juntar-me ao grupo que me tinha sido apresentado há dias.

 Será que Maria acreditava mesmo naquilo que acabara de dizer?

 Esperava, muito sinceramente, que não.



***



 O centro de treinos do Benfica estava, agora, à minha frente. Nunca estivera naquele lugar. Um alto edifício com grandes janelas nascera por entre os campos relvados brevemente ocupados pela equipa encarnada, tanto jogadores como técnicos. Imaginava que, em dias de treinos à porta fechada, o parque de estacionamento do público estivesse deserto, ao contrário do que atualmente acontecia.

 Andreia e a pequena Vitória esperavam-me à entrada do Campus, na companhia de Elena, Tânia e Brenda. Aquela figura minúscula e ligeiramente carequinha, viajava pela Terra dos Sonhos, serena, com um pequeno sorriso a delinear-lhe os lábios e os pequenos dedos, escondidos no cobertor que a envolvia, dançavam lentamente. Fiz-lhe uma suave caricia no rosto com medo de a acordar e cumprimentei todas as presentes.

 - ¡Chicas, por Dios, vámonos! – Insistia Elena para que ocupássemos os respetivos lugares nas bancadas entre os adeptos da equipa.

 Rapidamente lhe fizemos a vontade, quando em questão estava Javi, Elena queria lá estar para o apoiar em tudo. Fábio, antigo jogador do clube encarnado, estava na bancada a guardar-nos o lugar. Imaginava o que estaria a sentir por já não poder ajudar os colegas, mesmo em treino, era algo que se sabia pela sua expressão enquanto falava com o ex-mister. Dentro de dias o casal partiria novamente para a capital espanhola.

 Depois do habitual e demorado aquecimento, o jogo que fizeram entre eles, sob ordens do treinador, decorria com alguma intensidade. Tinha que admitir, quando estavam dentro das quatro linhas eram todos bons jogadores, umas mais do que outros é certo, mas davam tudo por tudo, além disso, o espírito de equipa era contagiante.

 Os adeptos que assistiam encaravam aquele simples treino com euforia, a as pessoas por quem eu me fazia acompanhar seguiam-lhes fielmente o exemplo. Todos eles batiam palmas, gritavam pelo nome dos jogadores, algo que despertava uma certa piada em mim, especialmente quando Elena começava a gritar “¡Vamonos cariño, eres el mejor!”. Os meus olhos continuavam a acompanhar todos os movimentos de Ruben, embora chamasse menos à atenção dos restantes.

 Faltavam poucos minutos para o jogo que faziam entre si terminar, para dar lugar aos exercícios de alongamento. Ruben, empenhava-se cada vez mais nos treinos. Fazia parte da sua personalidade provar e mostrar a todos o que realmente valia. Os minutos continuavam em contagem decrescente e segundos antes de o treinador dar como terminado, Ruben usou grande parte da sua força para colocar a bola dentro das redes. Como sempre festejavam em campo, no entanto, os olhos de Ruben viajaram até à bancada onde eu estava, o que não passou despercebido aos colegas de equipa.

 Depois das habituais palhaçadas de Ruben com os restantes companheiros, dirigiram-se para os balneários e nós esperávamos no grande edifício, por tempo indeterminável, pois embora se queixassem do sexo feminino, eles conseguiam demorar bastante mais tempo.

 Senti Ruben aproximar-se de mim, por trás. As suas mãos rodeavam a minha cintura, com força, de modo a que ficasse colada a ele, a sua boca dava-me leves beijos na cara. Não resisti em sorrir. Nos seus braços rodei para ficar de frente para ele. Sabia que os olhos dos presentes estavam postos em nós, mas não liguei, aliás, não ligámos. A sua boca arrastou-se até à minha orelha.

 - Vamos embora daqui… - Pediu amavelmente.

 - Tens a certeza que queres ir já? O Fábio regressa a Madrid ainda hoje.

 - Não faz mal, ele não consegue passar muito tempo sem cá vir. Vamos. – As nossas mãos entrelaçaram-se e despedimo-nos dos amigos e colegas de Ruben, embora que, nestes últimos dias, estes tenham devolvido todas as piadas que Ruben fizera para gozar com os casais.

 Ruben fora direto para casa, para poder descansar um pouco e eu teria de passar por casa primeiro para depois ir novamente ao encontro dele.

 Maria esperava por mim em frente à porta do prédio, provavelmente eu não tinha percebido ainda o quanto a magoara, ou se a magoara.

 - Estava a ver que hoje não vinhas para casa. – Reclamou enquanto me aproximava.

 - Já cá estou.

 - Estiveste a fazer a tal coisa mais importante que as tuas amigas?

 - Estive com o Ruben e com umas amigas a ver o treino dele. – Optei por dizer a verdade, pois sabia que para Maria eu não conseguia mentir por muito tempo sem ser apanhada.

 - Umas amigas? Não me lembro de ter ido ver esse treino…

 - Vocês não são as minhas únicas amigas…

 - Não? E eu a pensar que sim. – O silêncio imperou por instantes. – Ah não, espera, agora já tens muitos mais amigos, não é? Os amigos do Ruben devem ser bem mais interessantes que nós.

 - Maria, que conversa é essa? Esse filme todo é por não ter ido almoçar convosco?

 - Não, não é! Tu é que acabaste de te começar a dedicar apenas à vida do teu namorado!

 - Isso não é verdade. Sabes que não.

 - Sei?

 - Eu pensava que sabias. Tu conheces-me, eu nunca abdicaria da minha vida por outra pessoa!

 - Tu por acaso sabes o que se passa na vida da Sofia, sabes qual foi o resultado da notícia de ela estar grávida, sabes o que tem acontecido comigo e com ou com a Joana? Não sabes pois não?

 - Maria, não é por ter faltado a um almoço que me afastei de vocês.

 - Tu nem nos disseste onde ias, ou com quem estarias.

 - Eu não tenho de te contar sempre tudo… - Contrapus.

 - Não tens?

 - Não, acho que não. – Maria deu meia volta e, com passo acelerado, afastou-se. – Onde vais? Maria!

 - Eu também não tenho de te contar tudo! – Embrutecida seguiu caminho.