segunda-feira, 19 de março de 2012

38º Capítulo: Viver a vida



 

 A verbalização daquele grande e verdadeiro sentimento era algo que ainda tinha, em mim, a mesma força do que uma bomba atómica. Esse “amo-te” de Ruben soava, aos meus ouvidos, sincero e, ao meu coração, acelerava-lhe fortemente os batimentos. Desejei unir-me um pouco mais a ele, diminuir a inexistente distância que separava os nossos corpos, mas não o fiz, embora também não tivesse coragem nem força suficiente para o afastar de mim, mais uma vez, como o tinha feito segundos antes.

 - Ruben. – Chamei-o num sussurro, pois os meus lábios permaneciam junto ao seu ouvido. Este conseguira tomar a atitude que eu não tinha tomado, afastou-se de mim, embora ainda tomando o meu corpo nos seus braços, apenas para puder olhar nos meus olhos, num frente a frente algo nervoso.

 - Desculpa. Desculpa amor, eu fui um imbecil, mas eu só estava preocupado contigo.

 - Eu disse-te que não ia acontecer nada, Ruben.

 - Podia ter acontecido, tu não fazes ideia dos riscos que correste. Tu e as tuas amigas…

 - Podia ter acontecido, mas não aconteceu. Isso é que importa. – As suas mãos cercaram-me as faces.

 - Nunca mais me faças uma coisa destas! É difícil concentrar-me no jogo quando estou preocupado contigo.

 - Mas não tens de ficar preocupado comigo. Ruben, desde muito cedo eu aprendi a safar-me sozinha!

 - Mas agora é diferente…

 - É diferente?

 - Sim. Tu és minha namorada. – Os seus dedos deslizaram até se entrelaçarem nos meus, causando pequenos arrepios ao entraram em contacto com a pele do meu pescoço. Ambos olhámos, por breves momentos, para a união das nossas mãos.

 - E em que é que isso muda?

 - Eu não tenho um emprego muito dentro do comum. Quando nós formos do conhecimento público tudo o que cada um faz condiciona o outro.

 - Eu não vou deixar de ser quem sou só para agradar a quem quer que seja!

 - Está bem, mas…

 - Ruben, tens de te decidir. Eu não te conhecia assim. Tu para mim és uma pessoa normal, tu ages de forma normal, então eu também vou continuar a ser quem sou!

 - Eu sou uma pessoa normal…

 - Então essas desculpas que estás a dar não têm lógica nenhuma!

 - Custava-te assim tanto fazeres-me a vontade? Agora não estaríamos aqui a discutir…

 - Eu não estou a discutir contigo. E mete nessa cabeça de uma vez por todas que eu não vou fazer-te as vontades todas só para não seres contrariado, Ruben. – De um momento para o outro deixei de sentir as mãos de Ruben nas minhas. Agora de costas para mim, Ruben passava uma mão pelos curtos cabelos, de forma repetida. – Ruben… – Chamei-o e voltou-se novamente para mim.

 - Tens razão.

 - Ruben, vá lá, não fiques assim. – Sorri-lhe na esperança de que acabasse com aquela guerreia. – Eu não quero ir para o Alentejo sem estar tudo bem contigo…

 - Vais para o Alentejo?

 - Sim, vou quinta-feira, depois de almoço.

 - Mas assim já não vamos estar muito tempo juntos…

 - Mesmo por isso é que não quero que fiques assim.

 - Eu pensava que ias ver o jogo na sexta…

 - Não posso ir.

 - Porquê?

 - Porque tenho imensas saudades dos meus pais, do meu irmão. Já há muito tempo que não estou com eles…

 - E não podes ir depois do jogo?

 - Não.

 - Então? Assim eu ia contigo…

 - Ias comigo para onde?

 - Para o Alentejo. – Confesso que esta revelação de Ruben me apanhou, em parte, desprevenida. Sabia que, ao conhecer a sua mãe, tínhamos dado um grande passo na nossa relação, mas será que estava na altura certa de ele conhecer os meus pais? Afinal, para eles, Ruben, por enquanto, não seria nada menos do que alguém que só se vê dentro das quatro linhas. Os meus pais, ou melhor, o meu pai certamente não iria ver como pessoa normal.

 - Ruben, eu vou lá estar uma semana, só venho no dia depois da Páscoa. Além disso, eu não estou preparada para te apresentar à minha família…

 - Não estás preparada?

 - Não, acho que é demasiado cedo.

 - Cedo? Como cedo? Mas tu até já conheces a minha mãe…

 - Podes tentar, pelo menos, perceber-me?

 - Já tentei e não consigo. Que mal tem em ir contigo? Tens vergonha de mim, é?

 - Não Ruben, não tenho. Mas para os meus pais tu não és uma simples pessoa, és um jogador de futebol! Sinto que os tenho de preparar primeiro.

 - Madalena…

 - Ruben, eu vou para o Alentejo assim que acabar as aulas. Além disso, tu a essa hora já tens ido embora com o resto da tua equipa. E agora não quero discutir mais isto, está tarde e quero-me ir deitar. – Virei-lhe as costas e caminhei para o quarto com a certeza de que ele me seguiria, mas não o fez.

 - Madalena! – Chamou-me num tom de voz ligeiramente mais elevado, o que denunciou que não tinha dado um único passo na minha direção.

 - Ruben, a minha decisão está tomada. Talvez possas ir comigo no próximo mês, quando sentir que já estou preparada para te apresentar à minha família, até lá agradecia que respeitasses as minhas decisões.

 - Eu não te consigo compreender, juro que não! Que motivos tens para não te sentires preparada?

 - Talvez medo da reação dos meus pais, do meu irmão… não sei.

 - Eu vou contigo, ou então ficas comigo!

 - Não, não vais! Eu vou sozinha e não se fala mais no assunto. Só vou lá estar uma semana, passa rápido.

 - Mas eu quero!

 - E eu quero que me devolvas a vida! – O silêncio imperara como nunca tinha acontecido. Por mais que eu me esforçasse para que Ruben acabasse com estas discussões sem lógica nenhuma, ele rapidamente iniciava uma nova. Tudo tem limites, claro que, a minha paciência não era exceção à regra.

 Numa tentativa falhada de me continuar a controlar explodi e, nestas situações, acabamos sempre por dizer o que não queremos, ou dizemos o que queremos mas não na forma correta. Ruben não permitiu que o seu olhar permanecesse nem mais um segundo em mim, deu meia volta e, num passo acelerado, saiu de casa fechando a porta atrás de si.

 - Outra vez… - Sussurrei, suspirando. Andei, em passos largos para a porta. Tinha a intenção de ir atrás de Ruben, mas o orgulho falou mais alto. Sabia que poderia estar a cometer um erro, sabia que atitudes como estas acabavam com uma relação em três tempos. Os meus dedos deixaram a fechadura e deram forma aos punhos cerrados, senti a madeira fria da porta na minha testa. Se valia a pena estar com Ruben alguém teria de fazer alguma coisa, se ele não estava nos seus dias eu iria detê-lo nos meus braços. Se algo estava errado eu tinha o direito de saber o que era.
Abri a porta e…

6 comentários:

  1. O meu computador deve tar com algum problema é que de certeza absoluta que o capitulo não acabou aqui onde eu deixei de ler! Então onde é que está o resto?!
    Posta rápido por favor.

    Bjokinhas
    Mariaa

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  2. Está fantástico OMG! isso é la maneira de acabar um capitulo!

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  3. LINDO como SEMPRE! Acho que gostava de ver a Madalena cm o Javi Garcia :P mas va.

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  4. Oh!!!
    Adorei!
    Acabaste de ganhar mais uma nova leitora assídua.
    Adoro a tua fic! É mesmo boa. Comecei a ler um capítulo e fiquei logo viciada, não consegui parar mais.
    Parabéns!
    Posta rápido sim?
    Beijinho

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  5. FANTASTICO...

    QUERO MAIS... TOU SUPER CURIOSA PARA VER O PROXIMO...

    CONTINUA...

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  6. Olá :D
    Descobri a tua fic à pouco tempo e só te tenho a dizer que devorei os capítulos todos.Adoro.Está espectacular.
    Continua porque fiquei curiosa para saber o que vai acontecer a seguir.
    Fica aqui o meu blog para se quiseres dar uma vista de olhos e comentares
    http://fromenglandtoportugal.blogspot.com
    Beijos :D

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