terça-feira, 6 de dezembro de 2011

6º Capítulo: "Mas que raio se passa com ela?"

 No dia seguinte ao nosso primeiro jantar, acordei na expectativa de ver, no visor do meu telemóvel, uma mensagem de texto vinda do telemóvel de Ruben. Mas nada, apenas tinha uma mensagem publicitária da minha operadora de rede e uma chamada da Maria.

 «Oh meu Deus, a Maria. Já deve estar furiosa.»

 Suspirei.

 Há dois dias que eu não dava notícias, isto seria normal durante algumas horas, ou no máximo um dia. Provavelmente já estavam todas a caminho da minha casa. Sem mais demoras, sentei-me na cama e liguei para o telemóvel da Maria. Não demorou a atender.

 - Mas onde é que tu te meteste? Já não dizes nada, estamos preocupadas contigo. – Maria falava sem parar. E no plural, tal como esperava estava acompanhada com Sofia e Joana. Deixei que acabasse de falar, não adiantaria contra-argumentar com ela a gritar-me aos ouvidos. – Estás-me a ouvir?

 - Sim, estou-te a ouvir.

 - E dizes isso com essa calma toda? Andávamos aqui nós feitas tontas a pensar no que te podia ter acontecido e tu só me respondes que estás a ouvir?

 - Mas eu estou bem, não me aconteceu nada.

 - Então porque é que não dizes nada há tanto tempo? É bom que tenhas um ótimo motivo se não eu vou-te matar, Madalena!

 - Tem calma! Tenho andado ocupada…

 - Ocupada com o quê? Não vale a pena te desculpares com os estudos porque ontem nem apareceste nas aulas!

 - Eu sei que não apareci, o motivo foi outro…

 - Que outro?

 - Deixei-me dormir.

 - E isso impede de não apareceres na faculdade?

 - Não. – Ela era demasiado inteligente para acreditar em velhas histórias. – Fui jantar com uma pessoa.

 - Com quem?

 - Oh, não interessa. – Tentei desviar a conversa. – E se não queres que falte mais um dia às aulas deixa-me desligar. Dentro de uma hora encontro-vos no quiosque.

 Não dei tempo para a Maria responder, desliguei o telemóvel. Levantei-me, vesti-me, agarrei numa peça de fruta e saí de casa a voar, dentro de pouco tempo teria de estar junto a elas, e Maria não me ia perdoar um único minuto de atraso.
***

 Encontrei-as sentadas num banco em frente ao quiosque, dei um beijinho a cada uma. Maria esforçava-se por se mostrar zangada comigo, o que me deu uma imensa vontade de rir.

 - Ouve lá, do que é que te estás a rir?

 - Oh minha querida, vais ficar amuada até quando?

 - Até que tu me digas com quem foste jantar ontem!

 Olhei para as restantes, estavam também elas curiosas.

 - Aí, pronto está bem, eu conto! Mas não foi nada de mais! Fui jantar com… - A minha voz perdia intensidade à medida que me lembrava do jantar de ontem e do facto de hoje ainda não ter dito nada. – Fui jantar com o Ruben.

 - Ruben? Que Ruben?

 - Ruben Amorim, conhecem? Aquele que apareceu no maldito papel.

 - Tu foste jantar com o Ruben Amorim? Estás doida? – Joana foi a primeira a manifestar-se. A sua reação incomodou-me. – Julgava-te mais esperta, afinal o teu cérebro só funciona quando se fala de compostos sanguíneos…

 - Joana? O que é que se passa contigo? – Eu ficara perplexa. Maria e Sofia estavam tão confusas quanto eu.

 - Eu não vejo mal nenhum. Até fico bastante contente! – Esta sim era a reação que esperava de Maria e Sofia. E também era esperada de Joana, mas esta não estava de acordo.

 - Fiquem felizes, pulem bem alto e gritem ao mundo por teres ido jantar com um famoso. Quando ele te levar para a cama e no dia seguinte não te disser nada, fingir que não te conhece, depois aí não digas que não te avisei! – Ok. Se tinha ficado espantada com a reação da Joana, agora então estava completamente desiludida com a mesma. Ela tinha tocado no ponto que até agora era o mais fraco desta história, o Ruben ainda não me tinha dito nada.

 - Já chega! – Foi a vez de Sofia. – A Madalena é bem crescidinha, e sabe tomar conta de si. Foi só um jantar, onde está o mal? Ninguém te está a entender!

 - Sinceramente, vocês não pensam! – Joana gritava. – Eu vou para a aula. – Virou-nos as costas e foi embora.

 - Mas que raio se passa com ela? – Sabia que não obteria nenhuma resposta.

 Acabaram por me felicitar mais uma vez e seguimos o percurso de Joana, fomos para as aulas. Acabei por não lhes contar que Joana poderia ter acertado.

***


 Se houve algum dia em que estive presente nas aulas apenas com o corpo este seria um deles. O professor deu a aula como terminada, agarrei na minha mala e comuniquei à Maria e à Sofia que me ia embora. Tinha a intenção de passar pela carteira da Joana e pedir para falar com ela, mas esta saiu sem nos dirigir uma única palavra. Maria e Sofia prometeram-me que falariam com ela.

 A caminho de casa, passei por um take away de comida chinesa e levei o almoço.

 Pensei, por diversas vezes, em ligar à Joana, embora soubesse que ela não me atenderia. Ao início não acreditei no que ela estava a dizer, mas agora… Agora já não sei, uma coisa era certa, ontem não tinha acontecido nada, fora apenas um mero jantar entre dois conhecidos.

 Aquela casa que por vezes era acolhedora, depressa, em momentos de tristeza, se tornava demasiado grande. Neste momento, sim, estava triste, uma das minhas grandes amigas magoara-me. Nestas alturas lembrava-me da minha mãe, sentia imensas saudades dela. Quando estava triste, abraçava-me e dizia-me: “No dia em que não souberes que caminho escolher, pergunta ao mar, ninguém melhor do que ele para lavar a alma.” Uma mãe tem sempre razão. O mar acalmava-me, sentar-me na areia e sentir a sua brisa era reconfortante. Era o melhor ouvinte e concelheiro que alguém podia ter, e com ele, eu tinha tido grandes conversas.

***

 Baleal, para mim, uma das zonas mais bonitas da cidade. O mar estava calmo embora a sua brisa fosse fria, devido às temperaturas baixas e já características da atual estação. Hoje, o sol brilhava, mas não o suficiente para que a temperatura atmosférica subisse acima dos 16ºC. As rochas ganharam uma tonalidade avermelhada e o mar disfrutava de diversas tonalidades de azul. Sentei-me na areia fria, encolhi as pernas de modo a que a cara encaixasse nos joelhos. Não precisava de falar, o mar lia-me os pensamentos.

 «Joana... O que se passa com a Joana? Será que ela tem razão acerca do Ruben?»

 O mar agitou-se.

 «Não, não pode ser. Ela nem o conhece. Ele pareceu-me uma pessoa verdadeira. Lá porque não tive nenhum namorado desde que vim para Lisboa não quer dizer que seja uma parva nesse campo. Aliás, nós somos apenas conhecidos, eu nunca iria oferecer-me a alguém que não conhecia.»

 Deixei a mente divagar. Entretanto o sol preparava-se para se juntar ao horizonte e a temperatura baixara significativamente. Estava na hora de regressar.

***

 Um banho quente seria a solução ideal para recuperar da tarde passada ao frio.

 Já não tinha a mínima intenção de sair de casa, vesti o pijama, liguei o portátil e disfrutei do poder que a Internet nos dava hoje em dia.

 O tempo passou a correr, só tive essa noção quando alguém começou a bater à porta.

 - O que é que vocês tão aqui a fazer?

 - Oh Madalena, sinceramente, temos de apoiar o nosso Benfas! – Maria falava enquanto Sofia estava carregada com uma pizza familiar e latas de sumo.

 - Nosso nada, o vosso Benfas, por que meu é o Sporting!

 - Fofinha, deixa de ser lagarta. – Maria fazia beicinho, embora soubesse que ela estava a brincar.

 - Mas hoje jogam é?

 - O quê? O Ruben não te disse? Jogam hoje com o Nacional para a Taça.

 - Ah. – O jogo. Como é que não me lembrei? O Ruben hoje tinha jogo na Madeira, era normal que não me dissesse nada! Esperava, muito sinceramente, que essa fosse a verdade.

 Entraram e instalaram-se na sala de estar em frente ao grande ecrã. Juntei-me a elas depois de ir buscar guardanapos à cozinha senão quando o jogo acabava teria de fazer com que limpassem a casa.

 O jogo estava a decorrer, e claro, como verdadeira lagarta, adorava ver o Benfica a perder.

 - Bolas rapariga, nem com o Ruben na equipa és capaz de ser gentil…

 - Sofiazinha, nem que tivesse lá o Ronaldo!

 Ainda o jogo não tinha acabado e já aquela enorme pizza tinha desaparecido. Agora a reação da Joana ainda me parecia mais surreal. Poderia ser só mera preocupação, certo?

 O jogo acabou, o Benfica tinha sido eliminado da Taça por perder este jogo por 2-1. Não tive vontade para gozar com elas. Já à porta, despedimo-nos e Sofia disse:

 - A Joana vai cair em si e perceber que agiu mal contigo.

 - Esperemos que sim… - Neste momento era o que eu mais queria.



Espero que gostem!
Beijinhos, Jéssica.

1 comentário:

  1. Eu sempre te disse que escrevias bem não foi? Ainda bem que me ouviste.
    Publica mais coração, a história tá a ficar linda.

    Beijinho * AC

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