O sol começava a esconder-se e dentro de duas
horas teríamos de estar no restaurante, Ruben teria de estar pois era o anfitrião
e eu, como estava na sua companhia iria com ele, se fosse simplesmente lá ter
certamente que não chegaria a entrar, algo me dizia que não iria ser capaz.
Despedimo-nos dos campos relvados na margem do
Tejo, do próprio rio que adquiria diversas tonalidades sempre em nos tons de
laranja e azul. Dos últimos barcos que iam de margem a margem, até das pomposas
nuvens brancas que se iam, lentamente, arrastando no largo céu.
Deixou-me em casa para que me pudesse preparar
e estar pronta a horas e dirigiu-se à sua com a mesma intenção. Embora que o
restaurante indicado por Ruben ficasse relativamente longe de minha casa, sem
pensar no trânsito, tinha tempo suficiente para me poder deliciar com um banho
de água quente e música ambiente. Adorava sentir-me relaxada, tal como uma
princesa dos filmes que via na infância, junto da lareira com a cabeça nas
pernas da minha mãe enquanto esta brincava com os meus largos e perfeitos
caracóis.
Depois da maquilhagem, de tons naturais,
aplicada, estava na altura de fazer algo no cabelo. Depois de seco, os pequenos
e discretos ganchos prendiam os cabelos laterais na parte de trás da cabeça,
deixando apenas a franja a pender para o lado esquerdo. Não queria ir demasiado
‘arranjada’ ou formal, não queria que os amigos de Ruben tivessem como primeira
imagem de mim algo que eu não era, não queria que eles pensassem que só por
estar com Ruben guardasse o rei na barriga… nada disso, queria que me
aceitassem tal como sou. Não ia para chamar à atenção, queria apenas poder
estar com Ruben durante o resto do dia do seu aniversário.
Olhei-me ao espelho imensas vezes, algo que não
era habitual em mim. A verdade é que estava a ficar nervosa, a temperatura das
minhas mãos baixara significativamente e, consequentemente, empalideceram. Não
aguentava estar mais um minuto que fosse em casa, andava de lado para lado na
sala de estar, numa tentativa desesperada e totalmente falhada de me acalmar.
Não aceitei que Ruben me viesse buscar a casa,
pois teria de fazer mais duas viagens, reduzindo, assim, o pouco tempo que teria
para se arranjar. Durante toda a tarde não apresentou qualquer nervosismo
enquanto eu me esforçava para não mostrar aquele que crescia em mim. O que era
normal, pois este seria um jantar de amigos, tal como todos os outros, apenas o
motivo para a sua realização mudava, pois a maioria seria para comemorar as
vitórias benfiquistas.
Certamente que Ruben me continuaria a
surpreender. Depois de quase uma hora nas intermináveis filas de carros,
encontrei o restaurante. Já me tinha falado deste espaço. Aparentemente
pareciam um simples restaurantes, era simples, mas também fora palco diversas
vezes das numerosas comemorações encarnadas e também de festas e jantares
privados dos jogadores desse mesmo clube.
Avistei Ruben junto do seu carro estacionado
entre outros tantos. Este esboçou um sorriso ao avistar-me, em largos passos
veio ter comigo.
- Estou muito atrasada? – Perguntei tentando
perceber de que seriam todos aqueles carros, embora que um deles eu o
reconhecesse graças a Maria, Joana e Sofia, um lindo Audi Q7 branco que
pertencia a David Luíz.
- Não. – Respondeu-me rapidamente para logo de
seguida me beijar com avidez. – Mas acho melhor irmos, porque já estão todos lá
dentro.
De mãos dadas percorremos o curto passeio que
separava o estacionamento da entrada do estabelecimento. Do local onde nos
encontrávamos era possível ver todos os convidados, através das portas de
vidro, que, calorosamente, interagiam uns com os outros, na sala de espera.
Conheci a maioria deles e, por parvoíce minha, nunca teria previsto que seriam
estes os amigos de quem Ruben me falara. Era tão óbvio que seriam estes, os
jogadores e respetivas mulheres e namoradas para mim, mas para ele, uma segunda
família.
Parei ali mesmo e Ruben, um passo à minha
frente, parou também, ficando de frente para mim. O meu olhar atravessava os
vidros e, sem olhar para confirmar, Ruben sabia exatamente para onde eu estava
a olhar.
- Ruben. – Apesar de tudo no que eu acreditava
e defendia, sentia que me iria sentir a mais, que iria fazer figura de parva e,
consequentemente iria ser posta de parte. – Eu…
- Eles são os meus amigos… Não precisas de ter
medo. – Tentou acamar-me.
- E jogadores de futebol… famosos. Achas
pouco? – Ruben riu-se. Imaginava a figura de parva que estava a fazer…
- E eu sou o quê?
- É diferente… - Desculpei-me prontamente.
- É?
- Mas são…
- Pessoas simples, simpáticas… - Apressou-se a
elogiá-los.
- E se eles não gostarem de mim?
- Estás com medo de eles não te aceitarem? –
Soltou uma nova gargalhada e eu olhei-o de soslaio por estar a gozar comigo. –
Pequenina, sou eu quem tem de gostar de ti. – As nossas mãos entrelaçaram-se e
Ruben voltou a olhar, rapidamente, para o interior. – Mas se não nos
despacharmos a entrar para começarmos a jantar eles matam-me... ou matam-nos. –
Foi a minha vez de sorrir. Estava ali por Ruben e, se queria fazer parte da
vida dele tinha de me integrar e meter as parvoíces da minha cabeça de lado.
- Não… Tens razão. Vamos lá enfrentar os
adversários. – Nesta noite eu deveria estar com imensa piada, pois por tudo o que
dizia, Ruben ria-se.
- Uma casa cheia de benfiquistas… - Gozou-me.
- Pode ser que lhes meta algum juízo na cabeça
e alguns mudem…
- Hum, hum… Sonha.
- Vamos mas é entrar.
- Obrigado. – Agradeceu-me, sincero.
Com um enorme sorriso no rosto e a fazer-me pequenos
círculos na parte de cima das mãos para que os nervos não se apoderassem de
mim, Ruben conduziu-me, atrás de si, para o restaurante. Assim que atravessámos
a porta da entrada, senti vários olhos postos em nós. Certamente que os
convidados já sabiam que eu iria, mesmo que não me conhecessem pessoalmente.
- Pessoal, quero-vos apresentar a Madalena,
ela é a minha… namorada. – O seu sorriso, tal como o meu, amplificou-se, os
nossos olhares encontraram-se, sentiamo-nos felizes.
David foi o primeiro a cumprimentar-me,
fazendo-se acompanhar pela sua namorada Sara, naquela sala ele deveria ser o
único que sabia da minha história e do Ruben na totalidade ou, pelo menos,
grande parte dela.
- ‘To muito feliz por cê estar aqui.
- Obrigada, eu também estou feliz por estar
aqui. – Admiti.
- Estás mesmo? – Perguntou-me Ruben.
- Sim, porquê? – Tal como eu, David e Sara não
entenderam a pergunta de Ruben.
- Ela é lagarta. – Segredou a David e Sara.
Estes riram-se e eu revirei os olhos.
De seguida, Javi aproximou-se, acompanhado por
Elena.
- ¡Mira, la chica del Bowling! -
Cumprimentou-me com um enorme e lindo sorriso, cheio de boa disposição. Há
alguns meses atrás, o Javi Garcia era a minha grande ‘perdição’ do plantel
benfiquista, embora agora tivesse encontrado a minha verdadeira perdição continuava
a achá-lo um homem extremamente bonito e atraente.
- Olá, boa noite. – Sorri-lhe.
- ¡Hola Madalena,
encantada de conocerte. Eres muy guapa! – Elogiou-me Elena, a companheira de Javi, depois de me dar dois
beijos na cara.
Graças à
minha enorme fluência na língua espanhola não tive problemas em comunicar com
os restantes. Eram, todos eles, muito simpáticos e receberam-me extremamente
bem. Durante o tempo em que conheci todos os convidados, Ruben manteve-se
sempre do meu lado, de mãos dadas comigo. Agora, achava todos os medos, que
sentira anteriormente, sem lógica. Sabia que Ruben estaria lá comigo, isso
bastava.
fantastico...
ResponderEliminarquero mais...
continua...
Adorei, podes-me dizer qual é a música do blog?
ResponderEliminarMuito lindo, continua sim ?
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