domingo, 15 de janeiro de 2012

25º Capítulo: Decisão

  O sol ainda demorava a nascer, os segundos davam lugar aos minutos e os minutos às horas. Ultimamente era assim, o sono teimava em vir e, nem mesmo em época de exames isto era normal. Quando queríamos que o tempo passasse por nós a correr era quando passava mais devagar.

 - “Anywhere you are, I am near / Anywhere you go, I’ll be there / Anytime you whisper my name, you’ll see / How every single promise I keep / Cuz what kind of guy would I be / If I was to leave when you need me most…” – A luz que provinha do meu telemóvel aumentava com o decorrer da música que tinha como toque de chamada. Àquela hora só poderia ser a quem eu tinha tanto para agradecer.

 - Estavas a dormir? – Perguntara-me.

 - Não…

 - Já conseguiste falar com o Ruben?

 - Não…

 - Abre a porta.

 - Para quê?

 - Vá lá, está frio.

 Levantei-me num salto e fui receber Maria, que vinha com claras intenções de me fazer companhia durante o resto da noite. A ansiedade dominava-me, na verdade, naquele momento desejava que Maria não fosse Maria, mas sim Ruben. Tinha saudades de todos os poucos momentos que passámos juntos há um mês atrás.

 Deitadas na minha enorme cama, Maria passava, carinhosamente, a sua mão pelos meus cabelos, nada dissemos, não havia nada para dizer, tudo estava dependente de uma porcaria de uma notícia que só chegava de manhã, quando o sol nascesse. Finalmente, o sono apoderou-se de mim, não por muito tempo, pois a noite já ia longa.



***



 Tinha a sensação que acabara de adormecer quando ouvi a porta da entrada fechar. Levantei lentamente a cabeça, dando oportunidade aos olhos de se adaptarem à escuridão do quarto, Maria já se tinha levantado, provavelmente o sol já nascera há algum tempo. Então, se o sol já tinha nascido, os jornais já estavam nas bancas.

 - Maria! – Gritei, quando o relógio comprovou o meu pensamento.

 Levantei-me o mais rápido que consegui e procurei-a por toda a casa. Nada, estava sozinha. Maria nunca me deixava assim sem avisar, teria de existir um bilhete. E lá estava ele, em cima da bancada da cozinha.



M, fui comprar comida para o nosso pequeno-almoço.
E não te preocupes, eu compro todos os jornais que falem sobre o Ruben.
Beijinho, Maria.



 A confirmação aproximava-se. A ansiedade, o medo, tudo se tinha apoderado de mim. A esta hora Ruben já estaria de malas feitas, pronto a embarcar rumo ao novo país, talvez fosse por isso que ainda não me tinha retomado a chamada que ontem não atendeu.

 Permanecia sentada na bancada, ao lado do bilhete, de olhos fixos no chão, quando Maria entrou novamente em casa.

 - E então? – A minha voz saiu estranhamente preocupada.

 - Ainda não li, pensei que gostavas de ser a primeira… - Maria deu-me um dos jornais, sabia que depois de ler o que um deles dizia tinha de confirmar a notícia com os outros.

 Olhei-a com medo. Tinha medo das palavras que estivessem gravadas naquele papel. Maria pousou uma mão no meu ombro, encorajando-me.

 - E se…?

 - Não vais saber se não leres.

 Ainda fiquei largos minutos a olhar para o jornal, na capa nada dizia, o que ainda dificultou mais.

 - Vá lá, Madalena. – Olhei-a uma última vez, ao qual me respondeu com um sorriso. Desdobrei o jornal e, lentamente, passei página a página, à procura da notícia que, até hoje, me faltara coragem para ler.

 O título era um pouco subjetivo, o jornalismo não devia ser assim. Teria de avançar um pouco mais na notícia para tomar conhecimento da decisão que realmente havia sido tomada. Respirei fundo e, pela primeira vez, li:



Benfica «aborta» negociações com Génova
O internacional português vai ficar no SL Benfica.
Afastadas as hipóteses do número 5 jogar, na próxima época, no Lazio ou em qualquer clube inglês, a transferência de Ruben Amorim para o Génova também foi esta semana cancelada. O SL Benfica terá abortado as negociações com o Génova, para a transferência do médio português, por não estarem reunidas todas as condições previamente acertadas na última reunião com o clube. De acordo com uma fonte segura, o clube italiano não cumpriu com o que terá ficado apalavrado na reunião, entre os dois clubes, o que levou o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, a abortar a operação. O dirigente do SL Benfica «recusou baixar a fasquia dos 5 milhões para o empréstimo de Ruben Amorim, deixando claro que não cedia a pressões e que não estava disposto a prosseguir com as conversações», avança a fonte.
Com este cenário, Ruben Amorim deve ficar no SL Benfica até ao final da temporada, sendo que em breve estará de volta aos treinos com a restante equipa.


 Li e reli. Seria possível que isto fosse verdade? Agarrei nos tantos outros jornais e voltei a ler e a reler cada notícia que se relacionava com Ruben. Sim, era verdade! Ruben ia ficar no Benfica, ia ficar em Lisboa, ia ficar perto de mim. Não expressava qualquer tipo de emoção, tinha entrado numa espécie de transe, por isso, Maria viu-se obrigada a ler também um dos artigos.

 - Madalena… - Chamou-me e procurou uma reação minha. – Ele vai ficar. Madalena! Estás a ouvir?

 - Ele vai mesmo… ficar?

 - Parece que sim, minha querida. Eu disse que ia correr tudo bem.

 - Sim, disseste. Então porque é que ainda não me telefonou?

 - E porque é que ainda aqui estás e não vais ter com ele?

 Voltei ao quarto, sem responder a Maria, o telemóvel continuava em cima da mesa-de-cabeceira, no entanto, não me dei ao trabalho de confirmar se teria alguma chamada de Ruben.

 «Fico à tua espera, Madalena. Sabes onde me encontrar», estas foram as suas últimas palavras do nosso último encontro. Não sabia exatamente onde o encontrar, mas conhecia sítios onde a probabilidade de ele estar presente era elevada.

 Não havia tempo para grandes escolhas, do guarda-roupa tirei uma camisola simples e uns jeans. Apanhei o cabelo, coloquei o telemóvel e chaves na mala, e vesti um casaco. Senti qualquer objeto no interior de um dos bolsos, parecia não ter forma definida. Retirei-o para que o pudesse ver. Um papel amarrotado. Podia simplesmente coloca-lo no lixo mas ao invés disso, desdobrei-o cuidadosamente. Aos poucos, traços começavam a aparecer, e com o papel esticado o mais possível, a figura aí desenhada ganhara forma. Aquele desenho tinha sensivelmente dois meses e meio. Jogo Benfica x Sporting, estava na minha terra, rodeada pelos meus amigos de infância enquanto o Sporting perdia por uma bola a zero, golo da autoria de Javi Garcia. Lembro-me de como admirava este jogador mas, nessa noite, algo fez com que o seu brilho diminuísse. Isolara-me de todos, devido ao meu mau perder e, como sempre, refugiava-me numa folha de papel. Nessa noite, depois de vários traços, algo ganhou forma. Uma figura apareceu, um esboço de alguém que naquele momento lutava por um resultado diferente do que eu esperava. Ruben. Percebi que o brilho que via ao ver o Javi Garcia não tinha desaparecido, era apenas o brilho que o ídolo ganha aos olhos de uma fã. No entanto, esse brilho apoderou-se de outra pessoa e cresceu, continuou a crescer, mais e mais. Foi o primeiro dia em que Ruben brilhou para mim.

 Maria veio ao meu encontro, senti a sua presença atrás de mim.

 - A nossa história não começou no dia em que o vi no Bowling ou no dia em que aceitei jantar com ele… Começou aqui. – Estiquei-lhe o papel para que ela pudesse ver o seu conteúdo.

 - Mas… é igual ao desenho que fizeste no Bowling. Só diferencia na maneira como ele está vestido… - Era verdade. Quando o tinha encontrado no salão, no dia em que trocamos as primeiras palavras, desenhara-o tal como estava vestido. No entanto, no desenho que Maria segurava a figura de Ruben envergava o equipamento encarnado.

 - Dia 26 de Novembro de 2011, Benfica-Sporting. – Indiquei-lhe a ocasião. – Era assim que ele devia ter ficado sempre… como um jogador.

 - Tu tiveste a oportunidade de o conhecer como homem. Não o deixes fugir. – Lançou-me um sorriso. – Vai ter com ele.

 Não olhei mais para trás. Maria estava à vontade para ficar em minha casa, aliás, eu sabia que, provavelmente, quando regressasse ela ainda lá estaria. Neste momento tudo se tornou demasiado lento. O elevador descia lentamente até ao meu piso, as minhas pernas não eram davam o equilíbrio que o meu corpo precisava naquele momento para descer os lances de escadas a correr e sem cair, e claro, o trânsito que ainda estava um pouco denso.


2 comentários:

  1. Oi :)

    Não sabia da existência da tua FIC mas prometo que irei ler e assim que conseguir actualizar-me direi o que achei. Só não prometo é ser rápida porque tempo livre para o meu lado não abunda LOL

    Mas vou lendo aos poquinhos e hei-de chegar a bom porto.

    Ah e obrigada por seguires a minha FIC :)

    Bjs

    S.M.

    http://redescobriroamor.blogspot.com/
    http://elsa-avidaefeitademomentos.blogspot.com/

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  2. Bem... parece que já me actualizei LOL, comecei a ler os primeiros capítulos e não consegui parar mais, a história está interessante e agora estou curiosa para ler a reacção do Ruben ao vê-la :P

    Continua a escrever... porque irei continuar a ler!

    Beijocas

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