domingo, 12 de fevereiro de 2012

33º Capítulo: Importância da amizade

 Os dias passaram a correr, Maria continuava chateada comigo até ao ponto de recusar um programa feminino no Shopping, logo ela que adorava compras. No entanto, e talvez por não estarem tão envolvidas como Maria esteve na minha história com Ruben, Joana e Sofia continuavam as mesmas pessoas de sempre. Joana dividia-se entre o seu emprego para a ajudar a pagar os gastos da universidade e ainda cuidava do irmão mais novo nos tempos livres para que os seus pais pudessem trabalhar descansados, sabia que era desgastante mas nem o cansaço da vida de trabalhadora-estudante derrotava Joana. Sofia continuava felicíssima por estar à espera de um filho de Rodrigo e, por falar nele, pode-se dizer que estão bastante próximos, embora atuassem com bastante calma.

 Até que… “But I set fire to the rain / Watched it pour as I touched your face / Well, it burned while I cried / ‘Cause I heard it screaming out your name, your name!”. O despertador voltara a arrancar-me do sono e, consequentemente, da cama. As aulas recomeçaram, isto implicaria passar mais tempo com Maria, o que considerava uma coisa boa, mas também significava mais tempo com Bernardo, o que era, definitivamente, uma péssima consequência.

 Quando cheguei à faculdade já os parques de estacionamento se encontravam praticamente lotados e os grandes corredores quase vazios, isso queria dizer que estava atrasada. Com todos os meus colegas de turma já sentados nos respetivos lugares, entrei, pedindo desculpa ao professor pelo atraso, ao qual ele me respondeu com cara de poucos amigos e sentei-me ao pé de Maria.

 Tentei, num sussurro, estabelecer um diálogo com Maria, mas esta, a poucos centímetros de mim, fingia que não ouvia.

“Precisamos de falar”. Escrevi rapidamente num pedaço de papel e coloquei-o na sua mesa, discretamente. Sem a mínima vontade olhou para o papel rasgado, escreveu qualquer coisa e colocou-o à ponta da mesa, para que eu o conseguisse alcançar.
“Sobre?”

     “Sobre tudo. Esperas por mim no final da aula?”

     “Tenho coisas para fazer antes da próxima aula.”

     “Eu não te roubo muito tempo. Por favor.”

     “Tens 5 minutos.”

 Olhei para ela, mas Maria voltou a fixar o olhar no professor. Cinco minutos, seria pouco para resolvermos as coisas entre nós, mas vindo dela era um começo.

 Quando o professor deu a aula por terminada, todos nos levantados, doridos, depois de tanto tempo sentados. Enquanto reunia os meus pertences, Maria sentou-se na sua mesa. Nenhuma das duas sabíamos por onde começar e os cinco minutos passavam.

 - Uh… Está tudo bem contigo? – Decidi interromper do doloroso silêncio.

 - Sim. – Respondeu-me com precisão. – E contigo?

 - Também… - A conversa esgotara-se. Ficámos, ambas, de cabeça baixa a fixar o chão.

 - Então o que querias falar comigo? – Maria olhava constantemente para o relógio de pulso, ansiosa para que os cincos minutos passassem rápido.

 - Uh… Não sei por onde começar. – Confessei.

 - Pelo princípio às vezes ajuda.

 - Desculpa. – Pedi, sinceramente. – Desculpa, aliás, nem sei porque te estou a pedir desculpa, mas o que quer que eu tenha feito, desculpa-me. – As palavras saiam-me a uma velocidade imensa, atabalhoadas e, só me calei porque precisava de respirar, pois estava a ficar sem fôlego. – Maria, por favor, diz-me por que estás assim comigo! – Supliquei-lhe.

 - Porque pensei que mesmo ao estares com o Ruben continuarias a querer estar connosco.

 - E quero!

 - Mas agora tens os amigos do Ruben, deve ser bem mais interessante conviver com eles do que connosco.

 - Isso não é verdade. O Ruben tem os amigos dele, eu tenho os meus, tenho-vos a vocês. Eu quero fazer parte da vida dele, mas não vou deixar a minha para trás.

 - Isso é tudo muito bonito…

 - E é a verdade. – Sorri-lhe.

 - E nos dias dos derbys, com quem é que irei ver o jogo e com quem é que irei festejar a derrota dos lagartos?

 - Comigo, claro. Se bem que, se festejas conta mim, já sabes o que te acontece. – Ambas soltámos uma timida gargalhada.

 - E se fores com as namoradas dos jogadores?

 - Vocês vêm connosco. Maria, se, um dia, precisar de escolher entre vocês e os amigos do Ruben eu escolho-vos, tu sabes o quanto a amizade é importante para mim.

 - Prometes?

 - Prometo. – Abri ligeiramente os braços, Maria colocou os pés no chão e abraçámo-nos como há muito não o fazíamos.

 - Desculpa. – Pediu Maria.

 - Estás desculpada. – Garanti-lhe.

 - Tu também estás.

 Tínhamos a noção de que não estávamos sozinhas, alguns dos nossos colegas rodeavam a secretária do professor a fim de tirar as dúvidas que surgiam e, à medida que isso acontecia, os alunos abandonavam a sala.

 Maria afastou-nos, fazendo sinal, com a cabeça, para avisar da aproximação de quem não era bem-vindo.

 - Olha, olha, quem estava com problemas no paraíso… - A voz, já irritante, de Bernardo fez-se ouvir mesmo junto a nós.

 - O que é que estás aqui a fazer? – Quis saber Maria.

 - Vim falar com a tua amiga, posso?

 - Não, eu não quero falar contigo. – Respondi na vez de Maria.

 - Vá lá, não te faças de difícil… - Bernardo agarrou-me no braço com força para me levar com ele.

 - Oh seu… Larga-a! – Ordenou Maria ao empurrar Bernardo para que me largasse.

 - Bernardo vai-te embora! – Ordenei-lhe, pois em breve os nossos colegas tomariam consciência do que estaria a acontecer.

 - Como eu gosto de te ver assim, irritada. – Bernardo sorria-me estupidamente. Preparava-se para pousar a sua mão no meu rosto para me acariciar, mas parei-lhe o movimento.

 Maria colocara-se entre nós. Apesar de ser ligeiramente mais baixa do que eu e, também, mais baixa do que Bernardo, colocou-se no papel de minha defensora.

 - Eu não sei o que queres da Madalena, mas caso não saibas ela tem namorado!

 - Eu quero ver quem é o gajo. Aposto que é um ricaço qualquer, ela tem olho para isso… - Insinuou.

 - O que é que me estás a chamar? – Intervir.

 - Eu? Nada. Tu lá sabes o que és! – Disse com um sorriso no rosto perante as nossas caras de irritadas.

 - Fica sabendo que a Madalena está com uma pessoa muito melhor do que tu, que gosta dela e ela dele! Sabes o que é gostar? Não sabes pois não? Deixa-a em paz!

 - Tu não sabes do que falas!

 - Sei Bernardo! O que me disseste no outro dia, quando foste à casa da Madalena, fez-me pensar que ela talvez não gostasse da pessoa com quem está, mas sabes, isso é impossível!

 - Ela é uma boa atriz. – Argumentou contra mim.

 - Não se consegue ser boa atriz quando se está rodeado de pessoas que a conhecem melhor do que ninguém. – Era a mais pura das verdades, além disso, Maria ainda confiava em mim.

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