(Ruben)
Havia, neste
momento, coisas e pessoas das quais eu não queria abdicar em troca de jogar num
clube estrangeiro. O mercado de transferência abria dentro de um ou no máximo
dois meses. Faltava pouco e tinha decisões a tomar sobre a minha vida.
- Posso-te pedir
uma coisa?
- O quê? –
Perguntei curioso.
- Segue o teu
coração. Não te vais arrepender.
O que a
Madalena tinha acabado de me dizer levaram-me a pensar: «Como é que ela sabe o
que o meu coração quer?», «Não me vou arrepender».
- Seguir o meu
coração. Então… será que… posso… - dizia enquanto me aproximava dela. Neste
momento era o que o meu coração queria. Beijá-la. A própria tinha-me dito para
o seguir.
Fixei os seus
lábios, estava nervoso. Ela estava imóvel, não me ia afastar nem esbofetear,
pelo menos por agora. Uni os nossos lábios, ainda não tinha dado início ao
beijo, esperava uma reação dela. Até um simples encosto de lábios gritava o seu
nome. Ela era única, vestia-se de maneira única, falava como mais ninguém, o
próprio conteúdo das conversas era característico dela. O meu gesto foi
correspondido. As nossas bocas movimentavam-se aumentando o desejo. Senti a sua
mão pousar na minha nuca, entendi isso como um sinal de correspondência e
intensifiquei o beijo.
- Ruben. –
Chamou-me. Eu não podia permitir que este momento acabasse já, ainda era
demasiado cedo. – Ruben… pára!
Afastei-me dela
e olhei-a nos olhos.
- Mas… porquê?
- Porque isto é
um erro. – Estava arrependida, não percebi porquê. Eu seguira o meu coração tal
como ela me aconselhou, mas provavelmente o seu coração não tinha os mesmos
desejos do meu.
- Tu queres
tanto quanto eu!
- O problema é
mesmo esse. Tu vais-te embora, não podemos ter nada mais para além de uma
amizade.
- Madalena… -
Tentei beijá-la. Queria mostrar-lhe que o que dizia não fazia sentido. Eu podia
não ir para fora, a última palavra seria sempre a minha.
- Por favor,
pára. – Pediu-me. Desisti.
- Tu não queres
porque eu posso ir embora?
- Sim. Quer
dizer, mais ou menos.
- Em que
ficamos?
- Eu não quero
sofrer quando te fores embora. Eu não quero aproximar-me demasiado de ti para
depois nunca mais te ver. – Compreendia-a. Tal como ela queria deixar-me viver
o meu sonho, eu não lhe podia pedir para que esperasse por mim ou para vir
comigo. Também eu a deixaria viver a sua vida.
- Eu posso não
ir a lado algum…
- Mas até ao
último minuto do mercado de transferências eu não quero ser uma das razões pela
qual não realizes o teu sonho. – Madalena saiu do carro. Será que ela nunca
mais voltaria a querer estar comigo?
- Madalena. –
Gritei-lhe, pois já estava um pouco longe para que num tom normal fosse
totalmente audível. – E até lá, podemos ser… amigos?
- Amigos.
Claro, amigos.
***
Cheguei a casa
no instante em que o telefone fixo começou a tocar.
- Manz, onde
meteu seu celular?
- Acho que… -
Procurei nos bolsos das calças e do casaco, nada. – Acho que o deixei no carro…
- Tentei ligar
a cê montes de vezes e nada. Quer ir ao Bowling?
- David, hoje
não.
- Não? E um
joguinho de PES em sua casa?
- Não mano,
hoje não.
- Ué? Como não?
Cê tá bem?
- Sim, estou
bem.
- Não minta
aqui pró Davi’.
- Eu não estou
a mentir.
- Cê hoje não é
mais o Ruben. Eu vou aí agora, tô querendo saber tudo.
«Tô querendo
saber tudo», que chato!
David não
demorou muito a chegar. Convidei-o a entrar e sentámo-nos no sofá da sala. Não
sabia por onde começar, aliás, nem sabia ao certo o que se tinha passado. As
palavras da Madalena não saiam da minha cabeça: “Segue o teu coração”.
Relatei tudo o
que se tinha passado naquela tarde, desde a nossa conversa sobre o meu possível
futuro fora dos limites nacionais, até ao beijo. David era um bom amigo,
ouviu-me até ao fim, com toda a atenção e interesse, sem nunca me interromper.
- Essa menina
bateu forte, né?
- É. E percebi
que seguir o coração é má ideia…
- Não é não
cara. Seguir sempre o coração. A menina só não quer sofrer se cê for embora.
Olhe eu e a Carolina, com a distância não deu mais.
- Eu sei David,
mas eu ainda não sei se vou. O mercado ainda não abriu e o meu contrato só
acaba em Junho de 2013.
- Cê já não tem
a certeza se quer ir?
- Eu gostava de
ir, mas não quero deixar tudo para trás, a família, os amigos…
- A menina. Cê
escolheu uma profissão que não escolhe cidade.
- E agora?
- E agora? Cê
não sabe o que fazer?
- Não.
- Ruben segue
seu coração.
(Madalena)
Vi o carro de
Ruben desaparecer ao fundo da rua. Tarde demais para arrependimentos, Joana não
tardaria a chegar e ainda não tinha começado a preparar o jantar. Subi as
escadas, entrei em casa e dirigi-me à cozinha. O jantar seria a famosa ‘Massa
do Estudante’, um prato rápido e delicioso. Quando Joana chegou já o jantar
estava no forno.
«Mesmo a tempo»
Abri-lhe a
porta, e enquanto acabava de preparar o jantar Joana arrumou a mesa. Nenhuma de
nós tinha coragem de ser a primeira a falar do assunto que nos tinha juntado
nesta noite.
- Desculpa. –
Disse Joana a meio do jantar. – Desculpa, não devia ter-te dito aquelas coisas.
- Não peças
desculpa, tiveste as tuas razões para fazê-lo, só não entendo o porquê.
- És demasiado
boa pessoa. Tive medo por ti, tive medo que ele te fizesse alguma coisa e que
tu saísses magoada.
- Foi só isso?
- Não. –
Suspirou. - Sabes, há algum tempo, antes de vires para cá, eu tive um namorado,
estivemos juntos cerca de seis meses. Era jogador de futebol, não de nenhuma
equipa grande, nunca foi suficientemente bom para ser contratado por clube
algum. Naquela altura jogava nos juniores da União Desportiva Alta de Lisboa. A
intenção dele comigo era igual à de muitos, comer e deitar fora. Quando ele
acabou comigo teve a coragem de dizer que só tinha estado todo aquele tempo
comigo pelo sexo. Acho que sempre pensei que seriam todos iguais.
- Mas…
- Deixa-me
acabar, eu não conheço o Ruben, mas agora sei que nem todos os homens,
independentemente da profissão, são iguais ao Rafael.
Por instantes
permanecemos em silêncio. Todos julgamos as pessoas demasiado cedo, ou mesmo
antes de as conhecermos.
- Que carinha é
essa?
- Hoje o Ruben
beijou-me.
- O quê?
Beijou-te?
- Estávamos a
falar da possível saída dele do Benfica no próximo mês. Disse-lhe que as
grandes decisões são tomadas com o coração, e beijou-me.
- Tu bateste no
rapaz?
- Não, estás
louca?
- Não? Então…
saíste disparada sem dares tempo de ele se explicar?
- Nada disso…
- Só encontro
uma explicação, ficaste apanhada. A Madalena que eu conheço é inatingível à
maioria dos homens.
- À maioria… -
Eu não era inatingível como Joana acabara de dizer, apenas não andava à
procura. Desde que aqui chegara nenhum homem me tinha despertado atenção, isso
era o suficiente para me dedicar a outras coisas importantes. - Eu não quero
sair magoada quando ele for embora.
- Então
ficaram…
- Amigos. –
Rematei. – Acho que é isso.
- Amigos. – Confirmou. – Até quando? – Sussurrou para
si, embora alto o suficiente para que eu pudesse, com dificuldade, ouvir.
Olaaaaaaaaaa
ResponderEliminarADOREIIII :D
BEIJINHOS