quinta-feira, 20 de junho de 2013

Olá

 Primeiro peço desculpas a todas as pessoas que seguiam esta história, uma vez que nunca mais publiquei nada. A falta de tempo e a não vontade de escrever prejudicou a fic.
 Por outro lado, também vos quero pedir e agradecer por não desistirem dela e continuarem a vir cá espreitar. Um novo capítulo está quase concluido e em breve será colocado aqui.

Obrigada,
Jéssica

domingo, 27 de janeiro de 2013

48º Capítulo: Choose to be happy







“Pelo brilho nos olhos, desde o começo dos tempos, as pessoas reconhecem o seu verdadeiro Amor” (Paulo Coelho)



Há quem diga que uma imagem vale mais do que mil palavras. Talvez tenha a sua verdade. Estava a ser sincera quando me declarei mais uma vez a Ruben, com um ‘’Amo-te’’ que não saiu da boca, saiu do coração. O brilho nos seus olhos fez-me perceber que a verdadeira mensagem tinha sido entendida, mas nada estava nas minhas mãos. Depois de alguns segundos de silêncio da nossa parte, que na realidade pesavam como largos minutos, Ruben continua sem nada dizer, talvez porque não houvesse mesmo nada a dizer, o que me estava a deixar nervosa. Mas depois, como por magia, uma estátua ganha vida e então, o mundo acelera, mais rápido que o próprio tic-tac dos relógios.

De um momento para o outro, senti um corpo rígido contra o meu, uns braços fortes que me rodeavam e não me deixavam fugir, um calor que havia guardado na memória, um cheiro que reconheceria em qualquer parte do mundo, um toque, uns lábios sedentos, doces… Nada ficara esquecido, não havia menos borboletas no estômago nem sentimentos perdidos. Era tudo como antes, talvez com uma pequena diferença, agora eram mais intensos. Tudo o que sentia nunca deixara de se intensificar, mesmo quando imaginava que era impossível amar mais aquela pessoa que agora me tomava em seus braços.

Senti os seus lábios contra os meus. Primeiro com suavidade, depois com urgência. Todos os presentes naquela zona, aquela vasta multidão, haviam sido completamente esquecidos, era como se estivéssemos só nós dois. Se fosse numa outra altura, teria rejeitado esta exposição, mas agora nada importava, só queria ter de volta o homem que amava. Relembramos trilhos e caminhos já percorridos, abraçámo-nos fortemente. Até que Ruben chamou a realidade, e foi ele a afastar-nos. Teria de entender a sua posição, no meio de todas aquelas pessoas, nós não conseguíamos ser ignorados como as restantes, aliás, nós não, ele.

- Talvez esta não tivesse sido uma boa ideia. – Disse Ruben aos cruzar com alguns olhares curiosos.

- Tu… Não era isto que querias? – Perguntei a medo.

- Não sejas tonta! Eu é que não te devia ter beijado aqui. – Ruben pegou-me na mão e conduziu-me para o exterior do Centro Comercial num passo acelerado.

- Ruben, espera. Onde vais com tanta pressa? Já estamos sozinhos. – Ruben parou, coloquei-me de frente para ele e olhámo-nos. – Acho que precisamos de falar sobre isto…

- Nós não precisamos, Madalena.

- Precisamos sim. Esta situação não é saudável para nenhum de nós. Não faz sentido… isto…

- Madalena, a sério, não precisas de dizer nada. – Notara a minha dificuldade em arranjar as palavras certas.

- Preciso, sim. Todo este tempo não fez qualquer sentido, não devia ter sido assim. Entendes o que quero dizer? Acredita que se pudesse voltar atrás teria feito tudo de maneira diferente.

- Talvez tenhas razão, talvez devêssemos ter feito as coisas de forma diferente.

- É, não é? Acho que fui demasiado ingénua.

- Está bem, Madalena, acho que já percebi o que queres dizer. Talvez esta seja a altura de ir embora.

- O quê? – Ruben afastara-se dois passos de mim. – Onde vais? Ruben?!

- A tua conversa é sempre a mesma.

- Sempre a mesma? Mas tu ouviste o que eu disse?

- Perfeitamente.

- Então porque estás a reagir assim?

- Tu acabaste de dizer que fazias tudo de forma diferente, que foste ingénua. Tudo me leva a acreditar que estás arrependida.

- Não! Ruben, se me tenho de arrepender de algo é do tempo que passei sem ti. – Aproximei-me novamente dele. – Eu vim até aqui para acabar com isto de uma vez, eu percebi que não me quero, nem posso, privar de ti!

- Tu queres…?

- Quero, muito! – Um sorriso enorme e lindo preencheu o rosto de Ruben, um sorriso como não via há muito tempo. Um sorriso que me aquecia o coração e que me fazia sorrir também. – Há semanas que andamos a escondermo-nos um do outro. Tudo porque fui uma parva – Ruben tentava, por vezes, interromper o discurso atrapalhado, mas eu não deixava e prosseguia apressadamente. – Provavelmente os meses que passei contigo foram os melhores da minha vida e nunca foi tão difícil para mim deixar-te ir várias vezes, fugir de ti, mesmo sabendo que a cada vez que voltava tu pensavas que ia ser desta que eu ia acabar com tudo o que nos separava. Sabes que te amo, Ruben. E, quando ultimamente deixaste de querer falar comigo, mesmo que só discutíssemos, tive medo, muito medo, de não me voltares a querer…

Ruben voltara a abraçar-me, tão forte que conseguir sentir a sua respiração no meu pescoço e os batimentos acelerados do seu coração. Percebi que Ruben não voltaria a beijar-me, pelo menos em público, e respeitei.

- Tive tanto medo… - Continuei.

- Shiu, agora está tudo bem. – Senti a sua mão direita subir e com o polegar percorreu os contornos dos meus lábios.

- Desculpa. Eu não…

- Já acabou, meu amor, não fales mais disso. – Sorri. – O que foi?

- Diz outra vez. O que me chamaste.

- Meu amor!

- As saudades que tinha de ouvir isso. E agora, como ficamos?

- E agora… Espero que não tenhas nada combinado para a noite, porque vou-te buscar a casa para poder jantar com a minha namorada. Pode ser?

- Namorada? Oh Ruben, eu amo-te tanto! – Se pudesse teria dado ali saltos de alegria, senti-me a explodir de felicidade.

Depois de todo o tempo sem Ruben, despedir-me dele por mais umas horas era algo doloroso. Tinha vontade de nunca mais o deixar, de nunca mais sair de perto dele. Mas em breve estaríamos juntos novamente.

-Madalena. – Chamou Ruben enquanto eu caminhava em sentido oposto. – Amo-te.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

47º Capítulo: O início do fim




“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?” (Fernando Pessoa)


O mar, quer em maré alta ou baixa, quer no seu estado mais calmo ou mais revoltado, é algo mais do que um meio onde habitam várias espécies, é mais do que um enorme conjunto de moléculas que mais tarde nos matarão a cede. Para mim, o mar é vida, é a oportunidade de ter o abraço de uma mãe nos momentos mais difíceis sem ela estar presente, de sentir o toque de umas mãos pequeninas com a pele muito macia e o delicioso cheiro a bebé. É o detentor das respostas às perguntas que não formulava.

A relva estava fria, húmida até, o rio, prestes a unir as suas águas às do grande oceano, estava calmo, ao contrário de na ponte, ao longe, onde a vida corria com alguma pressa. O sol, até então tímido, começava a aparecer por detrás das grandes nuvens brancas. Era quente. Eu gostava do sol, trazia calor, brilho, luz, cor e, acima de tudo, fazia as pessoas sorrir.

Acabei por me deitar sobre a verde relva como já não fazia há muito tempo. Momentos como este faziam-me recordar o Alentejo, com os seus campos, uns dourados outros verdes. Conseguia pensar em tudo e em nada, conseguia esquecer todos os problemas e preocupações, nem que fosse apenas por momentos. Mas claro, voltavam sempre para me preencherem o pensamento, um deles até tinha um rosto, um cheiro, um nome: Ruben.

Suspirei.

Tinha de fazer alguma coisa. Mas o quê?

Sentia a falta dele, as coisas mais simples, da sua essência, da sua presença, do seu sorriso de criança traquina.

Podia ligar-lhe, assim ouvia a sua voz, sem discussões, podia voltar a casa e agarrar-me à sua camisola que permanecia juntos às minhas, do tempo em que dormia em minha casa uma ou outra noite, e que ainda tinha o seu cheiro. Podia, também, reunir todas as fotografias que tínhamos tirado durante a nossa curta relação, mas que já eram as suficientes para não poderem ser contadas pelos dedos. Podia… mas o que queria mesmo era estar com ele.

Mas com que cara lhe iria pedir para jantar comigo, ou lanchar, ou ir ao cinema, ou qualquer que fosse o programa, se passava a vida a fugir dele? Quando estava sozinha e pensava nos meus atos, sentia-me uma autêntica adolescente, onde se foge para não levar com as consequências. Eu não era assim. Mas, por agora, seria melhor ficar quieta? Não, definitivamente não!

Primi o botão que me permitiu voltar à realidade. Já tinha passado algum tempo desde que ali chegara, tinha as costas molhadas e estava a ficar com frio. O sol ainda não aquecia tanto assim.

Já em casa, enchi a banheira com água bem quente, tal como fazia nos dias mais frios de inverno. Como sempre, liguei o Ipod às suas colunas e, enquanto olhava para o nada, ouvia aquelas músicas que ocupavam espaço na memória e que só serviam para estes momentos.

- “A gente não precisa tá colado pra tá junto, os nossos corpos se conversam por horas e horas, sem palavras tão dizendo a todo instante um pro outro, o quanto se adoram, eu não preciso te olhar pra te ter em meu mundo…” – Cantava quando o telemóvel, que permanecia perto de mim, começou a emitir luz e o som que assinalava a receção de uma nova mensagem de texto:


De: Maria
O Ruben está no Colombo com o Javi e o Rodrigo. Estão no Bowling. Talvez queiras vir até cá.


Olhei para o relógio. Na verdade, era possível que lá estivessem, se não tivessem nada melhor para fazer, o treino já tinha terminado. Tinha de ir e, desta vez, nem pensei duas vezes. A água, ainda quente, ficou para trás, sequei o cabelo na tentativa de domar os largos caracóis e apliquei um pouco de maquilhagem. Quanto à roupa, bem, foi um pouco mais complicado, queria estar “apresentável” para Ruben, mas não demasiado. Com tanta asneira que tinha feito era melhor acumular alguns pontos onde podia, optei então por levar algo simples.




Cheguei ao Colombo cerca de uma hora depois do alerta de Maria, ao qual não lhe tinha dado resposta. Assim que estacionei o carro liguei-lhe:

- Sim? – Atendeu Maria com um tom muito divertido. Se havia alguém que se conseguia rir desta história toda era ela.

- Diz-me que ele ainda está no salão de Bowling! – Ouvi a gargalhada de Maria do outro lado, mas ignorei.

- Ah, não sei não. Demoraste muito tempo, talvez já se tenha ido embora…

- Maria, vá lá, se ele fosse embora tu avisavas-me. Ele ainda lá está, não está?

- Sim, há dois minutos ainda lá estava. Mas caso fujas novamente, nós estamos numa das lojas de criança. Viemos com a Sofia.

- Isso não vai acontecer.

- Não vai? Não vens ter connosco? Mas que…

- Não é nada disso. Eu não vou fugir.

- Ahn, ahn. Vai lá antes que ele vá embora. Mas se quiseres ganhar um jogo é hoje o dia, ele está a jogar mal pra caramba.

Lancei um olhar de soslaio para o telemóvel e voltei a guardá-lo na mala.

«Eu não vou fugir!»

Acelerei o passo, o máximo que consegui. Entrei de repente no salão, e com rapidez semelhante os meus olhos varreram o espaço à procura de Ruben. E lá estava ele, na pista do costume, acompanhado pelos seus colegas. Ruben estava um pouco mais à frente, com a bola na mão e em posição de lançamento. A bola rolou pela pista, mas apenas conseguiu derrubar dois pinos antes de entrar na zona escura. Cedeu o lugar a Rodrigo, não reclamou pela sua má prestação e limitou-se a ver o jogo dos seus companheiros. Este não era, definitivamente, o “meu” Ruben. Tenho a certeza de que se a mãe dele o visse assim iria dizer que a culpa era minha, que não era boa companhia para o filho, tal como todas as mães diriam.

Pedi os sapatos adequados para andar pela zona dos jogadores e caminhei até Ruben, colocando-me atrás de si.

- Podemos falar? – Sussurrei-lhe ao ouvido. Rapidamente Ruben deu meia volta de modo a ficar voltado para mim, e na cara mostrava-se surpreendido. Ato este que surpreendeu Javi e Rodrigo, embora mais Javi, embora ambos acabassem por olhar para nós.

- Madalena, ¡hola! ¿Qué haces aquí? – Perguntou Javi cumprimentando-me com dois beijos na face. Antes que eu ou Ruben pudéssemos responder, Rodrigo interferiu.

- ¡Dios! ¿Quien es esta chica?

- No es nadie. – Respondeu Javi.

- Bien, no me parece que no sea nadie… - Disse apreciando-me.

- Es… una prima de Ruben. – Mentiu Javi.

- ¿Prima? Ruben, ¡tienes una prima muy guapa! Pero… ella no es tu prima, ¿verdad?

- Rodrigo, ¡cállate! – Ordenou Javi com um tom de voz autoritário.

- O que fazes aqui, Madalena? – Perguntou Ruben finalmente.

- Precisamos de falar. Aliás, eu preciso de falar contigo.

- Não falámos já? Não disseste tudo o que tinhas a dizer?

- Não, Ruben. Só disse o que devia dizer. O que não é bem o que te quero realmente dizer.

- Então o que me queres realmente dizer? – Javi e Rodrigo entretanto já tinham regressado ao jogo, mas estavam demasiado perto, certamente conseguiriam ouvir tudo o que dizíamos. E, nesse aspeto, gostava muito da minha privacidade.

- Vem comigo, por favor.

Ruben assentiu. Informou os colegas que regressaria em breve e iniciámos uma caminhada, lado a lado, por entre a multidão. Caminhámos até à zona da restauração onde Ruben, subitamente, parou.

- Talvez devêssemos ir para outro sítio… - Sugeri.

- Não, aqui está bom. É o suficiente para dizeres de uma vez por todas o que tens a dizer.

- Então, vai ser assim?

- Assim como?

- Assim. Não vais voltar a ser o mesmo Ruben comigo?

- Esperas que sejas o mesmo contigo quando tu me rejeitas, depois foges, depois regressas, e voltas a rejeitar-me?

- Pronto, tudo bem. Eu não vim aqui para ouvir acusações. – Respirei fundo e prossegui. – É verdade que tenho sido… difícil, mas vim aqui para te dizer que preciso de estar contigo, que quero estar contigo. Ruben, eu amo-te!

domingo, 14 de outubro de 2012

46º Capítulo: Uma história diferente


 “O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.” (Carlos Drummond de Andrade)



 A melhor parte da distância? O reencontro. E tal como eu, Ruben também o sabia. Os nossos olhares diziam tudo o que ficara por dizer ao longo de vários dias, eram o espelho da alma e também do coração que, naquele momento, cada batimento assemelhava-se a uma bofetada, não doía, era uma das melhores sensações do mundo. O meu estômago libertava borboletas, em grande quantidade, nunca sentira nada assim, tão forte, em qualquer outro momento da minha vida. O que se pode chamar a toda esta telepatia, a todo o sentimento que se havia apoderado de nós? Amor. Tudo aquilo que fortemente nos unia chamava-se amor.
 
 Todo o meu corpo, o meu ser, estava em fogo por voltar a sentir as suas formas, sentir o seu cheiro, a sua voz e o seu riso que ecoava dentro da minha cabeça. O meu corpo desejava o seu, a minha alma desejava a sua, podia admitir isso, mas, por agora, tê-lo nos meus braços, embora não fosse suficiente, era tudo o que podia permitir. Pousei as mãos no seu peito, conseguir sentir os batimentos do seu coração, enquanto os seus braços rodeavam a minha cintura.
 Talvez tenham passado segundos, talvez minutos. Nenhuma palavra fora pronunciada até então, facto que Ruben invalidou.
 - Por quê? – A voz de Ruben mostrava a desilusão, a mágoa que sentia em relação a mim. Era tudo o que eu não queria, e saber que Ruben, como era de esperar, estava magoado comigo magoava-me. Naquele momento, sentia que não passava de um animal muito pequenino, que se visse um buraco escondia-se muito depressa. Mas não vi nenhum, limitei-me a baixar a cabeça para não ter de o encarar, porque neste momento sentia vergonha. – Por que é que tinhas de estragar tudo, Madalena? – Afastámo-nos, as minhas mãos já não permaneciam no seu peito, nem os seus braços me rodeavam. Pensei que fosse mais doloroso quando estava sozinha, mas agora, frente a Ruben, era impossível não me sentir a pior pessoa do mundo. E, com este sentimento, pequenas lágrimas teimavam em formar-se. Graças à diferença de alturas, Ruben não as conseguiria ver.
 - Desculpa. Eu… eu não devia ter vindo até aqui. – Tímidos soluços acompanhavam as lágrimas que, agora, corriam com mais intensidade. Talvez se fosse embora agora ele não percebesse. Dei meia volta sem o olhar e, decidida a dar o primeiro passo, Ruben impediu qualquer movimento meu. Talvez percebera que eu chorava, pois abraçou-me novamente, reconfortando-me como só ele sabia fazer. – Desculpa Ruben, eu não te queria fazer sofrer. Eu nunca me devia ter aproximado de ti, nunca te devia ter conhecido.
 - Estás arrependida? Estás arrependida de tudo o que passámos juntos?
 - Não, não estou.
 - Não estás? Tudo o que dizes faz-me acreditar precisamente no contrário.
 - Eu não estou arrependida. De nada! Mas não quero achar isto certo, eu não devia achar isto certo.
 - Então, por que me deixaste? Por quê, Madalena? Com um telefonema! Sabes como me senti quando ouvi que já não querias estar comigo? Quando poucas horas antes dizias que me amavas. Nem foste capaz de falar comigo. Tu não tinhas o direito de acabar comigo desta forma! – O sofrimento de Ruben estava-me a deixar louca, estava-me a matar por dentro.
 - Ruben, eu…
 - Como pudeste ser tão cobarde, Madalena?
 Senti que o meu limite estava prestes a ser atingido. Quantas acusações somos capazes de suportar, mesmo sabendo que os caminhos a seguir não são por nós destinados? Quantos pedidos de desculpas seriam ignorados até que as mesmas dolorosas acusações terminassem? E as feridas, quantas feridas seriam abertas? Seria eu assim tão má pessoa?
 - Desculpa Ruben, já te pedi mil desculpas. Por favor, para!
 - És fraca, Madalena, és uma cobar…
 - Ruben, chega! – Gritei, interrompendo-o. – Estás a tentar magoar-me e está a resultar! Mas eu não vou admitir que me insultes, não vou admitir que me julgues! Nós não podíamos continuar juntos. E sabes por quê? Já paraste um bocado para pensar nos meus motivos? Porque sou um cobarde, sim, tens razão, porque não fui capaz de fazer frente ao meu pai, porque ele é meu pai e eu amo-o! E acima de tudo, porque amo o meu irmão. Sim, Ruben, eu sou uma cobarde! – Sentia a minha cara a arder, os olhos doíam-me com a fúria.
 Ruben nada dissera, abriu a porta do lado do condutor mas não chegou a entrar, fechando-a com demasiada força. Os seus lábios húmidos e doces entraram em contacto com os meus. Senti um arrepio que percorreu todo o meu corpo, por momentos, fiquei sem reação, já tinha perdido todas as esperanças de o voltar a sentir desta forma. A minha cabeça ficara barulhenta com a sua voz, com o seu sorriso, com ele por completo, senti uma leveza, talvez se não sentisse os lábios de Ruben contra os meus diria que já não estaria no meu próprio corpo. Sabia que tinha de o afastar, só faltava a coragem para o fazer. Não queria fugir novamente, naquele momento, era a pior palavra que podia ouvir ou pensar. Mas não me podia render àquela vontade de o ter.
 Fui eu que me afastei vários centímetros, fui eu que nos separei novamente. Estremecia só de pensar que tinha de ir embora, não porque queria, mas porque era uma ordem à qual tinha de obedecer. Talvez eu conseguisse cair num sono profundo, onde, com o tempo, a sua imagem se desvanecesse da minha mente, talvez um dia fosse possível passar por ele e não sentir nada. Talvez, mas eu sabia que estava errada, um amor tão forte não se esquece, talvez Ruben o conseguisse fazer, mas eu não, era forte, embora não o suficiente. Tinha de gravar a sua imagem na minha memória, o seu cabelo castanho que dançava ao sabor do vento, os seus olhos, o seu corpo esbelta, a sua voz, o seu sorriso, a sua gargalhada. Em tempos, tudo isto me pertencera, agora já não.
 - Não me deixes. – Ruben sussurrava ao meu ouvido. O meu coração estava pequeno, bem pequenino, a situação de “animal pequenino” voltara a crescer, incontrolavelmente, e por breves momentos, ouvi um grito dentro de mim, um grito de desespero. – Amor, não me deixes. – Tudo o que consegui foi abanar a cabeça, da esquerda para a direita, várias vezes. – Nós podemos ficar juntos, o teu pai está longe, ele não iria saber.
 - Isso não está certo. Por quanto tempo teria eu de te esconder? Eu não quero isso, não te posso pedir isso.
 - Era só até…
 - Até quando? Até o meu pai esquecer que tu existes? Até ele mudar de ideias? Isso não vai acontecer. – Ruben estava cabisbaixo e eu odiava vê-lo assim. – Ruben, amo-te, está bem? Eu amo-te.
 - Então luta por esse amor. Prova-me que ele existe e que não são só palavras!
 - Não posso! Mas nunca duvides do que eu sinto por ti, porque é verdadeiro!
 - E agora? Vais-te embora, outra vez? – A mágoa na voz de Ruben era quase palpável. Talvez fosse melhor assim.
 - Eu vou sempre estar aqui, só não podemos estar juntos.
 O momento tinha chegado. Antes de entrar num choro compulsivo, que os batimentos do meu coração começavam a denunciar, tinha de lhe virar as costas, enquanto as lágrimas ainda caiam compassadamente. Estremecia só de pensar que não haveria um último beijo, um último toque, que deixava para trás o homem da minha vida, mais uma vez. Caminhei o mais depressa possível na direção contrária à sua presença, voltei-me várias vezes para trás com o objetivo de o ver abalar, mas Ruben continuava para do no mesmo sítio, insistia em ver-me fugir. 

 Apenas o rio permanecia comigo neste momento, o que achava certo agora não fazia sentido, sentia-me vazia, com um enorme buraco no peito. Fisicamente, Ruben poderia não estar longe nem perto, simplesmente não estava, mas no meu coração, a história era bem diferente.