quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

34º Capítulo: Por vezes, é preciso arriscar

 Devido ao jogo ocorrido durante a semana, Ruben ficara com o domingo livre. Bem, talvez não tão livre. A Dona Bela, mãe de Ruben, convidara os seus filhos e a namorada de Mauro para o almoço, em sua casa. Esta senhora adorava reunir a família e desejava, claramente, o aumento desta, não que quisesse ter netos neste preciso momento, havia outras formas de aumentar o número de novas caras à mesa. Isto significava convidar-me. A mãe de Ruben conhecia demasiado bem o seu filho mais novo para saber que alguém ocupava um cantinho do seu coração, embora eu nunca tenha sido apresentada à senhora, nem como uma simples amiga, esperava que Mauro, nada tenha dito.

 Sábado à noite estava na companhia de Maria, Joana e Sofia, de pijamas vestidos, acompanhadas por enormes tigelas de pipocas de microondas. O que a princípio era uma noitada com a cabeça enfiada nos livros, depressa se tornou numa maratona de filmes de comédia romântica. Visto que era a única que vivia sozinha, a minha casa tornava-se palco destes pequenos programas.

 O filme decorria, Joana começava a deitar as primeiras lágrimas de emoção, quando o meu telemóvel vibrou, assustando-nos.

 - Ruben. – Atendi.

 - Minha pequenina, interrompi o estudo?

 - Não, desistimos. Estamos a ver um filme.

 - Podíamos ver os dois…

 - Deixa-te de ideias, Ruben Filipe!

 - Hum, hum. Olha, amanhã almoças connosco?

 - Ah… Ruben. Não sei… - Respondi indecisa.

 - Então?

 - Ainda é tão cedo. Não sei… Começámos há tão pouco tempo.

 - E isso importa?

 - Ruben, tu queres apresentar-me à tua mãe como tua namorada! Tens noção do que me estás a pedir? E se isto entre nós não der certo?

 - Madalena, estás com dúvidas?

 - Não. – Esclareci prontamente.

 - Então qual é o problema?

 - Ruben… - Chamei num suspiro. – Tenho medo.

 - Tens medo da minha mãe? – Procurou uma confirmação com um certo divertimento.

 - Não é da tua mãe. Mas e se ela não gostar de mim? E se eu não for o tipo de pessoa que ela quer para ti?

 - A minha mãe não tem nenhum tipo de pessoa ideal, ela só quer que eu seja feliz.

 - Tem. Todas as mães têm!

 - Isso até pode ser verdade, mas não há motivos para ela não gostar de ti. Aliás, eu é que tenho de gostar de ti. – Sabia que eu tinha razão, no entanto, discutir qualquer assunto com Ruben era como nadar contra a corrente, acabava sempre por ficar sem argumentos.

 - Está bem, ganhaste. – Cedi.

 - Isso quer dizer que vens?

 - Eu não disse que ia…

 - Oh pequenina, anda lá. – Insistiu.

 - Deixa-me pensar só mais um bocadinho, está bem?

 - Sim. – Assentiu contrariado e o silêncio acabou por imperar por instantes.

 - Ruben? – Voltei a chamar para confirmar se a ligação ainda se encontrava estabelecida.

 - Diz.

 - Estás chateado?

 - Não.

 - Então, vou desligar está bem?

 - Sim. Adoro-te.

 - Eu também. – Disse e desliguei tatilmente a chamada.

 Quando atendi a chamada de Ruben afastara-me um pouco para não incomodar Joana, Sofia e Maria. Agora, retomava ao meu lugar.

 - O bonitão já não consegue viver sem ti? – Brincou Sofia desviando, rapidamente, o olhar da televisão.

 - Vamos ver… - Suspirei.

 - Então, problemas? – A minha resposta, seguida do suspiro, despertou a curiosidade das três, mas foi Joana que formulou a pergunta.

 - O Ruben quer que eu vá almoçar com ele amanhã.

 - Onde é que está o problema? – Questionou, mais uma vez, Joana.

 - Com o irmão dele… e a mãe. – Completei.

 - Vais conhecer a sogrinha? – Perguntou Maria, com um ligeiro tom de gozo.

 - Não comeces. – Avisei. – O mais certo é nem ir.

 - Não vais? – Encolhi os ombros par expressar a minha indecisão. – Por que é que não vais?

 - Porque acho demasiado cedo, não namoramos assim há tanto tempo.

 - Espera lá, mas não foste tu que disseste que querias fazer parte da vida de Ruben? – Maria assemelhava-se ao meu tribunal pessoal, isto é, tudo o que eu dissesse poderia ser usado contra mim.

 - E quero, mas… conhecer a mãe dele? Já?

 - Por que não?

 - Ela pode não gostar de mim e eu faço ideia do quanto Ruben gosta e admira a mãe.

 - E eu faço ideia do quanto ele iria gostar que fosses com ele…

 - Madalena, conhecer a sogra não é assim tão mau… - Brincou Sofia.

 Voltei a agarrar no telemóvel que estava caído ao meu lado. Passei, rapidamente, os dedos pelo ecrã tátil nos respetivos lugares de cada letra.


       Espero por ti amanhã.
       Não te atrases, porque eu gosto de chegar a horas.


 Tal como elas, voltei a dedicar a minha atenção ao filme, mas poucos minutos depois o vibrar do meu telemóvel voltou a aprisionar a minha atenção.


       Obrigado por vires!
       Adoro-te Madalena ;)


 Sorri, o que não passou despercebido a nenhuma das três e, assim, provavelmente, deduziram a minha resposta a Ruben.

 Um ‘adoro-te’ vindo de Ruben era algo que formidável, maravilhoso, fascinante, no entanto, sabia que, no meu coração, algo maior eu guardava.

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