sexta-feira, 9 de março de 2012

37º Capítulo: "Hacer la paz"

 Ruben soltava fortes gargalhadas, tal como o resto dos jogadores, por outro lado, nós mantínhamo-nos reunidas por entre conversas, ou melhor, elas mantinham-se assim, pois eu, embora na companhia delas, não dava muita atenção ao que elas diziam.

 Discretamente olhava para Ruben, queria poder sentar-me no seu colo e pedir-lhe desculpa, não sei bem o motivo pela qual as pediria, mas apenas queria não ter a sensação de que ele estava chateado comigo, embora fosse por um jogo de futebol. Por vezes, passava-me pela cabeça que o Ruben apenas me estava a tentar irritar, pois se essa não era a sua intenção, era mesmo isso que estava a acontecer. O ambiente entre nós ficara pesado desde que Ruben soube que iria ver o clássico, Benfica vs Porto, das bancadas. Mas, afinal, o jogo já tinha passado, nada de mal me acontecera, nem a mim nem às minhas amigas.

 Normalmente, assim achava eu, que os primeiros meses de uma relação seriam sempre os mais pacíficos, pois tudo era recente e as discussões normais ainda não tinham começado. Provavelmente, eu e Ruben fugíamos às probabilidades, à normalidade, pois aqueles momentos deveriam ser caracterizados pelas imensas borboletas no estômago e pela ânsia de estar todos os segundos possíveis com ele. Para mim, estas duas estavam lá, intensamente, mas será que estavam em Ruben?

 - Ruben. – Chamei depois de me levantar do meu lugar e abandonar o grupo. Ruben olhou para mim rapidamente e também rapidamente me ignorou. Fui até ele. – Vou-me embora. – Ruben levantou-se e afastámo-nos um pouco dos restantes.

 - Não podes esperar até irmos todos embora?

 - Ruben, eu estou cansada. Vou chamar um táxi e vou para casa.

 - Vais de táxi, agora, de noite?

 - Sim, assim não precisas de me ir levar… Ias fazer um enorme desvio. – Os seus lábios exibiram uma expressão descontente, talvez até um pouco hostil. O que é certo, é que não estava a reconhecer Ruben.

 - Se é isso que queres… até amanhã. – Sem um gesto de despedida, Ruben voltou para o seu lugar, entrou novamente na conversa que, por sinal, levava a audíveis gargalhadas.

 Desejei um resto de boa noite a todos os presentes, reuni todos os meus pertences e saí do restaurante, lançando um último olhar correspondido a Ruben. Senti também o olhar de Javi posto em mim e em Ruben, aleatoriamente.

 Na rua, o ambiente estava calmo, pois esta encontrava-se praticamente deserta. A brisa fresca, típica do inverno lisboeta, fazia-se sentir, cruzei os braços numa tentativa falhada de me proteger do frio e, em curtos passos, passava em frente aos carros estacionados na frente do restaurante, cujos proprietários se encontravam no interior. Como ainda não era propriamente tarde, esperava que ainda houvesse um táxi disponível. Por alguma razão, Javi percebeu que algo não estava bem e, segundos depois de eu ter abandonado o interior do restaurante, veio ter comigo.

 - ¿Qué estás haciendo aquí? – Javi colocou-se ao meu lado, eu olhava para o alto céu pouco estrelado e ele tentava decifrar o meu rosto.

 - Vou para casa.

 - ¿Tienes coche?

 - Não, vim com o Ruben…

 - ¿Y cómo piensas llegar a casa?

 - De táxi.

 - ¿Qué? Yo puedo llevarte a casa. – Ofereceu. No fundo, desejava ouvir estas palavras, embora da boca de Ruben ao invés da de Javi.

 - Não é necessário. Volta para dentro, eu fico bem. – Javi acabou por não concordar. Ordenou-me que esperasse por ele enquanto voltava ao restaurante para avisar a sua namorada Elena, e assim fiz.

 Javi rapidamente regressou em largos passos, apenas trazia a chave do seu carro, pois era claro que regressaria para festejar com o resto dos seus companheiros. Fez-me sinal para entrar quando o som que alertava para ‘destrancado’ fez-se ouvir. Obedeci, embora tenha olhado uma última vez para o interior do restaurante. E lá estava. Atrás das portas de vidro, Ruben permanecia meio escondido, e também indecifrável. Durantes escassos segundos, olhámo-nos até que Ruben decidira, mais uma vez, virar-me costas e ignorar-me. O meu olhar colou-se ao chão até que acabei por entrar e, ao fechar a porta, aninhei-me no banco do pendura. Além de uma profunda irritação, desejava explodir na sua frente, dizer-lhe tudo o que estava a sentir, dizer-lhe que independentemente do que fosse a sua vontade eu iria continuar a ser a mesma de sempre, uma pessoa com sonhos e ideias fixas. Ruben teria de gostar de mim como eu era e não tentar mudar-me à primeira oportunidade.

 Contemplava a cidade na noite enquanto a percorria, velozmente, ao lado de Javi. O silêncio entre nós não era constrangedor, era algo razoavelmente bom. A luz vermelha do semáforo brilhava intensamente, esperávamos que o verde lhe desse lugar, pois neste momento eu ansiava por atravessar a porta que destinava a fronteira do meu apartamento.

 - Entonces, ¿qué pasa? – A voz de Javi rompeu a monotonia da música espanhola que se fazia ouvir, com volume razoável, e que cobria o silêncio. O seu olhar situava-se entre a estrada e eu, e o meu pediu-lhe uma resposta. – Contigo y Ruben.

 - Não sei. – Admiti encolhendo os ombros.

 - Mira, yo sé que no soy Elena ni siquiera otra chica, pero puedes hablar conmigo… Además, ya que todos se dan cuenta que vosotros están molestos.

 - Estamos chateados? Eu não estou chateada com ninguém, pelo menos não estava até há dez minutos atrás…

 - ¿Y si me contases lo que pasó? – Insistiu.

 - Como é que eu sei o que se passou? O Ruben está assim desde que lhe disse que ia ver o jogo de hoje.

 - ¿Qué? Pero él comento con nosotros que quería que tú fueses ver los juegos. Por él, estabas siempre allí, con nosotros.

 - Pois, mas parece que não gostou muito que eu fosse com as minhas amigas…

 - ¿Estás segura de que él está molesto por eso?

 - Não, eu sei que o problema não foi esse… Ele queria que eu fosse para os camarotes, mas eu não gosto! Nunca vi nenhum jogo em nenhum, é um facto, mas eu gosto de vibrar como uma pessoa normal. Aliás, aposto que dentro daquelas paredes é tudo muito mais calmo e eu não gosto disso. Mas enfim, parece que as bancadas são perigosas… - Disse com um certo tom de ironia e sarcasmo.

 - ¡Y tiene razón! Un juego así es muy peligroso.

 - Mas eu fui com amigas, tinha combinado ir com elas e assim sendo não as iria deixar! Sei que estes jogos nunca são de ambiente fácil, não foi a primeira vez que fui a um, e não é agora que namoro com alguém que vive nesse mundo que o que eu faço vai mudar!

 - Él pasó todo el juego preocupado contigo, tienes que entenderlo.

 - Eu compreendo-o.

 - Entonces, ¿por qué no hacer la paz?

 - Tu viste o desprezo com que ele me tratou no jantar? O Ruben nem me tinha convidado para ir com ele! Provavelmente só me levou porque fiquei à espera dele. – Desabafei.

 - No digas eso. Ruben te ama. – Na verdade, eu sabia que isto, acima de tudo, era verdade, ou pelo menos acreditava que sim.

 - Achas mesmo?

 - No tengo ninguna duda. – Suspirei.

 - Acho que tens razão…

 Depois de mais uma curta troca de palavras, indiquei a Javi qual era o meu prédio e nos escassos segundos até o carro parar em frente à porta principal o silêncio voltou a imperar. Ganhei coragem para enfrentar o gélido ar que percorria a cidade, agradeci a Javi e, depois de ouvir os seus concelhos e palavras de coragem para que ficasse bem com Ruben, deixei-o seguir caminho para que, o mais rapidamente possível, voltasse para perto da sua namorada.

 Na verdade, era mesmo isso que eu queria. Estar perto de Ruben. Ao subir os lances de escadas até ao meu andar, embora já automaticamente, imagens de momentos passavam na minha mente, e um enorme sorriso me ia crescendo nos lábios. Recordava os finais de tarde em que enquanto eu estava mergulhada nos livros e trabalhos da faculdade, Ruben dormitava serenamente ao meu lado, adorava ficar a admirá-lo uma vez mais, e as noites em que me aninhava no seu peito definido, como era bom acordar com ele ao meu lado…

 Voltei a acordar para a realidade, entrei no meu lar e, seguramente, depois de cumprida a habitual rotina, a meta seria a minha cama. Sentia-me esgotada e talvez um pouco arrependida por me ter vindo embora, mas agora já era demasiado tarde para voltar.

 Passei a escova pelo cabelo, de modo a desfazer a trança lateral que me apanhava todo o cabelo e, depois de ter o pijama vestido, a campainha soou. Olhei pelo óculo inserido na porta e vislumbrei a pessoa que, naquele momento, parecia não fazer parte do cenário. De cabeça baixa, o seu olhar preso no chão, esperava por uma resposta da minha parte. A minha mão fez com que o trinco deslizasse e, lentamente, abri a porta. Encostei-me à parede para que o visitante pudesse entrar. Num lapise, os seus braços rodearam a minha cintura, ficando colada ao eu tronco e senti a fria parede atrás de mim. Os seus lábios procuravam os meus com uma certa violência partilhada pelo desejo, pela necessidade e, claro, pelo sentimento. As nossas línguas depressa entraram numa dança harmoniosa, os nossos corpos colavam-se mais, mais e mais…

 Senti a oportunidade de o parar quando os seus lábios deixaram os meus e seguiram, através do meu pescoço, em direção ao decote da camisola do pijama. As suas mãos agarravam firmemente os meus glúteos e coxas. Pousei as minhas mãos no seu tronco e afastei-o contra a sua vontade, não por muito tempo, pois escassos segundos depois envolveu-me um abraço forte e repleto de saudade.

 - Madalena. - Sussurrou-me ao ouvido. - Amo-te.


7 comentários:

  1. Oh, Adorei e estou ansiosa por mais...
    A Madalena e o Rúben ficam bem é juntinhos :D
    Estou à espera de mais em breve...

    Beijos*

    ResponderEliminar
  2. adorei... ta fantastico...

    quero mais... tou curiosa para er o proximo...

    continua...

    ResponderEliminar
  3. Gostei muito :D, eles têm de se entender qe juntos é qe ficam bem.
    Á espera do próximo, tou curiosa ;D
    Beijinho

    ResponderEliminar
  4. Mira que bonito! Continua :P

    ResponderEliminar
  5. Está lindo! Juntos e felizes não poderiam ficar em melhor cenário :)
    Fico à espera do próximo capítulo.
    Beijinhos ^_^

    ResponderEliminar
  6. Lindo!!!

    Viram ontem o jogo do Braga com o Leiria? O Ruben Amorim saiu lesionado logo nos primeiros minutos :( Sabem alguma coisa dele? Estou preocupada :((

    ResponderEliminar
  7. O R.A vai ficar parado durante 3 semanas, assim não joga com o glorioso!!

    ResponderEliminar