terça-feira, 13 de dezembro de 2011

11º Capítulo: "Benfiquista à altura"

 - Nana, hoje posso dormir contigo? – Perguntou a bocejar.

 - A tua irmã está cansada. – Argumentou a nossa mãe.

 - Oh, não tem problema. – Disse despenteando-o. – Mas é melhor irmos já que essa boquinha está só a abrir.

 - Já não. Hoje quero ficar acordado até tarde! – Fez um beicinho delicioso que me fez soltar uma gargalhada.

 - Então está bem, mas é melhor irmos para cima. Vamos ver um filme?

 - Pode ser o Alvin?

 Entrámos no que tinha sido o meu quarto durante anos, tudo continuava igual. As mesmas cores nas paredes, a mesma disposição dos móveis, tudo.

 Os pijamas estavam vestidos, Artur enfiou-se na cama enquanto eu colocava o filme no DVD incorporado da pequena televisão. Juntei-me a ele. Automaticamente encostou-se a mim, não demoraria até o sono o possuísse e o transportasse para a Terra dos Sonhos.

 A respiração um pouco mais pesada do que o normal denunciara-o. O meu pequenino tinha adormecido. Levantei-me, o cansaço não era o suficiente para que conseguisse dormir. Com os meus pais já deitados, a casa estava escura. Aos tropeções, fui até à cozinha onde me sentei nas cadeiras altas. Fixei os olhos no balção central. O tempo passava tão devagar que me chegou a irritar.

 Vesti um casaco, estava frio lá fora, e fui até ao jardim que separava a nossa habitação da estrada. Numa corrida louca, Naomi veio ao meu encontro. Havia sido um presente de aniversário do meu pai quando completei 17 anos, uma cadela Uski, enorme, de pelo branco e cinzento. Comecei a fazer-lhe festas e, em modo de agradecimento, deu-me uma lambidela na face. O seu nariz não parava, estava eufórica, por muito tempo que estivesse longe dela, a Naomi sabia sempre quem era a sua dona.

 Bocejei. Agora sim, estava pronta para adormecer junto do meu pequenino.




***




 - Acorda! – Gritava Artur dando saltos na cama. – Acorda!

 - Ainda é cedo. Dorme.

 - Mas eu quero ir ao parque! – Levantei a cabeça da almofada. Artur já estava vestido.

 - Pede ao pai. – Disse tapando a cabeça com o cobertor.

 - Não! Quero ir contigo!

 «Não és nada querido quando estás feito chato!»




***




 O dia passou de forma lenta, como já era costume. Estava habituada ao stress da cidade, às intermináveis filas de trânsito, às ruas apinhadas de gente.

 Hoje era dia de jogo, os cafés da aldeia enchiam, e conseguiam ficar lotados nos dias em que o Benfica jogava.

 «Vá-se lá saber porquê…»

 Faltava uma hora para o jogo começar, provavelmente os jogadores já estariam nos balneários a prepararem-se para os próximos 90 minutos de jogo. Sabia que Ruben tinha sido convocado, então numa curta mensagem de texto desejei-lhe boa sorte, à qual me agradeceu rapidamente. Quando havia jogo desde grande clube era desnecessário combinar algo para que nos pudéssemos encontrar, a esta hora já estariam todos no café do costume com cascóis ao pescoço a gritar pelo clube.

 Entrei no café e dirigi-me à sala destinada aos jovens. Não me tinha enganado, o ambiente era de euforia. Abri a porta que separava as duas salas do estabelecimento e todos os presentes olharam.

 - Madalena! Estás cá? Não sabíamos que vinhas! – Estas foram as frases mais pronunciadas naquela sala. Nunca avisava previamente as minhas visitas, aparecia e pronto. Cumprimentei-os a todos e sentei-me numa das poucas cadeiras vagas, ao lado de Mafalda.

 Os jogadores entraram em campo para o habitual aquecimento, aquela sala entrou mais um momento de euforia.

 - Juro que não entendo esta algazarra, o jogo ainda nem começou. – Confessei para Mafalda.

 - Quando arranjares um benfiquista à altura, que te faça ver que o Glorioso é o maior, até vais deixar de ser lagarta. – Disse numa gargalhada.

 - Nunca! – «“Benfiquista à altura”, haveria mais alto benfiquista?», pensei.

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