domingo, 19 de fevereiro de 2012

35º Capítulo: A palavra (Parte I)


 Não sabia como haveria de ir vestida e Ruben já não tardaria a chegar. Se fosse demasiado arranjada corria o risco de a mãe de Ruben pensar que eu era uma espécie de mulher da vida, e claro, a ocasião não era para tanto. Tinha medo de não ser ‘aprovada’, sabia que a mãe era uma das pessoas mais importantes na vida de Ruben, só por isso nunca o iria colocar numa situação de escolher entre nós as duas, porque também eu queria ser acolhida por aquela senhora.




 Já vestida, e com algumas peças de roupa espalhadas pela cama, coloquei-me em frente ao espelho várias vezes para ter a certeza de que a maquilhagem não estava demasiado carregada, ou para me certificar de que todas as cores combinavam para não parecer uma espécie de árvore de natal.

 Ainda faltava alguns minutos para a hora marcada, mesmo assim reclamava sozinha pelo facto de Ruben ainda não ter chegado a minha casa. Ele não podia chegar atrasado, não hoje. O que iria pensar a sua mãe se chegássemos atrasados? Que a culpa era minha, claro, que eu não sabia cumprir horários.

 Dois minutos. Estava preparada para enviar uma mensagem de texto com o intuito de apressá-lo, quando Ruben tocou à campainha. Recebi-o com um enorme sorriso e um suave beijo que Ruben tentou prolongar. A sua mão, atrás das costas, segurava uma linda rosa vermelha, um vermelho escuro que dava a sensação de que era feita de veludo, sem espinhos, apenas a rosa vermelha com três pequenas folhas e o seu simbolismo.

 Depois dos seus elogios e de me assegurar vezes sem conta que estava decente, embora as palavras que saíram da boca dele fossem ‘perfeita’ e ‘maravilhosa’, teríamos ainda algum tempo de caminho até à casa da mãe e do irmão de Ruben.

 Acho que esperava que a casa da família de Ruben fosse um apartamento, ou algo do género, e nunca aquela enorme vivenda que se estendia à minha frente. Sabia que Ruben, graças a todas as partes económica e financeiramente boas que o futebol proporcionava, tinha ajudado a mãe a concretizar o sonho de abrir um SPA e também lhe comprara uma casa, neste caso, uma vistosa vivenda limitada por altos arbustos. Só quando Ruben abriu o portão para colocar o carro dentro da propriedade é que tive a noção do quão grande deveria ser. Um grande jardim relvado na frente da casa, que se estendia de um lado ao outro, tomando a exceção de acesso à garagem. Esta, por sua vez, também tinha acesso ao jardim das traseiras, um grande espaço verde, com uma mediana piscina a um canto e, no lado oposto, algo que as mulheres, no geral, gostam de cuidar: as suas plantas. Ali existiam uma enorme variedade de plantas de várias cores, desde rosas, a orquídeas, passando também pelas hortências. No pequeno alpendre, duas cadeiras de baloiço estavam separadas por uma pequena mesa de apoio. A partir do interior da casa, a porta do alpendre dava acesso a um pequeno corredor que ia diretamente à cozinha. Provavelmente seria nesta divisão que Anabela se encontrava. Um pequeno arrepio percorreu o meu corpo, Ruben sentiu, pois estávamos de mãos dadas. O seu polegar desenhava pequenos círculos na minha mão para que descontraísse. A porta abriu-se, o pequeno corredor tornou-se ainda mais pequeno e, à direita, ali estava a senhora, de costas voltadas para nós. Parecia um tanto atarefada, cantarolava algo e os seus braços não paravam perto do fogão. Não tinha dado pela nossa presença. Ruben caminhou silenciosamente até se colocar lado a lado com a sua figura materna e, consigo me levou. Depressa envolveu a senhora nos seus fortes braços e beijou-lhe a face, ao qual ela correspondeu com satisfação.

 - Meu filho, hoje chegaste cedo, nem parece teu. – A mãe de Ruben passava as costas da mão pela cara do seu filho mais novo, acariciando-o.

 - Mãe, deixe-me apresentar-lhe a Madalena, a minha namorada e a culpada por ter chegado tão cedo. – Com um sorriso contagiante, a mãe de Ruben beijou-me as faces. – É a minha mãe. – Dirigiu-se, desta vez, para mim.

 - É um prazer conhecê-la Dona Anabela. – Anunciei educadamente.

 - Minha querida, não me trates por Anabela, Bela é o suficiente. – Passou a sua mão pelo meu braço enquanto Ruben me puxava um pouco mais para si. – És muito bonita, Madalena. – Elogiou-me.

 - Obrigada.

 - É, não é? Eu também acho. – Disse Ruben com o seu ar de graça.

 - Sim, sim. Vão para a sala de estar ter com o teu irmão. Quando o almoço estiver pronto eu chamo-vos.

 - Não precisa de ajuda, Dona Bela? – Ofereci-me para ajudar pois a senhora estava visivelmente ocupada.

 - Não, deixa estar. Obrigada. Vai lá com ele se não a Raquel não consegue aguentar estes dois juntos. – Gracejou e eu sorri.

 Saímos da cozinha e entrámos no hall de entrada, onde, deste, partiam umas graciosas escadas até ao primeiro andar onde supostamente seriam os quartos. Duas divisões surgiam para lá das paredes laterais do hall, uma oposta à outra. Assim, do lado das escadas, a sala de estar e oposta a esta, a sala de jantar.

 Raquel, a namorada de Mauro, aninhava-se nos braços do namorado que, por sua vez, fazia zapping com o comando da televisão. Quando nos viram entrar, depois do esgar emitido por Ruben para avisar que o casal não estava sozinho, ambos se levantaram para nos cumprimentar.

 - Temos aqui uma guerreira. – Brincou Mauro. – Conhecer a Dona Bela não é coisa fácil. – Gargalhou.

 - Não a assustes, ela não queria vir. – Avisou Ruben.

 - Bem, então deve gostar mesmo muito de ti… A Raquel demorou quase um ano para a conhecer…

 Os meus olhos arregalaram-se, seria assim tão mau? A senhora parecera-me tão simpática…

 - Estou a brincar, aposto que ela, mesmo conhecendo-te mal, já gosta de ti.

 - Achas mesmo? – Perguntei a Mauro.

 - Tenho a certeza! Para ela, quem faz sorrir esse aí, já tem lugar garantido no céu.

 Depois de poucos minutos juntos, já percebia o que a mãe de Ruben dissera sobre a Raquel não os aguentar juntos, pelo menos sozinha. Quando os irmãos se juntavam pareciam duas crianças, mais ainda se pelo meio estava uma partida na PlayStation. Raquel e eu, sentadas no sofá atrás dos nossos homens, soltávamos gargalhadas pelas figuras que ambos faziam. Era fácil mantê-los entretidos, mesmo que isso implicasse que cada um levasse uns carolos do outro ou que discutissem as qualidades de cada um, apenas para provarem quem era o melhor. No entanto, era divertido ver todas aquelas brincadeiras.

 Um suave odor ia preenchendo o ar à nossa volta, do lado oposto à sala de estar, algo em cima da grande mesa de jantar fumegava, fruto de várias horas de trabalho. Depressa vimos a figura materna dos irmãos entrar na sala de estar, exibia agora um outro conjunto de vestuário. Aquela senhora, apesar das dificuldades que tinha ultrapassado, com êxito, na vida, era uma senhora bonita, educada, simpática, pelo menos, assim parecia. Provavelmente, seria uma das melhores mães do mundo, tinha a certeza disto ao sentir o ambiente que se formava quando ela e os filhos estavam juntos. Senti saudades de casa.


5 comentários:

  1. fantastico...

    quero mais... tou super curiosa para ver o proximo...

    continua...

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  2. Muito lindo, eles fazem mesmo um casal muito fofinho hehe *-*
    Quero mais, muito mais!

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  3. Ola! Nao gosto muito de comentar embora leia a tua fic com enorme regularidade. So gostava de te dizer que há uma musica que me faz lembrar esta história que estas a construir. A musica é esta http://www.youtube.com/watch?v=jyRmNHBJXsY . As duas são lindas: a musica cantada pela luciana abreu e a tua fic

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  4. Publica o proximo capitulo rapidoo!!

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