Aplicava ligeira força na campainha para que esta emitisse som. Depois
de várias tentativas, Ruben continuava sem atender o telemóvel. Tinha noção de
que era bastante cedo, na verdade, passavam poucos minutos das nove horas,
talvez Ruben já tivesse saído para treinar, ou algo do género. No entanto, e
depois de passar cerca de quinze minutos em frente à porta da casa de Ruben,
tentei uma última vez, o interior da casa permanecia silencioso, já os
irritantes ‘pis’ da chamada não se calavam para dar lugar àquela voz
maravilhosa pela qual eu morria de saudades. Dei-me por vencida e virei costas.
«Sabes onde me encontrar», talvez não soubesse, talvez não o conhecesse
minimamente bem para saber, mas se não o conhecesse como era possível gostar
dele desta forma?
Depois do corredor principal do piso, um outro mais pequeno dava acesso
ao elevador e às escadas. Ao virar à direita, entrei ligeiramente no pequeno
corredor. Tive a sensação de ouvir uma porta a abrir, então parei. Senti
necessidade de recuar vários centímetros no caminho percorrido e lá estava ele.
Provavelmente tinha acabado de acordar e ali estava eu, como prometera. Um
sorriso enorme formou-se nos seus lábios e outro, igualmente grande mas não tão
belo, nos meus. Em largas passadas percorri a curta distância e juntei-me a
ele. O meu tronco sentiu o seu nu, entrelaçámo-nos enquanto Ruben, cuidadoso,
nos colocava dentro de casa, fechando a porta atrás de mim.
- Ficaste… - Sussurrei num desabafo.
- Fiquei pequenina, fiquei.
- Ficaste… – Olhei-o. O medo que tinha sentido durante cerca de um mês
não tinha sido uma parvoíce. Ruben estivera perto de ir para o estrangeiro, se
não fosse a questão do dinheiro teria mesmo ido. – Por pouco. – Acariciei-o na
face.
- Eu disse-te que a última palavra seria sempre a minha… Tu não me
ouviste.
- Eu nunca o faço, não é?
- Neste caso, nem eu próprio já acreditava que iria ficar. Estive tão
perto de me afastar de tantas coisas, de perder tantas pessoas.
- Por que é que não me contaste logo ontem? Por que é que não atendeste
o telemóvel?
- Madalena, na verdade, eu não soube ontem, soube no dia anterior. Mas
não podia contar nada, pediram-me silêncio e foi isso que fiz, nem à minha mãe
ou ao meu irmão eu pude contar… Aliás, eles ainda nem devem saber…
- Eu compreendo, mas telefonei-te tantas vezes…
- No último mês, esta foi a noite em que consegui dormir descansado sem
pensar nas asneiras que fiz e no que podia ter acontecido.
- Pode parecer egoísta, mas… estou feliz por teres ficado.
- Não é egoísta, até eu queria ficar. Houve uma altura em que desejei a
oferta de clubes portugueses só para não ir para Itália, o processo disciplinar
não avançava, as negociações estavam aceleradas…
- Estiveste mesmo prestes a ir, não foi?
- Na verdade, só estou aqui, neste momento, contigo, por sorte.
- Eu que nunca gostei um bocadinho que fosse do Benfica.
- Não ofendas… O Benfica é o maior clube do mundo. – Disse orgulhoso.
- E o que é que isso tem? Continuo a não gostar do Jorge Jesus.
- Ele é bom treinador…
- Também é boa pessoa? – Rematei. Esperava que Ruben me esclarecesse à
cerca dos rumores que corriam sobre Jorge Jesus, ultimamente os meios de
comunicação afirmavam que o treinador dos encarnados não era o modelo de pessoa
a seguir.
- Não é nenhum ‘bicho-papão’… - Gracejou.
- Continuo a não gostar dele...
- Os resultados é que contam, nós só temos de obedecer.
- Ficavas melhor no Sporting, mas enfim… - Brinquei.
- Hum, boneca, isso não era opção. – Exibiu uma careta semelhante à de
uma criança quando é obrigada a comer verduras. Revirei os olhos.
Depois de uma audível gargalhada o ambiente alterou-se. Ruben iria ficar
em Portugal, pelo menos por enquanto, não havia motivos para que nos
mantivéssemos afastados. Literalmente. A gargalhada cessou para que,
ligeiramente, os seus lábios tomassem os meus. O seu sabor, a sua textura, os
lábios tão seus invadiram-me suavemente. Enquanto ambos descobríamos caminhos e
trilhos na boca um do outro, as nossas mãos viajavam, delicadamente,
percorrendo todas as curvas, estudando cada contorno. Tal como o desejo, a
necessidade de nos unirmos e, também, a urgência aumentavam. Queríamos mais,
mais e mais. A força dos braços de Ruben puxou-me para ele, até ao impossível. Pequenos
passos em frente, e 45 graus para a esquerda, depois do pequeno móvel da
entrada, uma parede impediu Ruben que me conduzir um pouco mais. Encontrava-me
entre a parede e Ruben, bem junto aos dois. As nossas línguas, unidas, bailavam
numa dança complexa, sem ensaios prévios mas também sem erros, especialmente
coreografada para nós. Sentia o seu toque quente mesmo por cima da pesada roupa
de inverno que trazia vestida. As suas mãos abandonaram o meu rosto, desceram
até à cintura apertando, ligeiramente, as zonas por onde passavam. Por momentos
abstraia-me com físico e entregava-me completamente a Ruben, foi aí que senti a
sua mão pousar nos meus glúteos. Deixei de corresponder ao beijo, Ruben
compreendeu que a sua ação me tinha deixado sem reação, mas não me deixou
afastar. As suas mãos voltaram ao meu rosto, os seus lábios abandonaram os
meus, viajando, agora, entre os lóbulos das orelhas e o pescoço. Tudo aquilo me
estava a dar força para continuar mas, para além do medo característico, achava
que era demasiado cedo. Dei este maravilhoso momento, caracterizado pela
saudade, por terminado, cessando-o com um forte abraço e com um enorme sorriso
no rosto. Adorava senti-lo junto a mim.
- Madalena… Obrigado. – Agradeceu num suspiro, com a cabeça enterrada
nos meus cabelos ainda lisos.
- Obrigado? Por quê?
- Por estares aqui. Duvidei que viesses…
- Eu disse que vinha…
- E agora?
- Agora tenho de te pedir desculpa por tudo, pelas minhas atitudes, por
não te ouvir, por… tudo.
- Não peças.
- Tenho de pedir e também tenho de remediar este tempo todo que fui uma parva
contigo.
- Foi desta parva que eu comecei a gostar…
- Ruben, eu estou a falar a sério.
- Então e eu também. – Sorriu-me perante a minha expressão carregada de
quando queremos ter uma conversa séria. – Adoro-te.
- Nem sabes onde te vieste meter…
- Só posso saber quando me responderes. – Na verdade, não havia pergunta
nenhuma para responder, pelo menos que tivesse sido feita agora. - Tu
pediste-me para esperar. O tempo acabou…
- Sim.
- Então? A resposta…
- Sim. – Voltei a confirmar.
- Sim?
- Sim, Ruben, eu quero ficar contigo.
- Eu não quero só ficar contigo.
- Há outra?
- Não tonta, eu quero que faças parte da minha vida, quero que sejas
minha namorada.
Por vezes um gesto vale mais do que mil palavras. Queria dizer-lhe que
aceitava com todos os termos e condições, queria exprimir os meus sentimentos
por ele ao máximo, queria fazê-lo sentir que era importante na minha vida e, acima
de tudo, fazê-lo ver que era dele que eu precisava. Olhei-o nos olhos o mais
sincera e profundamente que consegui, uni os nossos lábios. Quando quebrávamos
todas as barreiras, baixávamos todas as guardas e muros do nosso coração, as
respostas eram bem mais fáceis e verdadeiras, pois, nem tudo o que é complexo é
verdadeiro, tal como nem tudo o que é fácil é mau. Eu nutria sentimentos
suficientemente fortes por ele para querer lutar por uma relação, acreditava
que os sentimentos fossem correspondidos.
Agora sim, este era o início oficial de algo que estava muito longe do
fim, se é que este existisse.
Olá :)
ResponderEliminarAgora que o Ruben não se foi embora e ao que tudo indica a Madalena já baixou a guarda :P fico à espera do próximo
Estou a gostar da tua história e tenho a informar que hoje andei a divulgá-la, espero que não haja problema :P
Continua
Beijocas
ADORO :D
ResponderEliminarainda bem que ele não foi!
Continua com o teu bom trabalho..
Beijinho
Ana Sousa
Olá, finalmente consegui pôr a leitura em dia. Informaram-me que havia uma nova fic sobre o Ruben Amorim, fiquei curiosa e vim espreitar, ainda bem que o fiz,porque gostei imenso. Agora vou ficar à espera de um novo capitulo, espero que não demore muito.
ResponderEliminarContinua,
Beijos
Fernanda