O Ruben tinha,
escupido no rosto, aquele sorriso que nos últimos dias eu aprendera a admirar.
Admirei-o um pouco mais antes de me juntar a ele. Tinha vestido uma camisola
branca com decote em V, um casaco preto e uns jeans. Estava simples, mas
bonito.
A sua expressão
facial mostrava que estava surpreendido por me ver ali, provavelmente pensou
que eu não ia aparecer. A cada passo que eu dava baixava um pouco mais a cabeça
e aquele sorriso parvo teimava em crescer.
Cumprimentei-o
de forma desajeitada, não sabia como agir, enquanto o Ruben estava bastante
calmo e eu feita tonta apenas por um jantar que depressa acabaria e que nunca
mais se voltaria a repetir, acreditava eu.
Insistiu para
que fossemos no carro dele, mais tarde voltaríamos ao estádio para que eu
pudesse regressar a casa no meu próprio veículo. O Ruben continuava sem dizer
onde seria o jantar.
A conversa
fluía normalmente, era fácil estar na sua companhia, na sua maravilhosa companhia.
Não eram daquelas conversas banais, as palavras interessavam a ambos, falávamos
de tudo, de tudo menos de futebol, entrar por esse caminho não era, de todo,
uma boa ideia.
Aproximávamo-nos
da praia, já sentia a brisa ligeiramente mais fresca. Olhei para ele e a medo
disse-me:
- Espero que
gostes de pizza. Não tive tempo de reservar mesa em nenhum restaurante. – Respondi-lhe
apenas com um sorriso. Estava encantada, aquele parecia-me o programa perfeito.
Ou era isto ou o jantar era algo feito pelo Ruben, e algo me dizia que só sabia
fazer ovos mexidos, ou nem isso, visto que ia almoçar e jantar, todos os dias,
à casa da sua mãe.
Quanto mais nos
aproximávamos, mais fascinada eu ficava. Ruben tinha escolhido a minha pizzaria
favorita, a Pizzaria Beleal. Cozinha italiana, uma vista maravilhosa para a
ilha da Berlenga, e àquela hora ainda podíamos ver o pôr-do-sol.
A esta hora o
pôr-do-sol já tinha começado. Aliás, já estava quase de noite, mas ainda
podíamos ficar a admirar um pouco aquela arte natural.
Estava
demasiado frio para ficarmos na esplanada, por isso entramos e pedimos ao
anfitrião uma mesa situada no canto da enorme sala. Sala essa cujas paredes
tinham sido maioritariamente substituídas por grandes vidros. Assim, era
oferecido aos clientes uma vista esplendida e quando acompanhados pela pessoa
certa era um tanto romântica.
O empregado,
enquanto trazia as entradas, olhava para Ruben curioso. Talvez não fosse só
ele, os clientes mais próximos de nós olhavam, uns mais discretos do que
outros. Possivelmente não era normal um jogador de um grande clube ir jantar
ali numa noite de quinta-feira. Eu, pessoalmente, nunca tinha visto lá nenhum.
- Queres mesmo
ficar aqui? – Perguntei preocupada com a nossa privacidade.
- Queres ir
embora? – Olhou para trás e percebeu o porquê da minha pergunta. – Não queres
ser vista comigo?
- Não estou a
dizer isso, mas as pessoas estão a olhar.
- Oh vá lá,
esquece o mundo todo. As pessoas vão parar.
- Isso é
difícil como o que dizem sobre ti. – Disse num tom de sussurro que saiu
demasiado alto, consequentemente, ele ouviu.
- E o que é que
dizem sobre mim?
- Não lês
revistas nem vês televisão? Não se fala noutra coisa se não no misterioso
romance de Ruben Amorim com Vera.
- Quem?
- Vera, uma
concorrente da primeira Casa dos Segredos da TVI.
- Epá, outra
vez essa história? – Percebi que não devia ter entrado por ali. Ruben estava
num modo de quase fúria. – Eu já disse a Portugal inteiro que não conheço essa
mulher!
- Pronto,
desculpa. Vê se te acalmas. – Se antes as pessoas presentes na pizzaria olhavam
discretamente, agora nem se preocupavam em ser discretos. Ruben exaltara-se e a
voz subira vários tons, o que despertou ainda mais a atenção dos presentes.
- Não,
desculpa, peço eu. Mas essa história já anda a passar dos limites. Se eu vi
essa mulher alguma vez na vida foi só mesmo uma única vez, e nem a conheci
pessoalmente, nem uma troca de palavras houve. Nada!
- Não tens de
dar explicações. Compreendo que queiras o teu nome limpo, mas sabes como as
pessoas são, acreditam nos Midia acima de tudo.
- As pessoas…
As pessoas só sabem usar os outros para seu próprio proveito. E é claro, sai
uma notícia qualquer sobre alguém famoso e vira escândalo.
- Afinal a vida
de jogador não se limita a uma bola…
- Às vezes era
bom que se limitasse. É ótimo quando somos reconhecidos apenas pelo nosso
trabalho e por ser quem somos. Mas enfim, jogadores de futebol, as pessoas
julgam-nos antes de nos conhecerem, para elas somos um monte de músculos sem
cérebro que só se importam com futebol, raparigas e sexo.
- Eu não penso
assim… - Desabafei. O que o Ruben tinha acabado de dizer era a pura da verdade,
as suas palavras simples tocara-me.
- Tu és uma
querida.
Sorri.
O empregado
voltara novamente com os nossos pedidos. E que cheiro! Ainda os pratos não
estavam em cima da mesa e já crescia água na boca. Tinha deixado que fosse o
Ruben a escolher a pizza que seria o nosso jantar. Este homem tinha mesmo bom
gosto, optou por uma com molho de tomate, queijo (muito queijo) e também muito
fungui.
Entre conversas
e brincadeiras acabamos de jantar. Eu estava, como se costuma dizer, a rebentar
pelas costuras, mas o Ruben ainda pediu para a sua sobremesa um Zabaione
Gelado de Morango e Suspiros. Pela cara que fez ao ver a taça vazia,
algo me dizia que estava com vontade de comer outro. Era uma autêntica comédia
e sabia fazer rir sem o mínimo esforço.
Chegou a altura
de pagar a conta e a discussão habitual de um jantar começou. Quem pagaria a
conta? Nunca concordei muito em que fosse o homem a pagar tudo, eu encarava
isso como mais um sinal da antiga dependência da mulher ao homem e não como um
sinal de cavalheirismo. Ainda tentei que pagasse cada um a sua parte, mas os
meus argumentos foram inúteis. Chamou o empregado responsável pela nossa mesa,
pediu-lhe a conta e pagou-lhe sob o meu olhar de desagrado. Por experiência
própria já podia dizer que em qualquer discussão a persistência do Ruben era
uma vantagem, pois tornava o jogo totalmente desequilibrado. Talvez tenha sido
essa persistência e determinação que o levaram tão longe, que o levaram a
seguir o seu sonho mesmo depois de todas as pedras que caíram no seu caminho.
Estava a gostar
tanto daquela noite que se antes desejara que a noite acabasse depressa, agora
desejaria que o fim viesse muito devagar, pois esta poderia ser a única noite
que passaria na sua companhia. Mas sabia que não duraria muito mais pois já era
tarde e no dia seguinte tinha jogo.
Já no carro do
Ruben, aquele bonito Audi, a temperatura era bem mais confortável do que na
rua. Agora teríamos de aproveitar estes últimos minutos que levaríamos até ao
Estádio da Luz, onde estava o meu carro, para nos conhecermos melhor. O
trânsito hoje estava um pouco mais traumatizante que o normal. Durante a viagem
falámos um pouco de nós próprios. O Ruben contou-me o que faziam depois de
ganhar um jogo, a equipa ia toda jantar, os casados levavam as respetivas
mulheres, os comprometidos levavam as respetivas namoradas, depois havia os
solteiros que levavam apenas a vontade de comer e o Ruben, para meu grande
divertimento, confessou que levava a sua mãe. Achei piada, mas considerei como
um gesto bonito, visto que mantém uma grande ligação os dois. Eu falei-lhe da
minha origem alentejana, motivo para o Ruben gozar comigo o resto do caminho,
falei-lhe da minha família, da minha terra, do meu gosto pelo desenho, e aqui
elogiara-me deixando-me envergonhada.
O caminho foi
percorrido depressa demais. Ruben parou o carro mesmo ao lado do meu.
Despedi-me dele com um beijo na cara, e sem discussão possível segui-me até
casa para que tivesse a certeza de que eu chegara bem (como se eu não tivesse
habituada a estar sozinha 24 horas por dia). Estacionei o carro, e já a abrir a
porta de entrada do meu prédio acenei-lhe e pedi-lhe que quando chegasse a casa
que me avisasse, pois já era tarde e assim eu ia dormir descansada. Vi-o
abalar.
Subi as
escadas, o elevador à noite assustava-me. Entrei em casa, em comparação com a
noite fria que se fazia sentir lá fora, esta estava bem quentinha e acolhedora.
Repeti mais uma vez a minha rotina antes de me deitar: beber água, lavar os
dentes, vestir o pijama mais quente que tinha, o mais apropriado para aquelas
noites frias, e por fim, render-me à minha confortável e quente cama e
preparar-me para mais uma noite de sono.
A mensagem do
Ruben não tardou a chegar. Já deveria estar em casa, embora que o conteúdo da
mensagem nada disso dissesse.
(Ruben) Da próxima vez que te convidar prometes que aceitas?
Prometo. Adorei a noite J
(Ruben) Eu amei a noite. ‘Tou a adorar conhecer-te :$
És tão mentiroso!Vá bonitão, vou dormir. Beijinho
(Ruben) Até amanha minha alentejana bonitona.Dorme bem e sonha comigo :PBeijo
Sabia que ele
estava bem e finalmente podia render-me ao cansaço.
Espero que gostem!
Beijinhos, Jéssica.
Olaaaaaaaaa
ResponderEliminarAdoreiiiiiii :D
beijinhos :)