domingo, 11 de dezembro de 2011

9º Capítulo: Longe da vista...

 Não voltei a ver Ruben, apesar de que, sempre que o seu horário de trabalho permitia, ele convidava-me para um programa a dois, ou um jogo de Bowling, um filme, um passeio. E eu respondia sempre que não podia. Em parte era verdade, as frequências tinham começado, havia montes de livros para ler e matéria para saber. Por outro lado, em mim, a lógica e a razão tornavam-se a sobrepor-se à vontade. Como é que poderia dar certo se nós eramos quase opostos? A idade, a condição social, os projetos para o futuro, tudo isto me impedia de deixar um pouco de lado a rotina e aceitar as suas propostas. Havia vezes em que estava cansada de estudar, nesses momentos não tinha nada para fazer, limitava-me a mudar constantemente de canal, na televisão, ou a explorar o mundo virtual.

 Maria, Joana e Sofia, estavam na mesma condição, embora que com diferenças. Passavam grande parte do dia com a cabeça enterrada numa pilha de folhas, mas nas horas de pausa tinham companhia. Todas viviam com as suas famílias, nunca se encontravam em casa sozinhas pois os irmãos mais novos já estavam de férias.

 «Só não tens porque não queres!», respondia-me a minha mente.



***


(Ruben)

 Mais um dia de treinos chegou ao fim. David ia ter com a namorada, matar saudades, não era o único, os restantes tinham o mesmo programa. Escrevi mais uma mensagem para a Madalena, embora não a tenha chegado a enviar. Sabia a resposta, mais uma vez iria recusar.

 - Manz, isso aí é tudo pressa p´ra ir embora? – Disse David irónico.

 Todos os meus colegas já estavam a sair do balneário, eu era o único que ainda estava equipado. Acabei por apagar a mensagem escrita, agarrei nos produtos necessários, fui para o duche.

 Decidi ir ter com a minha mãe, a esta hora ela ainda estava no SPA.


***


 - Olá mulher mais bonita do mundo. – Disse ao ouvido da minha mãe, assustando-a.

 - Ai, meu filho! O que é que estás a fazer aqui a esta hora?

 - Vim agora do Seixal, não me apetecia ir para casa.

 - Ruben, Ruben. Está na altura de arranjares uma namorada.

 - Se ela me quisesse…

 - Ela? – Perguntou curiosa. Eu ainda não lhe tinha falado da Madalena. – Quem é ela?

 - Ela chama-se Madalena, é a mulher mais espetacular de sempre. – Disse com um sorriso nos lábios.

 - E eu a pensar que a mulher mais espetacular de sempre era eu. – Brincou a minha mãe. – Senta-te aqui e fala-me dela.

 Fiz o que ela me pediu. Sentei-me e falei-lhe da mulher que ultimamente não saía da minha cabeça. Entre nós havia grande cumplicidade, não tinha problemas em contar o que quer que fosse à dona Bela.

 - E posso saber porque é que não estás com ela agora? – A minha progenitora era perspicaz.

 - Acho que ela não quer estar comigo... – Entristeci.

 - Não quer?

 - Tento, sempre que posso, combinar alguma coisa com ela mas recusa sempre. Diz que é por causa da universidade…

 - E pode ser…

 - Mãe, ninguém estuda durante dias seguidos sem fazer uma única pausa.

 - Talvez devas passar pela casa dela. Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé.

 - Parece fácil.

 - Meu filho, as férias estão a começar, ela vai ter de deixar os livros, o Natal já está tão próximo.

 - É, e não tarda nada volta para a terra dos pais.

 - Ruben, se é ela que queres, luta.

 - Lutar para quê? Para no próximo mês poder ser transferido e ter de a deixar?

 - Não te estou a reconhecer. O meu filho nunca desiste antes de tentar.

 - E se não houver nada para tentar?

 - Há sempre meu amor, há sempre. – Deu-me um abraço que só uma mãe sabe dar. Um abraço que transmitia conforto e segurança, que me fazia sentir criança novamente.

 «É ela que eu quero», disto tinha eu a certeza.


***


(Madalena)

 Amanhã realizava a última frequência do semestre. Era hora de começar a fazer as malas, pois logo que a prova estivesse realizada ia de encontro ao meu Alentejo.

 Abri duas malas de viagem, uma grande para a roupa e outra mais pequena para os sapatos. No interior, o inverno era mais rigoroso. Embora só pudesse permanecer na minha terra durante uma semana, (teria de voltar para poder passar a Passagem de Ano tal como já combinara), sabia que ia levar roupa para um mês.

 Tirava quase todas as peças do roupeiro e amontoava-as em cima da cama, quando bateram à porta.

 - Ruben. – Disse ao abrir a porta. – Não sabia que vinhas. – Com um gesto convidei-o a entrar.

 - Se dissesse tu ias dizer que estavas a estudar…

 - Isso não é verdade. Nestes últimos dias tenho andado ocupada. – Desculpei-me.

 - E agora estás ocupada?

 - Na verdade, estou um bocadinho. – Disse olhando para o meu quarto, Ruben seguiu-me o olhar. – Estou a fazer as malas, amanhã vou para baixo.

 - Amanhã?

 - Sim, assim que acabar a frequência.

 - Acho que me resta desejar-te um bom ano.

 - Ruben… - Chamei, a sua cara demonstrava uma certa desilusão.

 Beijou-me a face, mostrou-me um sorriso forçado e saiu, fechando a porta atrás de si.

 - Ruben! – Gritei abrindo a porta novamente.

 Olhou para trás no momento em que as portas do elevador se abriram. Corri para ele, abracei-o. Um abraço forte, correspondido. Um abraço que gritava de saudade.

 «Longe da vista… perto do coração»

 - Janta comigo.

 - Eu não te quero atrapalhar. Tens imensa coisa para fazer.

 - Por favor. – Fiz cara de menina. Ruben sorriu.

 - Tive saudades tuas Madalena. – Confessou puxando-me para ele.

 Ficámos a poucos centímetros de distância. “Tive saudades tuas”, como era bom ouvir aquilo.

1 comentário:

  1. Já que a menina vai passar a noite de natal comigo pode levar os seus capitulos para eu ler. Eu é que te incentivei eu é que tenho de ser recompensada :P

    Tá lindo querida

    ResponderEliminar