Percebi que
Maria tinha toda a razão quando me permiti olhar nos olhos de Ruben por
escassos segundos. Desde que a nossa amizade passou a ser algo mais do que isso
mesmo, uma amizade normal, que eu nem dera oportunidade a Ruben de se exprimir,
impus regras que agora me pareciam ridículas, embora soubesse que mais tarde
voltariam a fazer sentido.
A conversa
fluía normal e agradavelmente, embora na maioria das vezes ficasse ausente do
conteúdo da conversa, por vezes os meus pensamentos dominavam-me e
transportavam-me para longe, para o futuro, para uma conversa que teria de ser
realizada quanto antes, embora a minha vontade fosse retardar o momento mais um
pouco.
O futebol foi o
grande tema, ia contra os instintos daquelas minhas amigas ter um jogador do
clube de eleição e não falar sobre ele, sobre ele e sobre o David Luíz, visto
que era o melhor amigo de Ruben e o ídolo de Maria, Joana e de Sofia, que não
estava presente. Uma das coisas que tinha aprendido desde que conhecera Ruben
era que as nossas conversas não podiam incluir o tema futebol, clubes
diferentes, aliás, rivais, amores diferentes, nunca iriam acabar da melhor
maneira, pois tal como ele, eu também defendia o meu clube com toda a garra.
Agora que este
pequeno encontro, para lanchar, tinha terminado, o medo invadiu-me, em breves
instantes estaria sozinha com Ruben, dentro do seu carro. Maria e Joana
despediam-se de nós, com Maria era mais do que uma despedida, o seu olhar fixou
o meu e, fruto de uma enorme cumplicidade, transmitiu-me um aviso. Sem que os
restantes se apercebessem, o olhar de Maria implorava-me para que tivesse
cuidado com as palavras que iria utilizar, alertava-me para que não fizesse
nenhuma asneira que mais tarde me iria arrepender e, acima de tudo,
transmitia-me força.
Ainda de pé,
vimos o carro de Joana contornar a rotunda e, em seguida, desapareceu. Sem que
nenhum pronunciasse qualquer palavra, ocupámos os respetivos lugares no carro
de Ruben e saímos dali. Ruben conduzia na direção oposta à sua casa e, também,
à minha, o silêncio dominava-nos. Provavelmente teria magoado Ruben ao agir
daquela maneira quando tocou no assunto e também por não ter estado muito
interessada na conversa, o que fez com que eu ficasse um pouco ausente. Estava
na altura.
Preparava,
mentalmente, discursos para poder ter aquela conversa com Ruben, quando senti
que o carro parara. Olhei em redor, não fazia a mínima ideia onde me
encontrava, mas aquele de certeza que não era o destino que Ruben escolhera
quando envergou por este caminho. Tudo o que via eram prédios altos e nós,
dentro do carro estacionado ao pé de muitos outros.
- Madalena. –
Chamou-me. – Eu não devia…
- Na verdade,
devias. – Interrompi. – Devias tê-lo feito, pelo menos, há horas atrás. Eu
nunca te ouvi, peço desculpa por isso e por só ter percebido agora.
- Mas eu
entendo o teu lado.
- E eu não sei
qual é o teu.
- Nada depende
de mim. Madalena, já te tinha dito e volto a dizer, eu sinto qualquer coisa por
ti e não é uma paixoneta de miúdo, acredita. Quero ficar ao teu lado, só não
sei é até quando posso ficar… - Pegou-me na mão que até agora estava pousada na
minha perna.
- Era tudo tão
mais fácil se…
- Se?
- Se… Nunca te
tivesse conhecido.
- É isso que
queres? Que me afaste de ti? – Ruben estava triste, e isso notou-se na sua voz,
ao pensar que era isto que eu poderia querer.
- Não, não
quero. – Tremi só de pensar na ideia de nunca mais voltar a ver aquela pessoa
que se encontrava ao meu lado, aquela pessoa que já me era tanto.
- Eu sempre
arrisquei tudo e, no geral, as coisas até me saíram bem. Tu pediste para
esperar e é mesmo isso que eu vou fazer. – Ruben estava decidido, mas como é
que lhe podia pedir para ir contra os seus princípios, até porque era isso
mesmo que eu tinha feito até agora.
- Não. Eu não
te posso pedir isso.
- Já pediste e
eu já aceitei. É a melhor das hipóteses.
- Hipóteses lançadas
por mim…
- Tu escolheste
o que era melhor para ti. – Ruben estava a ser extremamente compreensível, eu
não queria isto. Todas as minhas atitudes, pedidos, tinham a intenção de
atenuar a dor que ambos viríamos a sentir quando nos separássemos.
- Para nós,
Ruben, eu escolhi porque me pareceu o melhor para ti e para mim.
- Então fizeste
uma escolha que me envolve sem saberes o que eu quero para o meu futuro?
- É isso que te
ando a tentar dizer.
Ruben
permaneceu calado por alguns instantes, de alguma forma ponderava sobre o meu
erro que, na minha cabeça, ainda continuava a fazer sentido. Mas ele tinha
razão, eu não podia tomar uma decisão sem o consultar. Agora estava nas suas
mãos.
- Eu continuo a
fazer a mesma escolha.
- Mas eu não
quero que faças essa escolha. Se arriscas sempre tudo porquê parar agora?
- Mas que raio
queres tu? Queres que te diga que não quero esperar por ti? Queres que me
afaste já que não te posso obrigar a ficar comigo?
- Estou à
espera que faças isso desde o início… Quero que penses e escolhas só a pensar
em ti.
- Então eu
espero, mas não irei fazê-lo para sempre. Espero porque sei que mais uns dias e
irei ter-te, na minha vida, como eu quero.
- Mas tu podes
ir embora…
- Madalena,
porque é que tu fazes as conversas chegarem sempre ao mesmo ponto? – Ia
responder, não sei bem o quê, quando Ruben retirou do banco de trás um jornal
com alguns dias. – Toma, lê.
Li o pequeno
título que Ruben me indicara e a esperança voltou a nascer em mim.
Vieira segura Ruben Amorim
Luís Felipe
Vieira e Ruben Amorim reuniram antes do Natal e o presidente do Benfica não
está recetivo a deixar sair o internacional português para o Génova de Itália,
apurou o CM.
Fonte revelou
ao CM que o líder dos encarnados ouviu os argumentos do médio, que gostaria de
ser mais utilizado em ano de Campeonato da Europa (2012), mas também fez ver ao
atleta que ele faz parte do projeto e é um jogador à Benfica, pelo carisma,
sentido de responsabilidade e pela forma como é bem encarado pelos companheiros.
Ruben Amorim é um dos capitães do clube.
O Génova
pretende comprar a totalidade do passe de Ruben Amorim, mas a presença do
jogador na Luz é tida como essencial por Luíz Filipe Vieira e também pelo
treinador Jorge Jesus para atacar o título de campeão nacional.
Fonte contactada
disse ao CM que o presidente do Benfica sente grande carinho por Amorim, um
jogador que se sacrifica pelo clube e que já passou por momentos difíceis – na
época passada esteve largo tempo lesionado e não pôde dar o contributo à equipa,
um dos fatores apontados internamente como causa para a época menos conseguida
das águias.
A relação de
Amorim com Jesus e Vieira é muito boa e só os poucos minutos de jogo estão
abaixo das expetativas do futebolista, que deixou perceber a insatisfação num
estágio da seleção nacional a 3 de Outubro, antes dos jogos frente à Islândia e
Dinamarca, de apuramento para o Campeonato da Europa de 2012. “É uma opção do
míster Jorge Jesus achar que não devo jogar no Benfica. Fico feliz por Paulo
Bento pensar de outra forma”, disse o jogador, de 26 anos, que tem contrato até
Junho de 2013 e uma cláusula de rescisão de 20 milhões de euros.
Sabia o que aquilo significava, mas mesmo assim, só quando tivesse a
certeza que Ruben ficaria em Portugal me sentiria segura, feliz. Estava a ser
egoísta, supostamente deveria querer o melhor para ele, mas não conseguia
deixar de pensar em mim também. Mas a notícia que acabara de ler não
significava só meio caminho para Ruben ficar, senti-me também orgulhosa dele.
Li e reli a notícia à procura de alguma palavra que mudasse todo o
sentido que esta parecia tomar. Nada, tudo estava bem explícito. Por fim,
fechei o jornal e voltei a dobrá-lo ao meio, devolvi-o a Ruben, que esperava
que eu dissesse alguma coisa.
- Não vais mesmo?
- Madalena, não sei… - Olhou-me como se se preparasse para me dar uma má
notícia. – Aconteceu uma coisa durante o primeiro treino e estou suspenso, com
um processo disciplinar…
Eu leio jornais, por isso sabia exatamente o que tinha acontecido.
Também sabia as consequências que, a sua atitude errada, traria: o aceleramento
do processo de saída do clube encarnado.
- Eu tenho uma pequena ideia do que aconteceu. – Sentia-me um pouco
enganada. Era óbvio que Ruben sabia as consequências que viriam, no entanto,
não me tinha dito nada.
- Tu já sabias?
- Já. E também sei que te queres ir embora, mais do que tudo.
- Isso não é verdade.
- Não? Esperei, muito sinceramente, que fosse uma verdade torcida, que
não tivesse sido tão grave como agora sei que foi… - Poder-me-ia arrepender do
que ia fazer para o resto da minha vida, tudo o que Ruben me dissera até hoje
me parecia um eufemismo. – Leva-me a casa, por favor.
- Madalena…
- Ruben, por favor.
O carro voltou a funcionar, abandonámos o estacionamento que tinha sido
palco de meias verdades, meias mentiras, meias decisões. O percurso até minha
casa foi feito mais uma vez em silêncio, embora que, desta vez, estivesse grata.
Por vezes, sentia os olhos de Ruben postos em mim, mas eu não me permiti olhar
para ele uma única vez e, teatralmente, apreciava a paisagem que se desdobrava
à minha frente. Finalmente senti este aperto um pouco mais aliviado quando
avistei aquela que tinha sido a minha casa por dois anos e, seria por mais qu0anto
tempo eu permanecesse em Lisboa. Este aperto diminuía, mas outro depressa
crescia, a decisão em função das ações de Ruben estava tomada. Parou,
finalmente, o carro em frente da porta do prédio.
- Queres que suba contigo? – Ruben quebrou o silêncio quanto eu me
preparava para sair.
- Não. – Respondi bruscamente.
- Já percebi. Então, é isto que tu queres?
«Meu Deus, eu vou-me arrepender tanto disto!», pensei, com toda a
certeza.
- Não, foi isto que tu provocaste. – Sentia-me magoada, e queria
magoá-lo também. Queria poder dizer-lhe que a culpa era toda sua, das suas
mentiras, ou omissões da verdade, de ter aparecido na minha vida no momento em
que não precisava de ninguém. Ao contrário da minha vontade, fiquei calada. –
Adeus, Ruben.
Entrei rapidamente, sem olhar para trás. Num instante, as palavras que
Joana me dissera um dia começaram a fazer sentido, por essas palavras nós
tínhamos discutido, ela tinha-me magoado. Mas e se ela tivesse parte da razão?
Subi, a correr, as escadas até chegar ao meu andar, o elevador era
demasiado lento, desejava chegar a casa o mais rápido possível. As mãos
tremiam, a chave não queria entrar na fechadura para abrir a porta. Respirei
fundo, repetidamente, com calma abri a porta, calma essa que se evaporou quando
atrás de mim deixava a mala caída no chão e fechava a porta com demasiada
força. Em largas passadas, cheguei à sala de estar, esta ainda apresentava
vestígios da passagem de Ruben, levei o cobertor para a arrecadação e arrumei
as almofadas, alcancei o telefone e marquei um número bem conhecido.
Oieee
ResponderEliminarTens de os juntar :P ADOREII
beijinhos
Interessante capítulo. Parabéns :)
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