Sentados à
mesa, os meus avós ocuparam as laterais mais distanciadas, cada um fazendo-se
acompanhar pela respetiva mulher. Os meus pais e tios sentavam-se lado a lado,
e nós ocupávamos o outro lado da mesa.
Os meus avós
fizeram, tal como todos os anos, um pequeno discurso sobre a importância do
Natal, da família e do amor que nos unia. O discurso era sempre o mesmo, no
entanto mereciam toda a nossa atenção. Certamente os mais idosos teriam lições
e ensinamentos para nos transmitirem.
As entradas
foram servidas, compostas por pão fatiado e diferentes tipos de enchidos,
sapateira recheada e pudim de camarão. Seguiu-se a sopa, à qual os mais novos
franziram o nariz. As cozinheiras da família estavam de parabéns. Os pratos que
se seguiram, pratos típicos do Natal, estavam divinais. Desde o peru assado com
ervas, chester recheado com frutas e secas, ao bacalhau natalício, tudo isto
acompanhado por puré de maça ou puré de castanhas.
O jantar
seguiu-se acompanhado das mais variadas conversas. Os mais idosos relembravam
os tempos de infância, aqueles tempos de nostalgia, tempos em que a família se
juntava toda na igreja, depois do jantar, para mais uma celebração da missa do
galo. Os mais novos brincavam entre si, falavam da sua escola, das meninas e
meninos que lá conheceram. Também havia aqueles que gabavam os filhos, pelas
notas, pelos companheiros, pelas qualidades que tinham. No fundo, todos nos
sentíamos uma família. Esta era a única época do ano em que nos juntávamos, não
por esquecimento, mas sim por falta de oportunidade. Uns, porque o trabalho os
prendiam, outros pelas aulas. Cada um tinha a sua vida.
Finalmente as
sobremesas. As minhas avós faziam questão de servir os netos. Gostavam de
encher os nossos pratos com os seus mimos. E no final, se alguém ousasse deixar
restos no prato a expressão seria: “Ai que o meu netinho está doente”.
Preocupação de avós.
O meu prato
encontrava-se uma fatia de Tronco de Natal, bolo do Pai Natal e tarte de natas.
Depois de passar uma manhã inteira feita gulosa, teria estômago para aquilo
tudo?
A conversa
seguia. Passámos para a sala de estar. O calor que vinha da lareira fazia-se
sentir e, consequentemente, o conforto do lar aumentava. Na televisão passavam
filmes que, na minha opinião, não eram, de todo, apropriados para o Natal. Decidimos,
então ver um filme da Disney – “A Christmas Carol”, em português, “Um Conto de
Natal”. Este sim era um verdadeiro filme de Natal, os mais novos adoravam.
***
O relógio da
aldeia fazia-se ouvir. Os mais pequenos, já inquietos, começaram a gritar pelo
Pai Natal.
Um velho
barrigudo, de barbas brancas, enormes, vestido de vermelho entrou na sala com
um saco às costas.
- Oh oh oh. –
Dizia com voz rouca.
As crianças
correram para ele, entusiasmadas. Nem deram pela ausência de um dos meus tios.
Saíra daquela sala cerca de vinte minutos antes, vestiu a farda do Pai Natal, e
colocara todos os presentes que estavam escondidos nos carros dentro do enorme
saco preto. Quando a última badalada ecoou nas ruas desertas da aldeia, entrou
para satisfazer as nossas crianças.
Em fila, os
pequenos aguardavam para falar com o Pai Natal e para receber os respetivos
presentes.
- E portaste-te
bem este ano? – Perguntava a cada um individualmente.
- Sim. – Respondiam
envergonhados.
Então o Pai
Natal tirava do seu saco montes de presentes com o nome de cada um.
- Obrigada. –
Agradeciam contentes. Seguia-se o beijinho de despedida e iam brincar com os
novos brinquedos.
Também nós
tivemos direito a receber os presentes dados pelo senhor das barbas brancas.
Esperei pela minha vez.
- Portaste-te
bem este ano? – Perguntou-me depois de me sentar no seu colo.
- Hum… Sim.
- Sim? Mesmo
bem?
- Siiim!
Repetiu o
processo e tirou do saco os meus presentes. Agradeci a todos e desembrulhei-os.
Ao contrário
dos presentes das crianças que apenas tinham o nome de quem se destinavam, os
nossos tinham, também, o nome de quem oferecia. Lia os pequenos autocolantes de
identificação e rasgava o papel, não tinha paciência para descolar a fita ou
para tirar os agrafes com o máximo cuidado. Perfumes, dinheiro, roupa, foi o
que mais recebi.
Até Naomi
recebeu o seu presente. A sua cauda agitava-se euforicamente, a própria o
desembrulhou, estava contente com o seu novo osso de plástico.
A noite ia
longa. Os pequenos dormiam profundamente, os grandes distribuíam-se pelos
quartos que restavam. No dia seguinte almoçaríamos juntos e, diríamos “Até ao
próximo ano”.
***
Uma semana
tinha passado desde que eu chegara à pequena aldeia. À precisamente uma semana
que tirara as malas do carro, e agora estava a voltar a coloca-las. Estava na
altura de voltar à capital.
- Nana, não vás
embora?
- Tenho de ir
meu amor. A mana daqui a uns dias volta, está bem?
- Mas eu vou
ter saudades tuas. – Disse cabisbaixo.
- Eu também vou
ter saudades tuas. – Disse dando-lhe um abraço apertado.
- Gosto muito
de ti.
- A mana também
gosta muito de ti, não te esqueças!
- ‘Tá bem, eu
não esqueço. – Prometeu-me.
Sorri-lhe.
Despedi-me dos meus pais, não sabia quando voltaria. Desejei-lhes um bom ano e
segui viagem.
Gosto da tua historia. Continua
ResponderEliminarJé, linda história. Bonita descrição do nosso natal :)
ResponderEliminarBeijinhos