Voltei a
olhá-lo nos olhos, conhecia vagamente a expressão, expressão que me tinha feito
correr atrás de Ruben e pedir-lhe para ficar quando pensei que tinha saído da
minha vida para sempre. Os seus olhos imploravam por uma resposta. Uma resposta
rápida. Eu não queria dizer não, aliás não queria nem podia, mas também não
queria sofrer mais do que me estava destinado, ao entregar-me ao homem que mais
queria neste momento. Provavelmente Ruben não aceitaria esperar, o pouco que
conhecia da sua personalidade dizia-me que corria atrás dos seus sonhos, por
isso chegou onde chegou. Uma pessoa assim luta pelos sonhos, sobe cada degrau
merecido com um sorriso no rosto, e acima de tudo, deixa para trás aquilo que
não importa. Será que eu não importava minimamente? Teria de arriscar, teria de
pedir-lhe para esperar, a decisão estava nas suas mãos.
- Ruben,
posso-te dar a resposta quando tiver a certeza que não vais embora? – Senti os
seus braços afastarem-se da minha cintura, onde tinham permanecido até então.
Um estranho desespero possuiu-me, coloquei as minhas mãos no seu rosto e
obriguei-o a olhar para mim. – Por favor, entende. Eu tenho medo, eu não quero
criar, acreditar e fazer crescer algo que depois terá de acabar com um simples
adeus. Não quero. Eu tenho um pavor enorme ao sofrimento. Por favor, entende
Ruben. – As palavras haviam-me saído demasiado depressa, a pressão que as
minhas mãos exerciam na sua cara tinha aumentado significativamente.
- Madalena, eu
entendo, nem ia deixar isso acontecer. Quando pediste para ficar as minhas
prioridades mudaram, uma delas é fazer-te feliz, eu não te ia magoar assim, não
a ti! – Rodou-o meu corpo sobre si, fiquei cara a cara com Ruben. Abraçou-me.
Senti-me pequenina, protegida.
- Mas os teus
sonhos, as tuas ambições…
- Os sonhos
mudam. Eu sou o que sempre quis, jogo no Benfica, já fui chamado para jogar na
seleção, tenho a minha família por perto… Os meus sonhos estão aqui.
- O que não
exclui a hipótese de…
- Madalena,
olha para mim. A última palavra será sempre a minha. É óbvio que penso no
futuro, o futebol são 10 ou 12 anos, também é verdade que se fosse jogar para o
estrageiro ganharia, certamente, mais do que ganho no Benfica. Mas achas que
era capaz de deixar a minha família, os meus amigos, a minha vida, tu, tudo
isso cá? – Um sorriso cresceu-lhe e numa gargalhada disse: - Eu sou um menino.
- Eu acredito
em ti, mas…
- Mas preferes
esperar, certo?
- Eu entendo se
não o quiseres fazer, tens esse direito. – Disse tristemente.
- Acho que
agora é um pouco tarde para mudar o que quer que seja…
- Isso quer
dizer que…
- Espero por ti
até ter certezas de que não vou a lado nenhum. Vou continuar aqui até tu me
mandares embora.
Felicidade.
Este sentimento era como a lua que nos iluminava naquela noite, tinha várias
faces. Conhecia algumas da sua totalidade, mas neste momento a felicidade que
sentia era diferente. Uma felicidade pequena, não que fosse pequena por não
estar totalmente feliz, mas uma felicidade que sentia que iria crescer mais e
mais, que me iria mostrar o verdadeiro significado das coisas mais simples.
Suspirei.
- Tu vais
continuar aqui até que queiras, eu não te posso mandar embora.
- Não podes?
- É tarde
demais.
Tarde demais,
essa era a verdade. Como era possível? Conhecia pessoalmente o Ruben há cerca
de um mês e meio. Era possível a química, a compatibilidade, o que lhe quiserem
chamar, crescer tanto em tão pouco tempo? Possivelmente esse crescimento ia
contra todas as leis possíveis e imaginárias da física, mas nada me garantia
que era impossível.
Continuávamos
sentados no chão, de frente um para o outro, as nossas pernas entrelaçavam-se
para que a distância diminuísse. A, até agora, deserta doca começava a encher,
principalmente de casais. Aquela sensação de inveja já não se fazia sentir,
pelo menos não na sua totalidade. Tinha quase tudo o que eles tinham, e para
alguns até tinha mais. Tudo o que sentia baseava-se em sentimentos verdadeiros,
puros, não tinham segundas intenções, não estava com Ruben pela fama, pelo
dinheiro, aliás isso assustava-me. Podia dizer que estava com Ruben, não
oficialmente, mas os amigos normais não se beijam como nós, não nutrem
sentimentos tão fortes como nós.
- Madalena, de
uma coisa eu tenho a certeza. – Não fiz qualquer pergunta, sabia que Ruben iria
continuar o seu discurso, embora tivesse incluído esta longa pausa para unir as
nossas mãos e prender fortemente o meu olhar no seu. – Adoro-te.
Senti-me corar.
Não ouvia esta expressão de grande significado há demasiado tempo, soube
demasiado bem. O meu coração acelerou exponencialmente, tudo o que definira
como certo e errado deixara de fazer sentido, esta era a mais fraca força,
embora devastadora em mim, dos mais simples sentimentos.
- Eu também te
adoro. – Disse no sussurro envergonhado, entregando-me aos seus braços que me
esperavam.
***
Esta não era a
noite que tinha planeado, de todo, mas não me podia queixar. Avistei, ao longe,
Sofia. Fazia-se acompanhar por um homem que julgo ter visto no grupo que se
juntou a elas na discoteca, era alto, loiro, musculado, embora me parecesse que
cérebro e sentido de responsabilidade não existissem. Um rasto de preocupação
percorreu-me, elas sabiam o que estavam a fazer, mas será que eles também
sabiam?
- Vem comigo. –
Pediu Ruben. A doca estava com demasiadas pessoas, estava na altura de sairmos
dali.
Passámos por
entre a multidão com dificuldade, ligeiramente afastados, até chegar ao carro
de Ruben que se encontrava um pouco longe. Por sorte não tinha sido o meu carro
a transportar-nos até ali ao início da noite.
Sentados nos
respetivos lugares do carro de Ruben, este pensava em alguma coisa.
- Onde vamos?
- Vamos sair
daqui.
- Pois, isso já
tinha percebido, mas onde?
- Não sei… -
Sorriu-me. Era algo que tinha aprendido a apreciar em Ruben, comigo não se
preocupava em ser outra pessoa, nem comigo nem com ninguém, era sempre ele
mesmo, embora me fizesse sentir especial.
- Isso
parece-me… Romântico. – Gracejei. – Hum… Por ali. – Ordenei apontando com o
dedo indicador para a saída do estacionamento.
Assentiu. Ao
percorrer as estradas da capital, dava-lhe instruções sobre o caminho que teria
de seguir. Ainda era cedo para regressar a casa, como tal o trânsito estava
calmo e o tempo de viagem foi reduzido.
- Podes
estacionar aí. – Indiquei.
- Boa escolha.
A praia
estendia-se mesmo à nossa frente. Deixei os sapatos no carro e, descalça,
caminhei até ao longo troço de areia branca, mesmo fria, adorava senti-la nos
pés.
- O que é que
estás a fazer? A água deve estar gelada. – Ruben encontrava-se no passeio atrás
de mim.
- Quem é que te
disse que eu ia entrar na água? – Puxei-o agarrando-lhe a mão.
Enquanto
caminhávamos, devagar, o seu braço agora na minha cintura, impediu-me de
avançar. As minhas costas tocaram no seu peito. Vacilei automaticamente. Ruben
estava colado a mim, demasiado, certamente teria sentido os pequenos espasmos
que percorriam o meu corpo. Quando pensei que não podia estar mais colada a
Ruben, puxou-me um pouco mais para si. A sua mão livre, afastava delicadamente
o casaco que tinha vestido da pele dos meus ombros. Os seus lábios beijavam
docemente, deixando um leve caminho de saliva da língua que os acompanhava, o
caminho percorrido pelos seus dedos, o ombro, o pescoço terminando a viagem com
uma pequena dentada no lóbulo da orelha. As minhas barreiras de segurança que
asseguravam o funcionamento da minha sanidade mental estavam a cair, era tempo
de explodir, de dar asas ao desejo. Bruscamente, rodei sobre mim mesma, e uni
os nossos lábios num beijo louco, ao qual Ruben correspondeu.
A intensidade
aumentava, agarrava levemente os cabelos acima da nuca de Ruben, as suas mãos
viajavam, sem rumo, pelo meu corpo. O frio da noite era substituído por um
calor corporal que aumentava. E as mãos de Ruben não paravam. Senti os seus
dedos pressionarem o fecho do meu vestido, larguei-lhe o pescoço, tentei
afastar-me um pouco dele, mas os seus braços fortes não me permitiram.
- Ruben, para, não vamos…
- Tu não…?
- Não. – Podia
parecer esquisito, mas eu ainda não o tinha feito com ninguém e era óbvio que
não seria hoje e muito menos fora de uma relação estável. – Desculpa.
- Estás a pedir
desculpa? Não, quem tem de te pedir desculpa sou eu. Eu não estava a pensar. Eu
não queria…
- Não tem
problema, vamos apenas… Ficar.
Senti novamente
o seu corpo contra o meu. Os beijos agora um pouco mais calmos, as suas mãos
acariciavam-me apenas as faces, as minhas pousaram no seu peito, bem junto do
coração que batia descompassado.
Estou a amar! :O
ResponderEliminarQuero o próximo, rapidinho!
Beijinho
Ana Sousa