A maré tinha
subido significativamente e o sol em breve iria nascer. Desta vez não podia
insistir contra a ideia de Ruben me querer levar a casa, os táxis estavam
parados.
- Tu vais fazer
um percurso enorme para me deixares em casa.
- Não custa
nada.
- Claro, e tu
não estás cansado nem nada.
***
A noite
realmente já ia muito longa quando chegámos a minha casa, a aurora cobria-se de
variados tons de amarelo e azul.
- Chegámos. –
Bocejou, em seguida.
«Tão teimoso.»
- Ruben, a tua
casa ainda fica longe e tu estás cansado. – Iria ficar preocupada até que uma
mensagem de Ruben chegasse ao meu telemóvel com a informação de que estaria
bem. – Podes ficar aqui em casa esta noite. – Ofereci, sem saber se me
arrependeria logo em seguida.
- Eu vou chegar
rápido a casa.
- É isso mesmo
que me preocupa. – Condutores bêbedos, velocidade a mais, má ideia,
definitivamente. - Fica.
- Queres mesmo
que passe a noite, ou o dia, em tua casa?
- É, parece que
sim, mas com uma condição.
- Qual?
- Tens de me
preparar o melhor pequeno-almoço de sempre.
Não aceitei um
não como resposta. Mostrou-me um lindo sorriso de agradecimento e conduzi-o até
minha casa.
- Espero que
não te importes de dormir no sofá, acho que é grande o suficiente para ti.
- Arranja-me só
um cobertor e não te preocupes.
Sai da sala e,
da pequena arrecadação retirei um cobertor que estava entre outros, arrumados
na prateleira mais alta.
- Aqui tens.
Podes usar a cozinha, a cada de banho, tudo, como se tivesses em casa. Só não
tenho é nada para vestires, pelo menos não de homem, mas se quiseres uma
camisola minha ou algo assim, é só pedir. – Brinquei.
- Hum… Deixa
estar. Eu cá me arranjo.
- Então, boa
noite.
- Dorme bem. –
Despediu-se de mim com um beijo na face e deixei-o instalar-se.
Entrei na casa
de banho, onde repeti o processo que já era habitual antes de me deitar. O
momento seguinte poderia ter sido tirado de um filme, abri a porta da casa de
banho rumo ao quarto, ao mesmo tempo em que Ruben iria abri-la também. Apenas
vestia os bóxeres, fiquei sem saber como agir, da minha boca nada saía. Os meus
olhos fixaram a tatuagem que lhe preenchia o ombro esquerdo, o seu tronco era
mais tonificado do que imaginara.
- Pensei que
estava livre. A casa de banho. – Esclareceu apontando para o seu interior.
- Não. Quer
dizer, sim. Podes ir. Boa noite. – Estava visivelmente atrapalhada, aposto que
nas minhas costas, Ruben exibira aquele sorriso lindo por eu não ter dito coisa
com coisa.
«A sério,
Madalena? Parece que nunca viste um homem seminu na praia», pensei. «E que
homem! Para! Para de pensar naquele… Oh meu Deus! Ruben, vais acabar por… por…
Oh esquece lá isso.»
Caí na cama,
cansada, esperando que o sono se apoderasse de mim, rapidamente. Tentei contar
carneirinhos, tentei cantar, mentalmente, uma música qualquer, mas os meus
pensamentos destinavam-se a atravessar o pequeno corredor e ir ao encontro da
pessoa que repousava no sofá branco, em L, no centro da sala de estar.
- Importas-te
de dormir? – Perguntei-me, em voz alta, dando mais uma volta na cama.
- Não
consegues?
Sobressaltada,
os meus olhos viajaram até à entrada do quarto. Ruben encontrava-se de pé,
encostado à parede, os seus braços cruzados na frente do peito. Olhava para
mim.
- Desculpa,
assustei-te?
- Pensava que
estavas a dormir.
- Não tenho
sono. E não sou o único…
- Parece que
não.
Sentei-me num
lado da cama, o outro foi, logo de seguida, ocupado por Ruben. Conversámos
durante algum tempo, até que o sono se apoderou de nós, e adormecemos, juntos.
***
- Bom dia. –
Dissera uma voz, longe.
Senti uma leve
brisa quente junto ao meu ouvido, em seguida pequenos toques, ligeiramente mais
húmidos, na minha cabeça e, em sintonia, algo me acariciava os cabelos. Aquilo
sabia bem. Escondi a cara debaixo da almofada, sabia do quanto desajeitada
acordava.
- Oh então,
olha para mim. – Pedia-me com a voz a soar numa gargalhada.
- Não.
- Anda lá.
Tenho uma coisa para ti. – Sentia as suas mãos acariciarem-me os braços, as
costas.
- É o quê? – Afastei
a almofada e levantei ligeiramente a cabeça, desviando os cabelos que me
impediam de ter uma visão total. – Hum… Pequeno-almoço. – Sorri-lhe.
- Ei, ei. Não
tocas em nada sem antes… - Ruben aproximava-se devagar, coloquei-lhe um dedo
nos lábios, impedindo-o.
- Primeiro o
pequeno-almoço, depois lavar os dentes, e só esta comida toda estiver deliciosa
é que ganhas um beijinho pequenino.
- Estás a
brincar, certo? – Disse com um perfeito beicinho de menino pequenino a
formar-se.
- Não.
Puxei o
tabuleiro para mim, certamente aquela comida toda era para os dois. Torradas,
croissants, sumo, leite, fruta, Ruben tinha pensado em tudo, e a minha mãe que
me desculpe, mas este foi o melhor pequeno-almoço de sempre.
- Então o meu
esforço merece ser recompensado?
- Ruben, tu não
tiveste trabalho nenhum.
- A sério? Nem
um beijinho?
- Andas mal
habituado.
- Talvez porque
nunca tive uma ‘amiga’ assim como tu.
- Assim como
eu?
- Madalena, o
que é que nós temos de amigos normais? Beijamo-nos quando queremos, já dormimos
juntos,… Para ser como uma namorada pouco falta.
- Ruben, nós já
falámos sobre isto… Eu não quero oficializar nada sem ter a certeza do futuro.
- Mas não é
assim que deveria ser? Tu achas que o David não percebeu já? E o Javi? Eles que
já te viram. E todas as pessoas que me conhecem?
- Ruben, por
favor, respeita a minha decisão, esta discussão não nos leva a lado nenhum.
- Eu não estou
a discutir contigo. E respeito a tua decisão. Só queria um beijo, e o
pequeno-almoço até estava bom. – Tornou a fazer aquele beicinho adorável.
- Sim, as
torradas nem estavam queimadas, estou surpreendida! – Olhei para Ruben
seriamente. – Eu só não gosto de me enganar.
- Eu espero,
mas até lá dá-me um beijo.
- A tua sorte é
que és… - Aproximei-me lentamente, e foi Ruben a unir as nossas bocas calmamente.
A sua língua acabou por invadir a minha boca e, rapidamente o beijo calmo
adquiriu um pouco de urgência. Foi Ruben a cessar, demasiado cedo.
- Eu sou o quê?
- Ahn? – Sentia
a sua respiração, quente, demasiado perto dos meus lábios. Olhei os seus, um
sorriso rasgado estava esculpido.
- A minha sorte
é que sou o quê?
- Desumano.
Irresistível. – Arrependi-me, logo de seguida, de ter dito estas palavras, e da
forma como as disse. A curta distância de Ruben era uma espécie de hipnose para
mim. Que nome poderia dar a isto?
A um novo beijo
eu dei início. Uma certa fúria invadiu-me, fiz com que ele se deitasse e eu
sobre ele. As suas mãos voltaram a viajar no meu corpo, as minhas no seu peito.
Embora o ambiente entre nós estivesse a aquecer eu sabia que Ruben me
respeitaria e não tentaria nada comigo, pelo menos por agora. Ou estaria a
pedir demasiado?
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