No dia seguinte
ao nosso primeiro jantar, acordei na expectativa de ver, no visor do meu
telemóvel, uma mensagem de texto vinda do telemóvel de Ruben. Mas nada, apenas
tinha uma mensagem publicitária da minha operadora de rede e uma chamada da
Maria.
«Oh meu Deus, a
Maria. Já deve estar furiosa.»
Suspirei.
Há dois dias
que eu não dava notícias, isto seria normal durante algumas horas, ou no máximo
um dia. Provavelmente já estavam todas a caminho da minha casa. Sem mais
demoras, sentei-me na cama e liguei para o telemóvel da Maria. Não demorou a
atender.
- Mas onde é
que tu te meteste? Já não dizes nada, estamos preocupadas contigo. – Maria
falava sem parar. E no plural, tal como esperava estava acompanhada com Sofia e
Joana. Deixei que acabasse de falar, não adiantaria contra-argumentar com ela a
gritar-me aos ouvidos. – Estás-me a ouvir?
- Sim, estou-te
a ouvir.
- E dizes isso
com essa calma toda? Andávamos aqui nós feitas tontas a pensar no que te podia
ter acontecido e tu só me respondes que estás a ouvir?
- Mas eu estou
bem, não me aconteceu nada.
- Então porque
é que não dizes nada há tanto tempo? É bom que tenhas um ótimo motivo se não eu
vou-te matar, Madalena!
- Tem calma!
Tenho andado ocupada…
- Ocupada com o
quê? Não vale a pena te desculpares com os estudos porque ontem nem apareceste
nas aulas!
- Eu sei que
não apareci, o motivo foi outro…
- Que outro?
- Deixei-me
dormir.
- E isso impede
de não apareceres na faculdade?
- Não. – Ela
era demasiado inteligente para acreditar em velhas histórias. – Fui jantar com
uma pessoa.
- Com quem?
- Oh, não
interessa. – Tentei desviar a conversa. – E se não queres que falte mais um dia
às aulas deixa-me desligar. Dentro de uma hora encontro-vos no quiosque.
Não dei tempo
para a Maria responder, desliguei o telemóvel. Levantei-me, vesti-me, agarrei
numa peça de fruta e saí de casa a voar, dentro de pouco tempo teria de estar
junto a elas, e Maria não me ia perdoar um único minuto de atraso.
***
Encontrei-as
sentadas num banco em frente ao quiosque, dei um beijinho a cada uma. Maria
esforçava-se por se mostrar zangada comigo, o que me deu uma imensa vontade de
rir.
- Ouve lá, do
que é que te estás a rir?
- Oh minha
querida, vais ficar amuada até quando?
- Até que tu me
digas com quem foste jantar ontem!
Olhei para as
restantes, estavam também elas curiosas.
- Aí, pronto
está bem, eu conto! Mas não foi nada de mais! Fui jantar com… - A minha voz
perdia intensidade à medida que me lembrava do jantar de ontem e do facto de
hoje ainda não ter dito nada. – Fui jantar com o Ruben.
- Ruben? Que
Ruben?
- Ruben Amorim,
conhecem? Aquele que apareceu no maldito papel.
- Tu foste
jantar com o Ruben Amorim? Estás doida? – Joana foi a primeira a manifestar-se.
A sua reação incomodou-me. – Julgava-te mais esperta, afinal o teu cérebro só
funciona quando se fala de compostos sanguíneos…
- Joana? O que
é que se passa contigo? – Eu ficara perplexa. Maria e Sofia estavam tão
confusas quanto eu.
- Eu não vejo
mal nenhum. Até fico bastante contente! – Esta sim era a reação que esperava de
Maria e Sofia. E também era esperada de Joana, mas esta não estava de acordo.
- Fiquem
felizes, pulem bem alto e gritem ao mundo por teres ido jantar com um famoso.
Quando ele te levar para a cama e no dia seguinte não te disser nada, fingir
que não te conhece, depois aí não digas que não te avisei! – Ok. Se tinha
ficado espantada com a reação da Joana, agora então estava completamente
desiludida com a mesma. Ela tinha tocado no ponto que até agora era o mais
fraco desta história, o Ruben ainda não me tinha dito nada.
- Já chega! –
Foi a vez de Sofia. – A Madalena é bem crescidinha, e sabe tomar conta de si.
Foi só um jantar, onde está o mal? Ninguém te está a entender!
- Sinceramente,
vocês não pensam! – Joana gritava. – Eu vou para a aula. – Virou-nos as costas
e foi embora.
- Mas que raio
se passa com ela? – Sabia que não obteria nenhuma resposta.
Acabaram por me
felicitar mais uma vez e seguimos o percurso de Joana, fomos para as aulas.
Acabei por não lhes contar que Joana poderia ter acertado.
***
Se houve algum
dia em que estive presente nas aulas apenas com o corpo este seria um deles. O
professor deu a aula como terminada, agarrei na minha mala e comuniquei à Maria
e à Sofia que me ia embora. Tinha a intenção de passar pela carteira da Joana e
pedir para falar com ela, mas esta saiu sem nos dirigir uma única palavra.
Maria e Sofia prometeram-me que falariam com ela.
A caminho de
casa, passei por um take away de comida chinesa e levei o almoço.
Pensei, por
diversas vezes, em ligar à Joana, embora soubesse que ela não me atenderia. Ao
início não acreditei no que ela estava a dizer, mas agora… Agora já não sei,
uma coisa era certa, ontem não tinha acontecido nada, fora apenas um mero
jantar entre dois conhecidos.
Aquela casa que
por vezes era acolhedora, depressa, em momentos de tristeza, se tornava
demasiado grande. Neste momento, sim, estava triste, uma das minhas grandes
amigas magoara-me. Nestas alturas lembrava-me da minha mãe, sentia imensas
saudades dela. Quando estava triste, abraçava-me e dizia-me: “No dia em que não
souberes que caminho escolher, pergunta ao mar, ninguém melhor do que ele para
lavar a alma.” Uma mãe tem sempre razão. O mar acalmava-me, sentar-me na areia
e sentir a sua brisa era reconfortante. Era o melhor ouvinte e concelheiro que
alguém podia ter, e com ele, eu tinha tido grandes conversas.
***
Baleal, para
mim, uma das zonas mais bonitas da cidade. O mar estava calmo embora a sua
brisa fosse fria, devido às temperaturas baixas e já características da atual
estação. Hoje, o sol brilhava, mas não o suficiente para que a temperatura
atmosférica subisse acima dos 16ºC. As rochas ganharam uma tonalidade
avermelhada e o mar disfrutava de diversas tonalidades de azul. Sentei-me na
areia fria, encolhi as pernas de modo a que a cara encaixasse nos joelhos. Não
precisava de falar, o mar lia-me os pensamentos.
«Joana... O que
se passa com a Joana? Será que ela tem razão acerca do Ruben?»
O mar
agitou-se.
«Não, não pode
ser. Ela nem o conhece. Ele pareceu-me uma pessoa verdadeira. Lá porque não
tive nenhum namorado desde que vim para Lisboa não quer dizer que seja uma
parva nesse campo. Aliás, nós somos apenas conhecidos, eu nunca iria
oferecer-me a alguém que não conhecia.»
Deixei a mente
divagar. Entretanto o sol preparava-se para se juntar ao horizonte e a
temperatura baixara significativamente. Estava na hora de regressar.
***
Um banho quente
seria a solução ideal para recuperar da tarde passada ao frio.
Já não tinha a
mínima intenção de sair de casa, vesti o pijama, liguei o portátil e disfrutei
do poder que a Internet nos dava hoje em dia.
O tempo passou
a correr, só tive essa noção quando alguém começou a bater à porta.
- O que é que
vocês tão aqui a fazer?
- Oh Madalena,
sinceramente, temos de apoiar o nosso Benfas! – Maria falava enquanto Sofia
estava carregada com uma pizza familiar e latas de sumo.
- Nosso nada, o
vosso Benfas, por que meu é o Sporting!
- Fofinha,
deixa de ser lagarta. – Maria fazia beicinho, embora soubesse que ela estava a
brincar.
- Mas hoje
jogam é?
- O quê? O
Ruben não te disse? Jogam hoje com o Nacional para a Taça.
- Ah. – O jogo.
Como é que não me lembrei? O Ruben hoje tinha jogo na Madeira, era normal que
não me dissesse nada! Esperava, muito sinceramente, que essa fosse a verdade.
Entraram e instalaram-se
na sala de estar em frente ao grande ecrã. Juntei-me a elas depois de ir buscar
guardanapos à cozinha senão quando o jogo acabava teria de fazer com que
limpassem a casa.
O jogo estava a
decorrer, e claro, como verdadeira lagarta, adorava ver o Benfica a perder.
- Bolas
rapariga, nem com o Ruben na equipa és capaz de ser gentil…
- Sofiazinha,
nem que tivesse lá o Ronaldo!
Ainda o jogo
não tinha acabado e já aquela enorme pizza tinha desaparecido. Agora a reação
da Joana ainda me parecia mais surreal. Poderia ser só mera preocupação, certo?
O jogo acabou,
o Benfica tinha sido eliminado da Taça por perder este jogo por 2-1. Não tive
vontade para gozar com elas. Já à porta, despedimo-nos e Sofia disse:
- A Joana vai
cair em si e perceber que agiu mal contigo.
- Esperemos que
sim… - Neste momento era o que eu mais queria.
Espero que gostem!
Beijinhos, Jéssica.
Eu sempre te disse que escrevias bem não foi? Ainda bem que me ouviste.
ResponderEliminarPublica mais coração, a história tá a ficar linda.
Beijinho * AC