- A tua irmã
está cansada. – Argumentou a nossa mãe.
- Oh, não tem
problema. – Disse despenteando-o. – Mas é melhor irmos já que essa boquinha
está só a abrir.
- Já não. Hoje
quero ficar acordado até tarde! – Fez um beicinho delicioso que me fez soltar
uma gargalhada.
- Então está
bem, mas é melhor irmos para cima. Vamos ver um filme?
- Pode ser o
Alvin?
Entrámos no que
tinha sido o meu quarto durante anos, tudo continuava igual. As mesmas cores
nas paredes, a mesma disposição dos móveis, tudo.
Os pijamas
estavam vestidos, Artur enfiou-se na cama enquanto eu colocava o filme no DVD
incorporado da pequena televisão. Juntei-me a ele. Automaticamente encostou-se
a mim, não demoraria até o sono o possuísse e o transportasse para a Terra dos
Sonhos.
A respiração um
pouco mais pesada do que o normal denunciara-o. O meu pequenino tinha
adormecido. Levantei-me, o cansaço não era o suficiente para que conseguisse
dormir. Com os meus pais já deitados, a casa estava escura. Aos tropeções, fui
até à cozinha onde me sentei nas cadeiras altas. Fixei os olhos no balção
central. O tempo passava tão devagar que me chegou a irritar.
Vesti um
casaco, estava frio lá fora, e fui até ao jardim que separava a nossa habitação
da estrada. Numa corrida louca, Naomi veio ao meu encontro. Havia sido um
presente de aniversário do meu pai quando completei 17 anos, uma cadela Uski,
enorme, de pelo branco e cinzento. Comecei a fazer-lhe festas e, em modo de
agradecimento, deu-me uma lambidela na face. O seu nariz não parava, estava
eufórica, por muito tempo que estivesse longe dela, a Naomi sabia sempre quem
era a sua dona.
Bocejei. Agora
sim, estava pronta para adormecer junto do meu pequenino.
***
- Acorda! –
Gritava Artur dando saltos na cama. – Acorda!
- Ainda é cedo.
Dorme.
- Mas eu quero
ir ao parque! – Levantei a cabeça da almofada. Artur já estava vestido.
- Pede ao pai.
– Disse tapando a cabeça com o cobertor.
- Não! Quero ir
contigo!
«Não és nada
querido quando estás feito chato!»
***
O dia passou de
forma lenta, como já era costume. Estava habituada ao stress da cidade, às
intermináveis filas de trânsito, às ruas apinhadas de gente.
Hoje era dia de
jogo, os cafés da aldeia enchiam, e conseguiam ficar lotados nos dias em que o
Benfica jogava.
«Vá-se lá saber
porquê…»
Faltava uma
hora para o jogo começar, provavelmente os jogadores já estariam nos balneários
a prepararem-se para os próximos 90 minutos de jogo. Sabia que Ruben tinha sido
convocado, então numa curta mensagem de texto desejei-lhe boa sorte, à qual me
agradeceu rapidamente. Quando havia jogo desde grande clube era desnecessário
combinar algo para que nos pudéssemos encontrar, a esta hora já estariam todos
no café do costume com cascóis ao pescoço a gritar pelo clube.
Entrei no café
e dirigi-me à sala destinada aos jovens. Não me tinha enganado, o ambiente era
de euforia. Abri a porta que separava as duas salas do estabelecimento e todos
os presentes olharam.
- Madalena!
Estás cá? Não sabíamos que vinhas! – Estas foram as frases mais pronunciadas
naquela sala. Nunca avisava previamente as minhas visitas, aparecia e pronto. Cumprimentei-os
a todos e sentei-me numa das poucas cadeiras vagas, ao lado de Mafalda.
Os jogadores
entraram em campo para o habitual aquecimento, aquela sala entrou mais um
momento de euforia.
- Juro que não
entendo esta algazarra, o jogo ainda nem começou. – Confessei para Mafalda.
- Quando arranjares
um benfiquista à altura, que te faça ver que o Glorioso é o maior, até vais
deixar de ser lagarta. – Disse numa gargalhada.
- Nunca! –
«“Benfiquista à altura”, haveria mais alto benfiquista?», pensei.
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