Alguns dias passaram desde o dia em que
conhecera a mãe de Ruben. Aparentemente, entre nós, estava tudo a correr bem,
ambos tentávamos conciliar as minhas aulas da universidade com os seus treinos
e jogos, o que não era nada fácil, pois, principalmente no caso de Ruben, o seu
emprego levava-o a um enorme desgaste físico. Eu, como sempre fizera,
dedicava-me maioritariamente aos meus estudos, ainda assim tinha tempo para me
dedicar às minhas amigas e aos amigos de Ruben, e a este também, como é óbvio.
Hoje, o Estádio da Luz prometia encher. Maria,
Joana, Sofia tinham dedicado os dias anteriores a chatearem-me para que as
acompanhasse ao clássico – SL Benfica vs FC Porto. Sem dúvida seria um grande
jogo, mas não era, de todo, um jogo que eu insistisse em ver ao vivo. No
entanto, não me tentei desculpar para não ir, este seria o primeiro jogo que
iria ver de Ruben, ao vivo, desde o início do nosso compromisso.
Ruben nem me perguntara se iria ver o jogo,
pois não fui ver nenhum outro, embora soubesse que as namoradas e esposas dos
seus companheiros de equipa estivessem lá todas. No dia anterior ao jogo,
depois de terminar as aulas da tarde, fiz um considerável desvio e encontrei
Ruben em sua casa. Enquanto Ruben preparava o seu jantar, e eu ajudava, pois o
jeito para a culinária não era o forte dele, falávamos do importante jogo que
se realizaria no dia seguinte, aproveitei a ocasião para lhe anunciar que
também iria ver.
- Amanhã acho que não vai dar para estarmos
juntos. – Declarou enquanto, lentamente, cortava os ingredientes para a salada
que iria acompanhar o prato principal.
- Se quiseres eu espero por ti… - Ruben largou
o que estava a fazer e voltou-se para mim, que atrás de si me concentrava em
fazer um bom prato. – Eu vou ver o jogo. – Anunciei.
- Vais? Não sabia. Podias ter avisado antes,
agora é difícil arranjar-te convite para os camarotes.
- Eu não vou para os camarotes, já comprei o
bilhete.
- Tu estás a pensar em ficar nas bancadas?
Sabes qual é o risco do jogo? – A sua expressão ficara ligeiramente mais
carregada e o seu tom de voz subira vários tons.
- Oh Ruben, se quisesse ver um jogo afastada
da confusão ficava em casa. E não é a primeira vez!
- Qual é o problema em ficares nos camarotes?
Elas também lá estão.
- E qual é o problema de eu ficar nas
bancadas? Eu não vou ficar sozinha, a Maria, a Joana e a Sofia também vão. –
Insisti.
- E pensas que só por estares acompanhada por
mais três mulheres que não te vão fazer mal?
- Eu conheço os riscos e já te disse que não é
a primeira vez. Se me acontecer alguma coisa, podes dizer “Eu avisei-te”. –
Aproximei-me dele na esperança de suavizar o ambiente, pousei as mãos nos seus
antebraços e encostei os meus lábios aos seus.
- Madalena, por favor. – Pediu um pouco mais
sereno, por conseguinte, o ambiente ficara também um pouco mais calmo.
- Ruben, eu vou. – Garanti-lhe pela última
vez. Deixei de sentir os seus antebraços por debaixo das minhas mãos, dera
novamente meia volta de modo a ficar de costas para mim e continuou a cortar os
ingredientes. Aproximei-me mais uma vez, juntei-me às suas costas e pousei o
queixo no seu ombro. – Ruben…
- Diz.
- Ruben…
- Diz! – As suas curtas palavras saiam como
tiros, ríspidos. Voltei a afastar-me dele.
- Acho que já não precisas de mim. Boa sorte
para o jogo de amanhã. – Saí da cozinha, peguei na mala que permaneciam em cima
do sofá da sala de estar e caminhei rapidamente até à porta.
- Madalena! – Ruben chamava-me um pouco atrás
de mim. Olhei-o pela última vez, dei-lhe um suave e curto beijo nos lábios. Sob
o seu olhar atento, atravessei as suas fronteiras e fechei a porta atrás de
mim.
***
As filas de espera já era intermináveis e o
estádio tinha aberto as portas há poucos minutos. Ruben nada me havia dito
desde o dia anterior. Depois de aproximadamente uma hora à espera do apito
inicial este, finalmente, fez-se ouvir. Ruben, fora a novidade no onze inicial,
teria agora a sua primeira oportunidade de mostrar o que valia para que pudesse
integrar nas escolhas do selecionador da Seleção Portuguesa de Futebol e também
nas escolhas do atual treinador benfiquista para poder fazer outros jogos desde
o início.
Na verdade, a primeira parte do clássico
estava a ser demasiado renhida, tudo continuava em aberto e, embora não
apoiasse nenhuma das equipas, o facto de o Benfica estar a jogar em casa
poderia ser bastante vantajoso. Estava na esperança de Ruben dar o
tudo-por-tudo durante a primeira parte, pois na segunda poderia ser alvo de
substituição, mas isso não estava a acontecer. Aliás, durante esta parte não
faltaram tentativas de golo de ambas as partes, embora as bolas fossem parar
aos postes ou às barras, ou então não entravam graças aos bons guarda-redes.
O intervalo acabara de ser assinalado pelo
árbitro principal. A caminho dos balneários, Ruben percorreu rapidamente, com o
olhar, as zonas onde os adeptos benfiquistas estavam mais concentrados. Por
impossível que pareça, acabou por me localizar no meio de tantos adeptos que
lotavam o estádio. Provavelmente os adeptos que estavam à minha volta não
puderam concluir que ele estava a olhar para aquela zona, pois o camarote onde
Ruben tanto insistira para eu ficar, ficava na mesma zona embora um pouco mais
acima.
- O Ruben está a olhar para aqui. –
Confirmou-me Sofia em segredo, embora os nossos olhares estivessem fixados num
no outro. – Passou-se alguma coisa?
- Nada que não lhe passe… - Respondi-lhe.
- Então passou-se algo…
- Sim. – Assenti. – Ele queria que eu visse o
jogo dos camarotes, não gostou muito da ideia de vir para aqui…
- O quê? Dos camarotes? Ver um espetáculo
destes lá em cima deve ser pior do que ir ao circo. – Entretanto Ruben entrou
para os balneários com os restantes colegas para preparar a segunda parte. –
Ele devia era ficar contente por vires, sinceramente, nunca te vi aceitares vir
à Luz assim tão facilmente!
- Talvez ele não me conheça bem o suficiente…
- Talvez. – Sofia, ao contrário de Maria,
nunca insistia num assunto quando percebia que não queríamos continuar a falar
dele. Neste caso, não queria porque não havia nada para falar, Ruben apenas
mostrara que se preocupava comigo, achava e acreditava eu, que esse fosse o
motivo.
Quinze minutos rapidamente passaram. Ruben
voltara a olhar na minha direção e, desta vez, exibi-lhe um enorme sorriso
entre os gritos e assobios dos adeptos fanáticos, esperava que Ruben o
conseguisse ver…
Poucos minutos depois e… GOOOOOOOLO! Festejei,
não demasiado, isto de festejar com o adversário ia contra a minha natureza,
pois para mim, o eterno rival do clube encarnado era, mais ou menos, a minha
religião. Ruben ganhara a bola, depois de deixar para trás não um, mas dois
adversários, num passe certeiro coloca a bola nos pés de Pablo Aimar que acaba
por colocá-la no fundo das redes, sem grandes hipóteses de defesa para o
guarda-redes da equipa adversária. Ruben finalmente começou a dar mais de si, e
os seus companheiros agradeciam. Os adeptos, também eles, vibraram, gritaram,
cantaram, saltaram, levaram o estádio ao rubro. Em contrapartida, os adeptos do
Porto insultavam ao da casa, palavras ofensivas e insultuosas faziam-se ouvir,
rapidamente o estádio se tornou num campo de batalha.
Tanto os jogadores como as equipas técnicas lançavam
preocupados olhares para as bancadas, a alma lusa era assim mesmo, fazia-nos
crer num clube, segui-lo como uma religião, vivê-lo ao máximo, o que por vezes
e, especialmente neste caso, poderia causar alguns danos. Constantemente,
quando o jogo o permitia, Ruben desviava o olhar para mim, não o queria
preocupado, queria-o sim concentrado naquilo que era importante. O tempo
avançava e a euforia aumentava até à loucura.
Entrámos nos minutos de compensação, a saída
do estádio adivinhava-se extremamente demorada, assim, decidi esperar por Ruben
junto à saída do parque de estacionamento com acesso restrito a membros do
clube, deixando as minhas três amigas no estádio, pois o jogo ainda não tinha
terminado, mas também não restavam muitas esperanças para a alteração do
resultado. Demorei um pouco de tempo a conseguir passar pelas barreiras
policiais e pelas imensas pessoas que seguiram uma linha de raciocínio
semelhante à minha. Não conhecia assim tão bem o estádio, o que também
dificultou, mas quando cheguei ao meu destino ainda nenhum dos jogadores tinha
saído. Pouco tempo depois começaram a sair os primeiros, entre eles, Javi
Garcia e a sua namorada Elena. À saída do parque pararam o carro mesmo na minha
frente, perguntei-lhe pelo Ruben que supostamente já não devia demorar.
Ao longe, o já conhecido veículo de Ruben
avançava direito à saída. Tal como Javi, ele também parou à minha frente.
- O que estás aqui a fazer?
- À tua espera. Ainda estou inteira… -
Confessei em ar de brincadeira, à qual Ruben parecia não estar a achar muita
piada.
- Entra. – As portas destrancaram-se
automaticamente, ocupei o lugar ao lado do condutor e seguimos viagem em
silêncio, diretos a uma daquelas noites famosas do clube encarnado: o festejo
da vitória sob os azuis e brancos. Percebi que nunca tinha sido convidada por
Ruben, na verdade, o objetivo era mesmo não ir àquele festejo, pois a intenção
de Ruben era não me levar.
Lindoo! Mas vem aí coisa... :P
ResponderEliminarfantastico...
ResponderEliminarquero mais...
continua...
Lindissimo :D mas o qe é qe virá daí? Será qe o Ruben ainda está "atravessado" por causa da Madalena não ter ido para os camarotes? Quero ler o resto!
ResponderEliminarBeijinho
Quem me dera que o jogo do Benfas tivesse sido assim mesmo sem o lindao do amorinzao la ^^
ResponderEliminarcontinua beijinhos