Não voltei a
ver Ruben, apesar de que, sempre que o seu horário de trabalho permitia, ele
convidava-me para um programa a dois, ou um jogo de Bowling, um filme, um
passeio. E eu respondia sempre que não podia. Em parte era verdade, as
frequências tinham começado, havia montes de livros para ler e matéria para saber.
Por outro lado, em mim, a lógica e a razão tornavam-se a sobrepor-se à vontade.
Como é que poderia dar certo se nós eramos quase opostos? A idade, a condição
social, os projetos para o futuro, tudo isto me impedia de deixar um pouco de
lado a rotina e aceitar as suas propostas. Havia vezes em que estava cansada de
estudar, nesses momentos não tinha nada para fazer, limitava-me a mudar
constantemente de canal, na televisão, ou a explorar o mundo virtual.
Maria, Joana e
Sofia, estavam na mesma condição, embora que com diferenças. Passavam grande
parte do dia com a cabeça enterrada numa pilha de folhas, mas nas horas de
pausa tinham companhia. Todas viviam com as suas famílias, nunca se encontravam
em casa sozinhas pois os irmãos mais novos já estavam de férias.
«Só não tens porque não queres!», respondia-me
a minha mente.
***
(Ruben)
Mais um dia de
treinos chegou ao fim. David ia ter com a namorada, matar saudades, não era o
único, os restantes tinham o mesmo programa. Escrevi mais uma mensagem para a
Madalena, embora não a tenha chegado a enviar. Sabia a resposta, mais uma vez
iria recusar.
- Manz, isso aí
é tudo pressa p´ra ir embora? – Disse David irónico.
Todos os meus
colegas já estavam a sair do balneário, eu era o único que ainda estava equipado.
Acabei por apagar a mensagem escrita, agarrei nos produtos necessários, fui
para o duche.
Decidi ir ter
com a minha mãe, a esta hora ela ainda estava no SPA.
***
- Olá mulher
mais bonita do mundo. – Disse ao ouvido da minha mãe, assustando-a.
- Ai, meu
filho! O que é que estás a fazer aqui a esta hora?
- Vim agora do
Seixal, não me apetecia ir para casa.
- Ruben, Ruben.
Está na altura de arranjares uma namorada.
- Se ela me
quisesse…
- Ela? –
Perguntou curiosa. Eu ainda não lhe tinha falado da Madalena. – Quem é ela?
- Ela chama-se
Madalena, é a mulher mais espetacular de sempre. – Disse com um sorriso nos
lábios.
- E eu a pensar
que a mulher mais espetacular de sempre era eu. – Brincou a minha mãe. –
Senta-te aqui e fala-me dela.
Fiz o que ela me
pediu. Sentei-me e falei-lhe da mulher que ultimamente não saía da minha
cabeça. Entre nós havia grande cumplicidade, não tinha problemas em contar o
que quer que fosse à dona Bela.
- E posso saber
porque é que não estás com ela agora? – A minha progenitora era perspicaz.
- Acho que ela
não quer estar comigo... – Entristeci.
- Não quer?
- Tento, sempre
que posso, combinar alguma coisa com ela mas recusa sempre. Diz que é por causa
da universidade…
- E pode ser…
- Mãe, ninguém
estuda durante dias seguidos sem fazer uma única pausa.
- Talvez devas
passar pela casa dela. Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé.
- Parece fácil.
- Meu filho, as
férias estão a começar, ela vai ter de deixar os livros, o Natal já está tão
próximo.
- É, e não
tarda nada volta para a terra dos pais.
- Ruben, se é
ela que queres, luta.
- Lutar para
quê? Para no próximo mês poder ser transferido e ter de a deixar?
- Não te estou
a reconhecer. O meu filho nunca desiste antes de tentar.
- E se não
houver nada para tentar?
- Há sempre meu
amor, há sempre. – Deu-me um abraço que só uma mãe sabe dar. Um abraço que
transmitia conforto e segurança, que me fazia sentir criança novamente.
«É ela que eu
quero», disto tinha eu a certeza.
***
(Madalena)
Amanhã
realizava a última frequência do semestre. Era hora de começar a fazer as
malas, pois logo que a prova estivesse realizada ia de encontro ao meu
Alentejo.
Abri duas malas
de viagem, uma grande para a roupa e outra mais pequena para os sapatos. No
interior, o inverno era mais rigoroso. Embora só pudesse permanecer na minha
terra durante uma semana, (teria de voltar para poder passar a Passagem de Ano
tal como já combinara), sabia que ia levar roupa para um mês.
Tirava quase
todas as peças do roupeiro e amontoava-as em cima da cama, quando bateram à
porta.
- Ruben. –
Disse ao abrir a porta. – Não sabia que vinhas. – Com um gesto convidei-o a
entrar.
- Se dissesse
tu ias dizer que estavas a estudar…
- Isso não é
verdade. Nestes últimos dias tenho andado ocupada. – Desculpei-me.
- E agora estás
ocupada?
- Na verdade,
estou um bocadinho. – Disse olhando para o meu quarto, Ruben seguiu-me o olhar.
– Estou a fazer as malas, amanhã vou para baixo.
- Amanhã?
- Sim, assim
que acabar a frequência.
- Acho que me
resta desejar-te um bom ano.
- Ruben… -
Chamei, a sua cara demonstrava uma certa desilusão.
Beijou-me a
face, mostrou-me um sorriso forçado e saiu, fechando a porta atrás de si.
- Ruben! –
Gritei abrindo a porta novamente.
Olhou para trás
no momento em que as portas do elevador se abriram. Corri para ele, abracei-o.
Um abraço forte, correspondido. Um abraço que gritava de saudade.
«Longe da
vista… perto do coração»
- Janta comigo.
- Eu não te
quero atrapalhar. Tens imensa coisa para fazer.
- Por favor. –
Fiz cara de menina. Ruben sorriu.
- Tive saudades
tuas Madalena. – Confessou puxando-me para ele.
Ficámos a
poucos centímetros de distância. “Tive saudades tuas”, como era bom ouvir
aquilo.
Já que a menina vai passar a noite de natal comigo pode levar os seus capitulos para eu ler. Eu é que te incentivei eu é que tenho de ser recompensada :P
ResponderEliminarTá lindo querida