sábado, 7 de janeiro de 2012

22º Capítulo: Fazer de tudo

 A aula da manhã, que tinha ocupado umas boas horas, terminara. Finalmente. Sofia viu-se forçada a partilhar a decisão tomada por ambos. Não precisávamos que ela confirmasse nada, o sorriso que ela tinha na cara quando o toque para a entrada soou falara por si, no entanto, um sorriso não revelava todos os pormenores da conversa.

 Rodrigo incentivara-a a continuar a gravidez que era bem recente. Em poucos meses teríamos um bebé connosco, e o pai da criança jurara que nada lhe faltaria, nem ao filho nem à mãe. Era um bom princípio.

 A manhã ainda ia a meio e a próxima aula começava dentro de quatro horas. Sofia tinha mais duas pessoas para enfrentar, os pais, por isso, calculo que estivesse bastante ocupada, e Joana tinha marcado mais uma sessão de explicações. Parece que eu e Maria estávamos sozinhas. A companhia de Maria deixara de ser tão perfeita como era há dias atrás, desde que tinha a mania de que era o cupido.

 - O que achas em irmos dar uma corrida na passadeira?

 - Claro, mas tu nunca gostaste de fazer desporto…

 - Mas agora apetece-me.

 - Abriu um novo ginásio mesmo ao pé de minha casa. – Não era mentira e assim sempre lhe tirava a ideia que tinha na sua cabeça - Podíamos experimentá-lo…

 - Estava a pensar mais no ginásio do Colombo…

 «Eu sei no que estás a pensar», sabia mesmo, sabia que Maria detestava correr e também sabia que o único motivo de ela querer ir àquele ginásio tinha um nome: Ruben.

 Tanto eu como ela sabíamos que Ruben ainda estava suspenso dos treinos, no entanto, não deixava de treinar no ginásio, aliás, no ginásio do Colombo…

 - Mas vamos demorar imenso tempo até chegar lá. A minha casa fica mais perto…

 - É mesmo de caminho e não fica assim tão longe. Vamos no teu carro, passamos pela tua casa, emprestas-me um fato de treino e Colombo. – Suspirei.

 - Maria, o Ruben está lá… Tu sabes.

 - Pode ser que não esteja…

 - Está lá e tu estás a fazer de tudo para que eu me encontre com ele!

 - E se estiver? Tu própria lhe disseste para seguir a sua vida como se nunca te tivesse conhecido...

 - Está bem. – Sai do interior da faculdade e, sempre à frente de Maria, procurei pelo meu carro no parque de estacionamento lateral.

 Estávamos demasiado caladas, por um lado, eu estava um pouco chateada com Maria por se meter em tudo em que não era chamada, por outro, tinha uma enorme certeza de que Ruben estaria lá, a fazer trabalho de ginásio uma vez que não podia pisar o território da Luz. Há mais de duas semanas que não o via, tudo o que sabia dele lia em jornais e na internet. Uma imagem do seu sorriso apareceu repentinamente na minha cabeça, acho que me tinha esquecido um pouco como era magnífico. Seria muito doloroso estar no mesmo espaço do que ele e não lhe poder dirigir uma única palavra? Um único olhar?



***



 Tinha, naquele momento, mil razões para odiar Maria. Não conseguíamos ter uma conversa tipicamente nossa como havíamos tido tantas anteriormente, agora tudo ia ao encontro de Ruben, os diálogos de Maria não passavam de insinuações, os nossos programas eram todos eles semelhantes a este, exceto quando o programa incluía Joana e/ou Sofia. Não conhecia este lado e não estava a gostar. Mas, por muito que me chateasse com ela e, apesar das nossas discussões, continuava a adorá-la. Este era um dos motivos pela qual quando me ‘saltava a tampa’ ficava calada, o outro motivo, e este completamente secreto, era que nas nossas conversas, por muito repetitivas que fossem, ela transmitia-me esperança. Esperança que, com esforço, negava perante todos, negava-a em voz alta, mas era esta réstia de esperança que me reconfortava. Existia, mas não em excesso, não acreditava numa história, não acreditava num início.

 Vestimos o respetivo equipamento, guardámos os nossos pertences no cacifo e de toalha nas mãos entrámos na primeira sala de máquinas onde a música ambiente era uma motivação para a prática.





 Sentado numa das muitas bicicletas, embora, a maioria, vazias visto que ainda estávamos a meio da manhã e, por conseguinte, a maioria dos habituais clientes do espaço estavam no emprego, de calções, camisola de manga à cava e uma toalha de rosto branca ao pescoço, Ruben pedalava incansavelmente, a um ritmo elevado. Não se dava por vencido pelo cansaço, admirava Ruben por isso, pela ambição, pela força de vontade, pela luta que travava diariamente consigo próprio, ao superar metas, para ser cada vez melhor. E eu, ali parada, admirava Ruben na companhia de Maria, afastada do seu campo de visão.

 - Acho que ele ia gostar de te ver…

 - Não comeces. Querias correr, lembras-te? – Maria resmungou qualquer coisa a caminho das passadeiras. Segui-a, passando atrás de Ruben.

 Três minutos em cima da passadeira, em corrida ligeira, foi o suficiente para Maria parar. De língua de fora e com a respiração irregular dirigiu-se para a máquinas das águas, segui-a com o olhar até o meu campo de visão permitir. Ao contrário de Maria, eu adorava praticar desporto, a leveza e a abstracção do mundo real eram efeitos fantásticos que este exercia em mim.

 - Madalena. – Chamou-me. Maria encontrava-se à minha frente com os braços cruzados por cima do ecrã da passadeira. – Desculpas-me por eu ser uma desbocada compulsiva que faz tudo para que sejas feliz, porque gosto muito, muito de ti?

 - Maria Teresa, o que é que tu fizeste?

 Não precisei de nenhuma resposta que saísse da boca de Maria, a asneira que ela tinha acabado de fazer estava mesmo à minha frente. Queria guerrear com ela, queria dizer-lhe de uma vez por todas para não se meter na minha vida, porque a vida era minha, eu tomava as decisões e arcava com as consequências. Naquele momento nada saiu, nem um insulto, nem uma ofensa, nada, Maria passara todas as marcas, é certo. Mas, Ruben estava ali, já não o via há quase três semanas. Desliguei a máquina que ainda trabalhava de forma lenta e pus os pés em chão firme.

 - Rúben… - Sussurrei.

2 comentários:

  1. Ando curiosa para saber se o Rúben Amorim vai jogar para Itália (aqui na tua Fic), porque na vila real deve ir mesmo :(

    Já agora a tua Fic é linda!
    Beijinhos

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  2. As amigas como a Maria é que são verdadeiras amigas. Abrem-nos os olhos quando não queremos ver ou quando pensamos que estamos a fazer o melhor para nós.

    Continua :)

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