quarta-feira, 6 de junho de 2012

43º Capítulo: Tempo de desistir (Parte II)























“Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.” (William Shakespeare)

 Num mundo de contrariedades, o meu mundo é que estava ao contrário. Embora que, na noite fria, fosse fácil sonhar.



***



  (Ruben)

 - Mano. – Chamava, na forma abreviada para palavra portuguesa “irmão”, com a sua pronúncia espanhola, o que me deu uma certa piada ao ouvir. Não conseguia compreender o que me acabara de dizer, aliás, era algo sem sentido algum. Claro, ele tinha de estar a brincar comigo, era algum tipo de partida, certo? Por que é que ele não se estava a rir? Não, nem sequer se estava a esforçar para o esconder. Não havia vontade de soltar a gargalhada que eu queria ouvir. Ele estava a falar a sério! – Ella no puede hablar contigo.

 - Não quer? – Tentei mudar o sentido da sua afirmação.

 - No puede. – Corrigiu. Como se houvesse alguma diferença… - Madalena no puede estar contigo, Ruben. Vosotros no podéis estar juntos, no más.

 - Claro que não. Ela está em casa dos pais, é óbvio que não podemos estar juntos até que ela volte. Mas, afinal, por que é que não quis falar comigo? Não entendo porque é que não atendeu as minhas chamadas… Já estava a dormir?

 - No creo que sea posible. – Cada palavra que pronunciava perdia-se no espaço existente entre nós. Não devido ao barulho que estava estabelecido na grande sala, era uma consequência do tom de voz utilizado. - Ruben, ella estaba llorando.

 - Estava llo quê? Llorando? Chorar? O quê? A Madalena estava a chorar? Por quê? – Um enorme rasgo de preocupação invadiu-me o coração e a mente. Não me parecia que se estivesse a referir ao chorar de tanto rir, portanto, alguma coisa se tinha passado. E eu, tinha de saber o que se passava. Retirei o telemóvel de um dos bolsos das calças e comecei a digitar o seu número. Num forte puxão, Javi arrancou-me o da mão.

 - Então? Eu preciso de falar com ela! – Ripostei sentindo o coração cada vez mais apertado.

 - No puedes.

 - Não posso, não posso. Ela estava a chorar e eu preciso de saber o que se passa!

 - Ruben, ¡eso es lo que estoy diciendo a diez minutos! Por favor, ¡escúchame! Madalena estaba llorando porque no puede estar contigo. Su padre no permite que vuestra relación continúe. – Gritava-me num tom de desespero.

 - O quê? O pai dela…? – Era uma brincadeira, tinha de ser! – Ah Javi, pensas que me enganas? Eu sei que estás a brincar! Bolas, quase que acreditei. – Dei meia volta, em direção à multidão, mas Javi agarrou-me o braço para que eu não pudesse dar nem mais um passo. Soltou um suspiro audível, percebi que não estava a brincar. Voltei à posição inicial e encarei-o. – Estás a falar a sério? – Confirmou com um aceno de cabeça. – Mas… mas ele nem me conhece!

 - Conoce y tu lo sabéis. Tu eres conocido en Portugal.

 - Sou conhecido pelo trabalho que tenho! – Ripostei.

 - ¡Esa es la razón! – Tive a sensação que o mundo me tica caído aos pés. Deveria ser algo semelhante ao que estava a sentir. Nada conseguia pensar até ao momento em que o meu coração acelerou mais um pouco, o interior da minha cabeça foi invadido por uma espécie de formigueiro e os meus membros, inferiores e superiores, tremiam que nem varas verdes. «Por quê, Madalena? Por quê? Por que me estás a fazer isto?» Eram perguntas para as quais não teria respostas, nem sabia se as queria. Assim que acordasse do transe em que tinha ficado, na frente de Javi, estaria tudo acabado! Tudo? Como tudo? E o que nós sentíamos, não importava? Ou melhor, o que eu sentia, pois da parte de Madalena já nada sabia. «Fraca!», gritava, em silêncio, repetidamente, gritava tão alto que era impossível os ouvidos não me doerem. Sentia o rosto molhado, os olhos estavam a ficar inchados e ardiam-me, os soluços cresciam dentro de um peito que não era o meu. Tudo isto se dava num corpo que não era o meu.

 Não precisava de ouvir mais nada. Precisava apenas de ouvir a mulher que amava a dizer que era tudo um pesadelo. Queria acordar e tê-la ao meu lado. Poder envolve-la nos meus braços enquanto dormia para depois, perante o início de um novo dia, ter, no caminho do meu olhar, o sorriso mais lindo que alguma vez vira em toda a vida. Queria poder ouvir, uma vez mais, e outra, e outra, todos os seus pedidos para o pequeno-almoço, que eu preparava sempre com a máxima atenção e dedicação, e poder disfrutar do beicinho de criança que ela fazia sempre que me tentava persuadir a levar-lhe o pequeno-almoço à cama. Para depois, quando ela completasse a sua higiene matinal, pudesse disfrutar do primeiro beijo do dia que se iniciara, pois de outra forma não o teria.

 Queira correr, queria sair dali, daquele ambiente de festa. Queira e consegui, pois sabia que Javi inventaria uma desculpa qualquer para quem procurasse por mim, mas isso não era importante para mim, não agora. Felizmente, não teria de me preocupar com isso neste momento, hoje o dia não tinha sido dedicado às habituais piadas e provocações nas quais entrava sempre, ou quase sempre, assim, era mais fácil passar despercebido. Entrei no interior do automóvel que me pertencia, limpei desajeitadamente as gordas lágrimas que teimavam em formar-se e, embora não me fosse permitido ir ao encontro da pessoa que guardava o meu coração, coloquei o pé no acelerador e fui contra o destino que nos unia.

 Afinal, há um tempo para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir.



***



  (Madalena)


 Ali estava ele, sentado de frente para o rio Tejo, sobre a relva macia, apreciando a paisagem que se estendia à sua frente. Entre os dedos, pequenos pedaços de relva dançavam, ora para a frente, ora para trás. O pouco ruido que fazia ao pisar a relva, na sua direção, não me denunciara. Segui em frente. Ao seu lado, sem nada dizer, sentei-me ao seu lado, facto que Ruben decidira mudar. Deslocou-me, fiquei sentada entre as suas pernas. As minhas costas em contacto com o seu peito, os seus lábios soltavam pequenos beijos entre o pescoço e os ombros, que me faziam arrepios. O vibrar do meu corpo denunciava-me perante Ruben que, certamente, colocaria o seu sorriso rasgado que lhe iluminava o rosto, de forma desumana, que tantas vezes ficava a admirar, o rosto de alguém que era dono do meu coração, ator principal dos meus sonhos, pensamento quase constante. Os seus braços uniam-se em redor do meu corpo. Nestes momentos sentia-me uma menina, sentia-me novamente uma criança que encontrara o seu porto seguro nos braços fortes de alguém que tanto admirava. As calmas águas do rio eram como um espelho para o futuro.

 Ficámos assim por alguns momentos, até que… «Oh não! O que é que está a acontecer?», pensei. Dessa mesma água calma, grandes e densas nuvens brancas se formavam e obstruíam a nossa visão, expandiam-se cada vez com mais força, retirando-me os sentidos. Não conseguia sentir o bater do coração de Ruben, nem sequer a sua presença, apenas ficara o lugar onde a relva amachucada denunciava a presença de alguém, o sol deixava de brilhar com tanta intensidade, o céu rendera o seu azul para ser tomado por um cinzento-escuro, muito escuro. Os pássaros já não cantavam à beira do rio. «Uma tempestade», pensei novamente. Fora essa tempestade que mudara o rumo do mais certo. Uma tentativa desesperada de me conseguir levantar, uma mão pesada pousou nos meus ombros, o vento soprou furiosamente, vi-lhe o rosto. Os seus olhos furiosos, o seu rosto com uma tonalidade muito vermelha impediam-me com autoridade, de seguir o caminho que escolhera, de ir à luta. Um rosto familiar, alguém que eu guardava no meu coração como um herói, que me encorajava a seguir em frente e que agora impedia de avançar: o rosto do meu pai.

 Lisboa desaparecia debaixo dos meus pés, as extensas nuvens consumiam-me. Algo ali me parecia deslocado, parecia não, estava deslocado. Uma melodia fazia-se ouvir, longe, «Mas… Como poderá existir vida enquanto o mundo de transforma em escombros?» O som aproximava-se de mim, tentava focar-me mas a minha audição estava afetada pela tempestade. «A drop in the ocean/ A change in the weather/ I was praying/ That you and me/ Might end up together/ It’s like wishing for rain/ As I stand in the desert…» Conhecia a melodia de algum lado, mas de onde? A luminosidade descia significativamente embora aumentasse em outro plano, como se fosse possível existirem dois mundos paralelos. Voltei a sentir. O meu corpo encolhido abrigava a almofada, perto de mim uma luz piscava, a mesma melodia fazia-se ouvir com mais intensidade. Tudo o que sentia era confusão. Olhei em redor e tudo o que vi foram as formas do quarto que fora meu por 18 anos, formas apenas iluminadas pela luz do luar.

 Um sonho, tudo não passara de um sonho. Ruben nunca estivera comigo, continuávamos separados pelos mais de 100 km. Enquanto isso, percebi que a música que ouvia provinha do meu telemóvel, era deste que a luz piscava. Uma chamada. Atendi automaticamente, sem qualquer entusiasmo.

 - Sim? (Silêncio) Estou? - Do outro lado nada mais se ouvia para além do som da respiração humana. Sabia que alguém estava do outro lado, a ouvir minha voz, mas não permitia que ouvisse a sua. O desejo de que fosse Ruben, embora o único nome que aparecia no ecrã do telemóvel fosse ‘Desconhecido’, aumentava, queria escutar a sua voz, desejava ouvir um ‘Vai ficar tudo bem’, ou provavelmente não iria. Porém, poderia ser alguma chamada falsa ou um erro técnico. E se não fosse? Poderão chamar-lhe sexto sentido, o que quiserem, mas sentia que deveria continuar a falar para aquela voz muda. – Sim? – Insisti e o meu coração acelerou ao som da respiração. – Ruben? Ruben, és tu? – Esperei por uma resposta que não chegaria. – Ruben, se fores tu… Eu amo-te. Nunca te esqueças disso. – Por caminhos trilhados, lágrimas escorriam, novamente, pelo meu rosto, inundando-o e arrastando consigo a tristeza e o desespero que selavam o meu coração. Um pequeno soluço foi tudo o que ouvi antes de o som de chamada desligada ecoar no meu ouvido.

 Não sei quanto tempo permaneci a olhar para o ecrã do aparelho, tudo o que queria era ter a certeza de que era Ruben, queria ter a certeza de que ele não desistiria de mim. Estaria a ser egoísta? Provavelmente, afinal queria manter-me presa a Ruben. Pousei o telemóvel na cama, abracei a almofada e, embora tivesse a certeza de que não voltaria a adormecer tão cedo, esperei que o coração e a alma pesassem menos. Também sabia que não aconteceria. O amor pesa, pesa muito, por vezes até mais do que o nosso próprio mundo.




Desculpem por ficar tanto tempo sem postar, os exames estão à porta e preciso de me aplicar.
Espero que não tenham desistido da minha Fic.

Beijinhos,
Jéssica

3 comentários:

  1. Amei! Queroo mais! Eles têm de ficar juntos! Amei a parte da chamada *.*

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  2. Olaaaaa



    ADOREIIIIIIIIIIIIIII



    Beijinhos


    Anne M

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  3. magnifico...

    quero mais... tou super curiosa para ver o proximo...continua...

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