sábado, 17 de dezembro de 2011

13º Capítulo: Regresso

 A noite já se fazia notar quando cheguei a casa. Pensei em anunciar aos interessados a minha chegada, mas como era demasiado tarde e eu estava cansada (não, estes não foram os únicos motivos) decidi que era melhor fazê-lo no dia seguinte.

 A chuva, calma, ouvia-se lá fora. Embalava-me. Abracei uma almofada e adormeci.




***



 - Bom dia! – Disse Ruben com uma tremenda boa disposição, quando lhe atendi a chamada.

 - Hum… Bom dia. – Ruben acordara-me.

 - Estavas a dormir?

 - Sim.

 - E já chegaste?

 - Sim.

 - Então, vê se acordas porque daqui a uma hora vou ter contigo.

 - Mas…

 Ruben já tinha desligado. Como era possível, tanta boa disposição logo de manhã?

 Os meus músculos estavam tensos, alonguei-me. Levantei-me a custo, a cama estava demasiado quente e acolhedora. Apanhei o cabelo e vesti algo confortável, não tinha a mínima intenção de sair de casa àquela hora. Tinha acabado de tomar o pequeno-almoço quando Ruben chegou.

 Sem aviso prévio, Ruben colocou-me uma das mãos na minha face e a outra na minha cintura, puxando-me, assim, para ele. À medida que se aproximava, o meu cérebro funcionava a todo o vapor, pois quando sentia a sua respiração, o seu toque, o meu cérebro deixava, de forma automática, de funcionar. Desviei a cara no momento em que Ruben se preparava para unir as nossas bocas. Beijou-me na face.

 A necessidade do seu beijo, embora escondida, existia. Existia, embora eu não o admitisse, era mais fácil dizer que não tinha sentido do que admitir que era certo de uma forma errada.

 Ruben afastara-se de modo a colocar uma “barreira de segurança” entre nós.

 - Que tal de Natal? – Perguntou com uma certa desilusão.

 - Bom e o teu?

 - Também foi bom.

 Ficámos sem saber o que dizer. Conversa de café não era o nosso forte. E eu já fervilhava por dentro.

 - Ruben, temos de falar.

 - Diz. – Disse, rude.

 - O que se passa?

 - O que se passa? – Perguntou.

 - Sim. Nós…

 - Existe um ‘nós’?

 - Não. Quer dizer… Os amigos não se beijam…

 - Tens razão. Desculpa, a confusão foi minha. – Virou-me as costas e preparava-se para sair.

 - Espera. – Disse, agarrando-o por um braço. Voltou-se novamente. – Confusão?

 - Sim, confusão. Pensei que… Esquece o que eu pensei. Não importa.

 - Importa sim.

 - Madalena é simples, tu é que não compreendes, ou não queres compreender.

 - Então explica-me.

 - Eu gosto de estar contigo, gosto da tua companhia. Gosto de te ver sorrir, de sentir a tua respiração, de… - Ruben levantara um pouco a voz.

 - Mas tu conheces-me há pouco mais de um mês… - Disse num sussurro.

 - E? O que importa?

 Não fui capaz de me pronunciar. «Sim, o que importa?»

 - Madalena… - Colocou as suas mãos na minha face e obrigou-me a olhar para ele. – Eu estou a gostar de ti.

 - Tu estás…?

 - Estou! É assim tão difícil de ver?

 Estava a sonhar, só podia. «O Ruben Amorim? Gostar de mim?»

 - Mas não é certo?

 - O que é que é certo? – Perguntou-me.

 - Não sei.

 - Respondes-me com sinceridade? – Assenti. – O que sentes por mim?

 - Eu… Por ti? Não sei…

 «Não sabes? Não sabes mesmo?», pensei.

 Ruben estava visivelmente irritado. Puxou-me para si e encostou-me à parede. Os seus braços bloqueavam-me todas as passagens, olhava-me nos olhos, sentia a sua respiração. Estava a poucos centímetros de mim. Ruben uniu os nossos lábios, um beijo que não recusei. Um beijo diferente dos outros, violento, urgente. As suas mãos puxavam-me mais para si e as minhas pousaram na sua nuca puxando-lhe alguns cabelos.

 - E agora, já sabes? – Perguntou ao afastar-se de mim.

 - Ruben… - Eu estava sem folego. Tentava controlar a minha respiração para responder direito. – O que queres que te diga?

 - Quero que respondas à minha pergunta!

 - Queres? Eu respondo! Sim! – Ruben olhou-me nos olhos. Percebi-me que tinha gritado.

 - Sim? – Disse calmo.

 - Sim. Sim, eu adoro estar contigo, sim, eu desejo a tua companhia...

 Ruben estava maravilhado com a minha explosão.

 - E agora, Ruben?

 - A escolha sempre foi tua. Se quiseres manda-me embora, eu saio por aquela porta e saio da tua vida. Ou então, pede-me para ficar.

 - E se te pedir para ficar?

 - Se essa for a tua escolha, estarei sempre aqui.

 - Sempre?

 - Estou disposto a lutar por ti, Madalena! Estou disposto a fazer-te feliz, como tu mereces.

 - Mas tu podes ir embora.

 - Esquece o futuro. A última palavra será sempre a minha!

 - Não queres que estragues os teus sonhos.

 - Então diz-me o que queres!

 Não consegui responder. Durante largos minutos o meu pensamento viajou para o futuro. Imaginava-me ao seu lado.

 Ruben abriu a porta e saiu.

 - Fica. – Disse já sozinha.

 Era demasiado tarde. «Eu saio por aquela porta e saio da tua vida», as suas palavras ecoavam na minha cabeça.

 Não queria que ele saísse da minha vida. Não agora.

 Saí de casa, as portas do elevador fechavam-se. Desci as escadas o mais depressa que pude. Quando cheguei à entrada do prédio, Ruben encontrava-se perto do seu carro.

 - Ruben, espera. – Gritei.

 Ruben olhou, desmotivado, para mim. Corri na sua direção parando a poucos centímetros.

 - Fica. – Disse ofegante. – Fica. Não saias da minha vida.

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