sábado, 31 de março de 2012

39º Capítulo: Orgulho e arrependimento



 Por vezes, o arrependimento não se sobrepõe ao orgulho. Deveria. Então, não se volta atrás para emendar os erros, apenas se permanece no mesmo sítio à espera que a solução venha ter connosco, o que por vezes não acontece. E, o não acontecer não depende apenas de quem comete o erro, mas sim da pessoa a quem se cometeu. No entanto, não é sinal de fraqueza nem de cobardia, não necessariamente, apenas nos magoamos com os nossos próprios erros.

 Sentado no chão, as suas costas formavam uma curva imperfeita e, de joelhos ao peito, as mãos escondiam o seu rosto. Ali, sozinho, deixara que o orgulho se dissipasse e, então, o arrependimento tomou conta dele. Talvez não o suficiente para voltar atrás. Fiquei, por breves instantes, a contemplá-lo. Uma estranha vontade de o abraçar dominou-me, queria ir até ele e envolver-me nos seus braços. E, por vezes, o desejo vence. Em cuidadosos passos, para não fazer muito barulho, o que não adiantou de muito, pois os saltos denunciaram-me. Ruben levantou ligeiramente a cabeça para me ver aproximar, sentei-me ao seu lado. A princípio, nada fiz a não sei permanecer sentada. Ambos instalámos um silêncio pesado e perturbador, desconfortante. Não olhávamos diretamente um para o outro, apenas a visão periférica e o som da respiração denunciava a nossa presença. Vi Ruben voltar a esconder a cara, estava na altura de o enfrentar.

 - Ruben. – Chamei-o, num sussurro ensurdecido, para captar a sua atenção. Continuava petrificado. – Ruben. – Voltei a insistir, mas de nada adiantou. Forcei-o a abrir espaço para me aninhar a ele, até isso ele recusou. Tentei olhá-lo nos olhos, os seus fortes braços, apoiados novamente nos joelhos, não permitiram. Aquilo sim, já estava a ser demasiado para mim. Os instáveis limites da minha paciência estavam a ser rapidamente ultrapassados.

 A verdade é que não vale continuar a insistir quando acabamos por fazê-lo demasiado. Ou será que vale? Naquele momento a resposta parecia-me negativa. De nada valia continuar a chamar por Ruben se o próprio nem me olhava. Aliás, tudo aquilo me parecia uma birra de crianças, sem logica nenhuma. Já não tinha a certeza do motivo pelo qual Ruben se comportava deste modo, seria ainda pelo jogo? Então, por que razão se deu ao trabalho de vir a minha casa quando foi Javi que se ofereceu para me vir trazer a casa, enquanto Ruben simplesmente me ignorava? Por que razão queria ele dominar a minha vida, as minhas decisões? Desta vez, a vontade de Ruben parecia-me clara, então levantei-me rapidamente e caminhei para dentro de casa. Pouco mais de dois curtos passos tinha dado quando o som de um suspiro pesado chegou aos meus ouvidos.

 - Madalena… - Os passos cessaram. Dei meia volta para poder olhar para aquela figura que meu nome tinha chamado. Continuava sentado no chão, agora os braços rodeavam os joelhos. O seu olhar estava preso em mim. Tentei colocar no meu uma expressão de como quem não se importa. Talvez tenha resultado, pois num salto, Ruben colocou-se de pé. Com o arrependimento colado no rosto veio na minha direção um pouco a medo. Parou demasiado longe de mim. – Eu… Madalena… Eu… - De cabeça baixa gaguejava e soltava pequenos suspiros, sem saber ao certo o que dizer. Coloquei um dedo nos seus lábios.

 Perto dos elevadores, jovens vozes desconhecidas faziam-se ouvir. Arrastei-o para dentro dos meus limites privados e Ruben ainda continuava sem dizer nada. Conduzi-o até à sala de estar onde ocupámos o grande sofá. Estava na hora de fazer alguma coisa, na minha cabeça, neste momento, assemelhávamo-nos a dois estranhos que tem de estar no mesmo sítio, tal como acontece a milhares de pessoas nas paragens dos transportes públicos.

 Sentado caracteristicamente no sofá, ocupei o seu colo. De frente para ele, tentei usar algumas técnicas de sedução como aparecem nos filmes românticos para despertar a sua atenção, aparentemente resultaram embora tivesse a sensação que parecia uma idiota, pois Ruben olhou-me olhos nos olhos. Desfiz-me num sorriso tímido e entreguei-me aos seus lábios. Doces, suaves, perigosos. Num beijo de saudade, de perdão, de desejo e sentimento, muito sentimento. Redescobríamos caminhos na boca um do outros e descobríamos novos, as nossas mãos viajavam cada vez mais desesperadas pelos corpos, mordia-lhe levemente o lábio inferior enquanto Ruben me apertava os glúteos. Aqueles simples atos estavam a deixar-me louca, não era a única, pois a euforia de Ruben denunciava-o. Rapidamente, comecei a sentir as mãos de Ruben a pousarem na pele quente das minhas costas, instintivamente juntei-me um pouco mais a ele, levando-o a encostar-se totalmente no sofá, pois se não o fizesse a sua cara ficaria aterrada em meu peito. Os beijos e a nossa entrega mútua intensificaram-se, Ruben esforçava-se para me retirar a camisola e eu sentia força para fazer-lhe o mesmo. Embora com a sua ajuda, breves instantes depois larguei a sua camisola no chão atrás de mim. Como era magnífico ver aqueles abdominais, aquele corpo trabalhado, não que nunca o tivesse visto em tronco nu, mas agora era uma perspetiva diferente. Embora não tivesse disposta a ficar sem camisola, Ruben continuava a esforçar-se por retirá-la do meu corpo. Até que, os nossos beijos, imensamente intensificados começaram a perder intensidade. Se eu achava que o momento tinha chegado, provavelmente não seria ainda.

 - Ruben, o que se passa? – Perguntei quando Ruben acabou por nos separar, permitindo apenas que ficasse sentada no seu colo, com as suas mãos pousadas na minha cintura. – Vá lá, fala comigo. – Insisti.

 - Não se passa nada, amor.

 - Hum, então ignoraste-me um dia inteiro por nada? – Conclui.

 - Eu não…

 - Foi precisamente isso que fizeste. – Interrompi. – Eu não acredito que não tenha sido por nada. Houve um motivo e eu quero saber qual.

 - Quem é o Bernardo? – Rematou. Tive a sensação de me estava a mudar o tema da conversa.

 - Bernardo? Que Bernardo?

 - Não conheces ninguém com esse nome?

 - Conheço, um colega de curso. Mas, por que é que… Conhece-lo? – Perguntei confusa.

 - É esse mesmo. O que é que achas dele?

 - O que é que eu acho? Não acho nada, não falo muito com ele. Ruben, o que se passa?

 - O que é que ele é para ti? – Insistia Ruben.

 - É um colega, já te disse.

 - Só?

 - Ruben, mas que conversa é esta? De onde veio o Bernardo agora? Pensava que nem o conhecias…

 - E não conheço, mas…

 - Mas?

 - Há uns tempos a Maria falou-me dele e da vossa história…

 - E porque haveria ela de te contar coisas a meu respeito?

 - Porque eu lhe pedi…

 - É por isso que estás assim?

 - Eu tenho medo de te perder, Madalena.

 - Não será por ele que me poderás perder. – Não lhe podia dizer que nunca me iria perder pois era algo que as pessoas prometiam e nunca cumpriam, pois uma das partes acabava sempre por ir embora. – Mas, Ruben, eu não vou tolerar mais isto. Se tens alguma duvida em relação a mim, é a mim que tens de perguntar.

 - Mas eu não tenho duvidas.

 - Então para que foi esta cena de ciúmes?

 - Não são ciúmes!

 - Não são? – Soltei uma pequena gargalhada.

 - Só um bocadinho…

 - Hum, hum.

 - Mas é só porque te amo!

 - Ruben, eu… Eu também te amo. – Era a primeira vez que dizia ‘amo-te’. Sempre achei uma palavra forte demais para ser dita em vão. Então, sempre procurei guardá-la para quem a merecesse ouvir, para o momento em que eu tivesse a certeza que sentia tudo aquilo que a pequena palavra implicava.

 - Tu o quê? – Perguntou-me com um enorme sorriso no rosto. Percebi que Ruben tinha percebido perfeitamente o que acabara de lhe dizer.

 - Nada.

 - Repete.

 - Amo-te!

 - Sabes o quão bom é ouvir-te finalmente dizer que me amas?

 - Tenho uma pequena ideia… - Diminui a distância entre nós e entreguei-me novamente ao seu beijo. Todos os nossos beijos eram caracteristicamente nossos mas, todos diferentes. E este, certamente, estaria escalado como um dos melhores. Agora, ambos, estávamos igualmente entregues ao mesmo sentimento.

 - Será que agora podes desculpar este imbecil que gosta muito de ti?

 - Enquanto permaneceres aqui, – Coloquei a sua mão no meu peito para que pudesse sentir os batimentos do meu coração – estarás sempre desculpado.


7 comentários:

  1. magnifico...

    quero mais... tou super curiosa para ver o proximo...

    continua...

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  2. Isto está lindo meu deus.

    continua...

    queremos mais!

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  3. Olá : )
    Adorei!
    Estou desejosa que postes o próximo ;)
    Beijinhos
    Ritááá xD
    romanceinesperado.blogspot.com
    speedofloveslb.blogspot.com

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  4. Adorei!
    Está lindo!
    Quero ler o próximo.
    Beijinhos

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  5. Amei, adorei! Está fantástico! E como vim agora do McDonald posso dizer que I'M LOVIN' IT!

    Cada vez tenho mais a certeza que esse Bernardo vai começar a trazer cada vez mais problemas. E se cada vez que ele fizer alguma coisa o Ruben fizer uma cena de ciumes, acho que o final é obvio.

    Por ultimo, essa Maria irrita-me um bocado. Primeiro é muito amiga e depois vai contar ao Ruben histórias.

    Continua, está aqui uma linda história! Beijocas

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  6. Finalmente consegui meter a leitura em dia, adorei, agora quero o próximo.
    Espero que esta história do Bernardo não venha trazer problemas ao casalinho. Continua porque os capitulos estão lindos.

    Beijocas

    Fernanda

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  7. Ola! Descobri esta fanfic hoje(ou melhor ontem), comecei a ler e fiquei apaixonada. Já estou a HORAS a ler e só quero mais e mais! :D

    AMO esta historia, Parabéns!

    Acho que com o "Amo-te" o Rúben ficou mais confiante, pois a Madalena diz sempre antes não antes mesmo de escutar o seu coração.

    Esse BERNARDO, BAHH!

    Quero saber como é que o irmão da Madalena vai receber o cunhado :)
    E quero muito, ver o Ru a conhecer o sogrão benfiquista!

    Próximo, vem quando?! ANSIOSA :)

    Beijos! *.*
    <5

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