quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

32º Capítulo: Ciúmes


 O tempo de férias, se é que se pode chamar de férias, era tão curto que, sempre que olhava para o relógio, ficava com a sensação de estarem prestes a terminar. E estavam mesmo. Os últimos dias estavam aí e, quanto mais pensava nisto, mais certeza de que queria mais tempo tinha, pois o cansaço da vida de estudante continuava.

 - Madalena, por favor, não me digas que não arranjas uma hora! – Joana esforçava-se por me convencer, certamente em nome de Maria.

 - Não posso querida, tenho umas coisas para fazer.

 - O que é que tens de tão importante para fazer que nem podes almoçar connosco? – Do outro lado da linha uma outra voz soou um pouco abafada.

 - A sério Joana, não posso. Se quiserem combinamos para amanhã, mas hoje não dá.

 - Sabes que vou ficar chateada contigo, não sabes?

 - Não Joana, tu não vais ficar chateada comigo. A Maria é que está e não tem motivos para isso. – Sabia que Maria estava a ouvir. A sua voz abafada soltava vários sons de impaciência. – Faz-me um favor e passa-lhe o telemóvel. – Não atardou até que eu conseguisse ouvir o telemóvel encostar aos brincos de Maria, que teimava em nada dizer.

 - Maria?

 - Diz. – A forma brusca como me respondeu afirmava, seriamente, que Maria não estava apenas a fingir estar chateada comigo.

 - Por que é que estás chateada comigo?

 - Eu não estou chateada com ninguém. – Teimou.

 - Maria, não me mintas…

 - Estás a chamar-me mentirosa? – Nesse momento senti que Maria tinha explodido. Tudo o que pensava, tudo o que sentia, ou quase tudo, ela iria dizer-me, talvez as palavras não saíssem da melhor forma… - Estás? Hum? Eu não ia por aí minha menina! Quem é que tu pensas que és? Tu não sabes o que queres e ainda tens a lata de…

 - Eu não te chamei… - Tentei interrompê-la, mas ela voltou a disparatar furiosamente.

 - Sabes? Nós não precisamos que venhas almoçar connosco, na verdade, não fazes falta! – Ouvi ao longe a voz de Sofia. Tentava acalmar Maria. Tarde demais, pois esta já tinha dito tudo o que pensava. De repente tudo ficou silencioso. Tinha-me desligado o telemóvel na cara.

 Sentia que estava a meter as três pessoas que mais me apoiaram de parte, não era por mal, eu sabia que podia conciliar os dois lados: os amigos de Ruben e os meus. E neste momento, a primeira era a minha prioridade. Ruben convencera-me a assistir a um treino aberto ao público, no Seixal, com algumas das namoradas e mulheres do plantel. Como já tinha uma pequena noção do que iria ser a nossa vida, ambos ocupados de dia e demasiado cansados à noite, decidi aceitar a proposta e juntar-me ao grupo que me tinha sido apresentado há dias.

 Será que Maria acreditava mesmo naquilo que acabara de dizer?

 Esperava, muito sinceramente, que não.



***



 O centro de treinos do Benfica estava, agora, à minha frente. Nunca estivera naquele lugar. Um alto edifício com grandes janelas nascera por entre os campos relvados brevemente ocupados pela equipa encarnada, tanto jogadores como técnicos. Imaginava que, em dias de treinos à porta fechada, o parque de estacionamento do público estivesse deserto, ao contrário do que atualmente acontecia.

 Andreia e a pequena Vitória esperavam-me à entrada do Campus, na companhia de Elena, Tânia e Brenda. Aquela figura minúscula e ligeiramente carequinha, viajava pela Terra dos Sonhos, serena, com um pequeno sorriso a delinear-lhe os lábios e os pequenos dedos, escondidos no cobertor que a envolvia, dançavam lentamente. Fiz-lhe uma suave caricia no rosto com medo de a acordar e cumprimentei todas as presentes.

 - ¡Chicas, por Dios, vámonos! – Insistia Elena para que ocupássemos os respetivos lugares nas bancadas entre os adeptos da equipa.

 Rapidamente lhe fizemos a vontade, quando em questão estava Javi, Elena queria lá estar para o apoiar em tudo. Fábio, antigo jogador do clube encarnado, estava na bancada a guardar-nos o lugar. Imaginava o que estaria a sentir por já não poder ajudar os colegas, mesmo em treino, era algo que se sabia pela sua expressão enquanto falava com o ex-mister. Dentro de dias o casal partiria novamente para a capital espanhola.

 Depois do habitual e demorado aquecimento, o jogo que fizeram entre eles, sob ordens do treinador, decorria com alguma intensidade. Tinha que admitir, quando estavam dentro das quatro linhas eram todos bons jogadores, umas mais do que outros é certo, mas davam tudo por tudo, além disso, o espírito de equipa era contagiante.

 Os adeptos que assistiam encaravam aquele simples treino com euforia, a as pessoas por quem eu me fazia acompanhar seguiam-lhes fielmente o exemplo. Todos eles batiam palmas, gritavam pelo nome dos jogadores, algo que despertava uma certa piada em mim, especialmente quando Elena começava a gritar “¡Vamonos cariño, eres el mejor!”. Os meus olhos continuavam a acompanhar todos os movimentos de Ruben, embora chamasse menos à atenção dos restantes.

 Faltavam poucos minutos para o jogo que faziam entre si terminar, para dar lugar aos exercícios de alongamento. Ruben, empenhava-se cada vez mais nos treinos. Fazia parte da sua personalidade provar e mostrar a todos o que realmente valia. Os minutos continuavam em contagem decrescente e segundos antes de o treinador dar como terminado, Ruben usou grande parte da sua força para colocar a bola dentro das redes. Como sempre festejavam em campo, no entanto, os olhos de Ruben viajaram até à bancada onde eu estava, o que não passou despercebido aos colegas de equipa.

 Depois das habituais palhaçadas de Ruben com os restantes companheiros, dirigiram-se para os balneários e nós esperávamos no grande edifício, por tempo indeterminável, pois embora se queixassem do sexo feminino, eles conseguiam demorar bastante mais tempo.

 Senti Ruben aproximar-se de mim, por trás. As suas mãos rodeavam a minha cintura, com força, de modo a que ficasse colada a ele, a sua boca dava-me leves beijos na cara. Não resisti em sorrir. Nos seus braços rodei para ficar de frente para ele. Sabia que os olhos dos presentes estavam postos em nós, mas não liguei, aliás, não ligámos. A sua boca arrastou-se até à minha orelha.

 - Vamos embora daqui… - Pediu amavelmente.

 - Tens a certeza que queres ir já? O Fábio regressa a Madrid ainda hoje.

 - Não faz mal, ele não consegue passar muito tempo sem cá vir. Vamos. – As nossas mãos entrelaçaram-se e despedimo-nos dos amigos e colegas de Ruben, embora que, nestes últimos dias, estes tenham devolvido todas as piadas que Ruben fizera para gozar com os casais.

 Ruben fora direto para casa, para poder descansar um pouco e eu teria de passar por casa primeiro para depois ir novamente ao encontro dele.

 Maria esperava por mim em frente à porta do prédio, provavelmente eu não tinha percebido ainda o quanto a magoara, ou se a magoara.

 - Estava a ver que hoje não vinhas para casa. – Reclamou enquanto me aproximava.

 - Já cá estou.

 - Estiveste a fazer a tal coisa mais importante que as tuas amigas?

 - Estive com o Ruben e com umas amigas a ver o treino dele. – Optei por dizer a verdade, pois sabia que para Maria eu não conseguia mentir por muito tempo sem ser apanhada.

 - Umas amigas? Não me lembro de ter ido ver esse treino…

 - Vocês não são as minhas únicas amigas…

 - Não? E eu a pensar que sim. – O silêncio imperou por instantes. – Ah não, espera, agora já tens muitos mais amigos, não é? Os amigos do Ruben devem ser bem mais interessantes que nós.

 - Maria, que conversa é essa? Esse filme todo é por não ter ido almoçar convosco?

 - Não, não é! Tu é que acabaste de te começar a dedicar apenas à vida do teu namorado!

 - Isso não é verdade. Sabes que não.

 - Sei?

 - Eu pensava que sabias. Tu conheces-me, eu nunca abdicaria da minha vida por outra pessoa!

 - Tu por acaso sabes o que se passa na vida da Sofia, sabes qual foi o resultado da notícia de ela estar grávida, sabes o que tem acontecido comigo e com ou com a Joana? Não sabes pois não?

 - Maria, não é por ter faltado a um almoço que me afastei de vocês.

 - Tu nem nos disseste onde ias, ou com quem estarias.

 - Eu não tenho de te contar sempre tudo… - Contrapus.

 - Não tens?

 - Não, acho que não. – Maria deu meia volta e, com passo acelerado, afastou-se. – Onde vais? Maria!

 - Eu também não tenho de te contar tudo! – Embrutecida seguiu caminho.

3 comentários:

  1. fantastico...

    quero mais... tou super curiosa para ver o proximo capitulo...

    continua...

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  2. Não percebo a Maria. Se os juntou porque agora não os quer juntos?

    continuaaa :)

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  3. Quando li o titulo pensei logo, pronto já os vai separar xD
    quero o proximo cap rapido

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