sábado, 21 de janeiro de 2012

28º Capítulo: "Para mentires tens de fechar os olhos"


(Ruben)

 Depois de ver Madalena a entrar no seu carro e seguir o caminho oposto ao meu, em direção a sua casa, também eu me fiz à estrada. O local de trabalho da minha mãe, o SPA que tinha sido aberto com a minha ajuda, ficava relativamente perto de minha casa. Por sorte, e em dias normais não diria isto, apanhei a maioria dos semáforos vermelhos, embora o trânsito estivesse mais calmo do que em horas de ponta, assim a viagem seria um pouco mais longa.

 Por vezes, o nosso cérebro começa a divagar e só tomamos consciência quando diversos pensamentos nos alertam para isso. A minha vontade, há minutos atrás, teria sido contar ao meu irmão o quanto Madalena era importante para mim, a diferença não seria muita, visto que Mauro era uma das pessoas mais importantes da minha vida. A ele, tal como a David e à minha mãe, contava tudo, tudo o que podia, como é óbvio. Mas naquele momento queria partilhar a minha felicidade com Mauro, queria dizer-lhe que estava com Madalena, mesmo que isto fosse verdade apenas há horas, ele sabia como nós estávamos, na verdade, sempre foi observador e conhece-me bastante bem, mas quando as palavras saem da nossa boca é também uma expressão de confiança. Confiava em Mauro, sabia que ele não diria nada à nossa mãe, mas também confiava nela, no entanto, devia respeitar Madalena. Não contar-lhe-ia nada, por agora, mas teria de contar a David, pois este era o único que sabia, tal como as amigas de Madalena - Maria, Joana e Sofia -, o quanto aquela jovem mulher era importante para mim.

 Provavelmente, se contasse a Madalena, esta nunca me iria perdoar, mas nem tudo o que os jornais transmitiam era verdade. Neste caso era. Um dos fatores que me impediu de ir para outro clube estrangeiro envolvia a quantia de dinheiro que o Benfica exigia pelo meu empréstimo e que o clube, com quem estava a negociar, se recusava a pagar na totalidade, mas não foi só. Ficara em Lisboa não só por amor ao clube que tanto defendia, independentemente das decisões do atual treinador, desde pequeno, mas também pela minha família, pelos meus amigos e até pelas saudades que viria a ter da ‘minha’ pista de Bowling. E claro, por Madalena. Esta parte, ela não gostaria de ouvir. Conhecia-a há cerca de dois meses e meio, não podia dizer que a amava porque não iria ser verdade, gostava dela, apenas. Em outras alturas, tinha-me afastado dela ou teríamos ficado apenas como amigos, no entanto, algo me dizia, ou melhor, sentia que não podia deixá-la para trás, embora a conhecesse há pouco tempo, tudo o que sentia por ela aumentava de dia para dia. Sentia que valia a pena lutar por ela, esperar por ela, sabia que se arriscasse não me iria arrepender. No futuro, irei ver se isto será verdade. Enfim, Mauro sabia a verdade, contra ou a favor da vontade de Madalena, quanto a isso não havia nada a fazer, o importante agora era preparar-me para enfrentar a mulher que mais amava no mundo, a minha mãe.

 Depois de percorrer vários quilómetros envolvido em pensamentos, tentei arranjar um lugar no estacionamento ao longo da rua onde pudesse deixar o carro. Tarefa algo difícil nas ruas de Lisboa mas não impossível. Caminhei até ao local de trabalho da minha mãe e lá estava ela. Parecia um pouco inquieta, estava de costas e não parava de andar de um lado para o outro com uma pequena pasta nas mãos.

 - Mãe? – Chamei antes de a cumprimentar, não queria correr o risco de a assustar, não neste momento.

 - Diz meu filho, precisas de alguma coisa? – Deu meia volta, olhando-me. A Dona Bela estava chateada, era visível.

 - Eu… já não vou para fora.

 - Já soube. – Afirmou voltando-me novamente as costas e começou a ‘passear’ novamente a pasta. Segui-a mantendo-me atrás de si.

 - O Mauro disse-me tinha ficado chateada por eu não lhe contar…

 - Não estou chateada. – O seu tom de voz despertava uma certa piada em mim, com esforço controlei-me para não soltar uma gargalhada.

 - Mãe não me minta.

 - Ruben Filipe que modos são esses de falares comigo?

 - A mãe é que está toda chateada, e não diga que não porque hoje ainda nem me falou. – Reclamei.

 - Já não confias na tua própria mãe? – Perguntou-me, preocupada, cumprimentando-me com dois beijos como sempre fazia.

 - Claro que confio, só não pude dizer nada.

 - E por que é que não vieste mais cedo?

 - Tinha coisas para fazer…

 - O que é mais importante que a tua própria mãe, que teve de ficar a saber as novidades do próprio filho através de um jornal?

 - Oh mãe, a sério? Se não vim mais cedo foi porque não pude.

 - Era uma coisa assim tão urgente? Sim, porque eu sei que estiveste com o teu irmão.

 - Mãe, eu já pedi desculpa, agora quer ir almoçar com o seu filho ou não?

 - Estiveste com ela, não foi?

 - Com quem?

 - Com a rapariga de quem já me tinhas falado. Qual era o nome dela, mesmo?

 - Não sei do que a mãe está a falar… - Coloquei uma expressão confusa no rosto, como se não soubesse do que ela estava a falar.

 - Meu amor, não te faças de desentendido. – Sorriu-me. - Madalena, era esse o nome dela. Estou enganada?

 - O que tem a Madalena?

 - Estiveste com ela, não foi?

 - Não mãe, não estive com ela.

 - Para me mentires tens de fechar os olhos, eles dizem-me tudo.

 - Pois, mas vamos ao nosso almoço ou não? Estou a ficar com fome. – Disse passando a mão pela barriga que soltava gemidos de fome e, claro, desviando o assunto que a minha mãe teimava em trazer à tona. Esta assentiu, percebendo todo o esforço que eu fazia para não falar demais. Seria tudo na devida altura.




(Madalena)

 Sentia um enorme desejo e pressa de chegar perto de Maria para lhe puder contar tudo. A felicidade que sentia ia para além do insuportável, era indomável. Interiormente sentia-me grande, o meu sorriso alargava-se o mais que podia até os cantos da boca e as bochechas me doerem. Estava numa felicidade tão grande que tinha a sensação que por onde passava as pessoas que, de passo acelerado, enchiam os passeios e aquelas que permaneciam nos respetivos carros sem paciência para esperar no trânsito um pouco intenso, olhavam para mim, embora não o fizessem, e que descobriam o motivo da minha felicidade. Queria chegar o mais rápido possível a casa, hoje, era eu que estava impaciente no meio das enormes filas que se formavam atrás de mim.

 A estrada continuava à minha frente e, em plena hora de almoço, eu percorria-a. Os meus pensamentos voaram para um local que ficava a cerca de 180 km de distância – a casa dos meus pais. Gostaria de voltar lá, tinha saudades do meu pequerrucho, além disso, sentia uma enorme curiosidade acerca da reação que o meu pai teria quando soubesse da mais recente novidade, pois desde pequena me tentava impingir o gosto pelo Benfica, tarefa que nunca alcançou os objetivos. Lembro a última troca de palavras nossa sobre este assunto, ele dissera-me: “A minha filha está a acordar, finalmente!”, quando viu que estava, atentamente, a ver o almoço de Natal da equipa encarnada, respondera-lhe: “Pai, não comece!”. Ele começava sempre, ainda tinha a esperança que um dia viesse a construir o amor benfiquista, mas tal não iria acontecer, porque eu não era como a maioria das pessoas que têm um clube porque defende cores bonitas, ou porque a família é toda ela desse clube, muito pelo contrário, eu defendia o meu clube porque era por este que tinha um grande e forte amor. Mas, o que é certo é que não me tinha apaixonado por um adepto, mas sim por um jogador desse clube, provavelmente haveria diferença. Quanto à minha mãe, tenho a certeza que compreenderia, pois ela confiava em mim e nas minhas escolhas, para ela não importava a posição social que ocupava, o emprego que tinha, importava apenas a pessoa que era. Estava tão feliz que desejava poder telefonar já para casa e contar tudo o que se havia passado no último mês, mas não o fiz, esta excitação haveria de passar.




Antes demais, quero agradecer todos os comentários de apoio que me têm feito.
É muito gratificante saber que gostam do que escrevo.

Obrigado por lerem a minha FIC'  ♥

Jéssica

2 comentários:

  1. Olá!!
    Só "conheci" a tua fic hoje e não consegui parar de a ler enquanto não cheguei ao fim, ou melhor enquanto não fiquei em dia.
    Bem eu como Sportinguista consegui rever-me nas declarações da Madalena ;)
    Gostei bastante e já estou a seguir.

    Bjokinhas
    Mariaa
    http://mariaainwonderland.blogspot.com

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  2. ola...so conheci a tua fic hoje e adorei...

    ta fantastica...

    quero mais... agora tou curiosa para ver o proximo capitulo...

    continua...

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